Os dedos digitavam rápidos sobre o teclado do notebook. Era um trabalho no qual ele já estava acostumado, afinal. Trabalhar com traduções era legal, tinha sido uma atividade recorrente desde que voltou do Brasil e aprendeu o português tão bem. Além disso exercitava a língua e ajudava a não esquecer tudo que aprendeu junto de Pedro. Mas trabalhar não era exatamente a mesma coisa que traduzir por vontade e esporadicamente, ainda mais na situação na qual precisou fazer isso.
Hinata não achava de todo mal, já que ganhava uma quantidade generosa para cada tradução que fazia, o que lhe proporcionava uma vida boa ao lado do namorado, mas era tão humilhante. Cada vez que abria o notebook e via mais um dos livros que deveria traduzir do português para o japonês, seu corpo desanimava automaticamente, fazendo com que até mesmo enrolasse em algumas páginas.
Acontece que não era ali o lugar que queria estar. Queria estar jogando o seu tão precioso vôlei e não parado e sentado em uma cadeira o dia todo. Era enfadonho e já não aguentava mais.
Mas infelizmente, não era assim que as coisas funcionavam e ele sabia bem.
Há um ano atrás quando voltou do país tropical, Hinata estava no seu auge da carreira. Havia jogado contra Kageyama e ganhado, jogou no time oficial do Japão nas Olimpíadas, seu relacionamento com Tobio tinha se acertado, engatando no namoro que tinham agora. Entretanto, do mesmo jeito que ele subiu na carreira, ele desceu.
Se Hinata estivesse escutado que um dia iria sofrer um acidente e quebraria a mão, impedindo que ele jogasse vôlei para sempre, ele provavelmente teria rido da brincadeira e ido numa benzedeira apenas por precaução.
Mas ele não foi, e infelizmente isso aconteceu.
O acidente aconteceu logo quando Kageyama e ele completaram o sexto mês em que estavam morando juntos, e na data da ocasião, acabaram por marcar um encontro em um restaurante. Saíram de carro juntos, com Tobio dirigindo e ele no banco do carona. Estavam rindo e brincando um com o outro como costumavam fazer, até mesmo as briguinhas infantis permaneciam no clima de romantismo de forma amena. Como se quisessem relembrar de como o relacionamento havia começado.
Pararam em um semáforo, e foi ali que o maldito acidente aconteceu. Um carro acabou passando o sinal vermelho. Não estava em alta velocidade, mas a força com que bateu na lateral em que Hinata estava, foi o suficiente para quebrar a mão que repousava apoio.
A mão se quebrou, foi operada, mas nunca voltou a ser a mesma.
O ruivo ainda se lembrava da dor e do rosto de desespero do namorado. Do choro que teve ao saber pelo médico que não poderia nunca mais forçar a mão em uma partida de vôlei, e que a aposentadoria seria o mais correto.
O que lhe restou foi encerrar a carreira, encontrar um outro emprego para não ficar sem o que fazer, e engordar pela falta de exercício. Não que tenha ficado preguiçoso, isso ele nunca foi, mas a cada vez que olhava a própria mão, ou para os livros que precisava traduzir ou até mesmo quando uma pessoa o olhava com pena, o desânimo o levava.
Sabia bem o que isso era. Estar em um estado depressivo não era nada bom, mas também não tinha muito o que fazer em relação a isso.
Hinata parou para suspirar e se encostou na cadeira. Fitou bem a tela do computador lendo o título de um dos quadrinhos da Turma da Mônica. Era um dos poucos que estava sendo procurado para isso e tinha certo orgulho ter pego para traduzir. Mas apesar disso, seus pensamentos caíram novamente no estado depressivo de sempre.
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You're So Precious | Kagehina
FanfictionHinata achava que não servia e que estava sendo apenas um peso, mas para Kageyama, ele era muito mais do que precioso.