Os raios do sol me acordaram através da grande janela, nem mesmo as cortinas finas de cetim poderiam bloquear tanta luz. Fico maravilhado com a natureza, tanto que nem poderia reclamar, e de fato nem passara pela minha cabeça isso, simplesmente pelo fato de ter sido acordado pelos raios do sol... mesmo que naquele horário.
-Bom dia - Diz Antony passando em um rápido movimento atrás de mim em direção ao banheiro.
- Bom dia- Respondo no mesmo tom ignorante que ele.
Antony parecia ainda estar bravo comigo, ou talvez esteja irritado pelo fato de ter sido acordado pelo sol às fatidigas sete horas da manhã. Mas não há nada que eu possa fazer, sei que agi da forma mais infantil possível, mas não feriria meu orgulho pra pedir desculpas a ele...
-Mateus, daqui trinta minutos vão servir o café da manhã, acho que a cozinha fica aberta até as oito da manhã- Disse Tio Marcos aparecendo sutilmente na porta do quarto semi aberta, seguido de três fracas batidas.
-Okay Tio, vou esperar o Antony- Respondi educadamente.
Ele dá um leve sorriso simpático e sai, enquanto vou em direção a porta do banheiro.
- Antony, tá vivo?? - Pergunto como se nada tivesse acontecido.
- Sim, o que você quer? - Antony responde de forma curta e grossa, num baixo tom de voz.
- Para de frescura Tony, por que você tá assim? Eu sempre te tratei dessa forma. - Disse em tom explicativo e gentil.
- Só que eu cansei! - Diz Antony abrindo a porta com violência e expressão triste.
- Eu cansei da forma que você tá me tratando, e você nunca foi assim... não sei o que tá pegando, mas se for cium--
- QUE????- Respondo em tom alto interrompendo-o de terminar a frase.
- Antony ciúmes de que? Você é paranoico, para com isso cara...
Antony apenas me olha com olhar de desaprovação e vira as costas, voltando então para o banheiro para pegar suas coisas em cima da pia.
- Antony fala comigo- chamo mas sem respostas.
Ele apenas passa por mim como se eu não existisse, indo em direção a porta, na qual ele abre e se depara com a camareira, que com um sorriso robótico no rosto diz:
- Meninos o café está na mesa, vão se servir - Diz a camareira ainda com um sorriso robótico bizarro no rosto, como se não tivesse outra expressão a não ser aquela.
Antony apenas acenou com a cabeça e passou por ela, enquanto eu ia em direção ao banheiro pra lavar o rosto, ainda encabulado com a situação que acabara de ocorrer e meio assustado com a presença estranhamente robótica da camareira.
Com o rosto lavado, saio do banheiro e deixo as coisa na cama e me viro para porta semi aberta, repentinamente congelo ao ver que a camareira continuava imovel com a mesma expressão, com seus olhos fixos nos meus. Me aproximo então lentamente em sua direção, em direção a porta, como se meu cérebro estivesse me fadado a tal ação. Logo quando me aproximo lentamente ela apenas vira e desce as escadas que dão a cozinha e a saída. Consigo ouvir o barulho de seus sapatos pretos com pequenos saltos em colisão ao piso de madeira. Esse som me lembra filmes de terror, e logo toda sensação boa que tinha daquele lugar se esvai , substituindo assim por uma sensação pesada.
Finalmente criei coragem para descer as escadas, e me sento na mesa retangular enorme, na qual cabia vinte pessoas ou mais, aparentemente. Escolho logicamente o lugar ao lado de Antony, para assim contar pra ele essa experiência no mínimo bizarra.
- Antony? Preciso te contar algo - digo em tom de sussurro.
- Olha , não quero saber - retruca ele.
- Mas isso é sério eu preci... - respondo, mas logo interrompido pelo bom dia escandaloso de Luh, que acabara de se juntar a mesa com seus cabelos pretos molhados.
- Bom dia gentee! - diz Luh em um tom suficientemente alto para todos os vinte gatos pingados na mesa ouvirem.
- Bom dia amor - responde Antony com um sorriso forçado, aparentemente triste.
- Bom dia Luh - responde eu e Tio Marcos em quase perfeita sintonia, o que já nos tira de nós uma pequena risada.
- As pessoas daqui são meio estranhas né? - disse Luh em um tom relativamente baixo.
- Como assim, aconteceu algo? - respondo num tom curioso e eufórico, na esperança de Luh tambem ter presenciado algo bizarro.
- Olha em volta Mateus, as pessoas daqui são estranhas, elas se juntam a nós nessa mesa enorme como se todos se conhecessem, como se isso fosse um grande café da manhã familiar. - diz Luh em tom de questionamento e com os olhos quase que fechando.
- Luh, se comporta - responde Tio Marcos quase que escondendo de vergonha, presumindo que alguém poderia ter escutado.
Então nós quatro caimos em um silêncio súbito focados a terminar a primeira refeição do dia. Mas meus olhos passam rapidamente por todos após o questionamento de Luh, isso com certeza me deixou com dúvidas... E percebo algo estranho na qual me incomoda. Uma garota, de aparentemente 16 ou 17 anos me encarava com um sorriso, seus cabelos eram curtos e azuis, com um corte channel que parecia não ter sido hidratado muito bem. É estranho o fato de estarmos nos olhando e ela com esse sorriso igual ao da...
A menina se levanta então, como que com pressa, e ainda me encarando seus olhos encharcam e as lagrimas caem tão rápido que seria quase imperceptível , se não estivessem pingando ao lado de seu prato inacabado. Então a garota vira as costas e sai correndo pela porta de saída. Me levanto sem explicações, justamente para ir atrás da garota, mas no meio do caminho sou surpreendido por alguém, que rapidamente sai de uma porta com uma bandeija cheio de copos da água, e para em minha frente, interrompendo assim que eu vá atrás da garota. Olho então para o rosto dessa pessoa e... É o mesmo sorriso, o mesmo olhar, o mesmo cabelo avermelhado curto e cacheado, é a mesma pele branca como a neve e sua maquiagem fraca. Era a camareira...
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Limpos campos sombrios
Mystery / ThrillerA vida é estranha e misteriosa, é uma caixa cheia de surpresas, cheia de escolhas e cheia de caminhos. Até mesmo uma simples viagem a praia pode acabar em algo que nunca imaginamos. A vida está nos sacaneando, será que podemos sacanear ela?