01 - Livros e livradas

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O sinal bate mais uma vez. Eu arregalo os olhos. Eles batiam o sinal duas vezes para garantir que estejamos na sala de aula no horário correto.

— Não estamos na sala de aula! Não estamos na sala de aula! Não estamos na sala de aula! — eu digo, desesperado, levantando-me do chão.

— Calma! Hã... Como é o seu nome mesmo?

— Sherwin!!!

O Jonathan se levanta também e segura as minhas mãos.

— Sherwin, você precisa se acalmar. — Jonathan diz, e eu o encaro enquanto ele me encara; eu começo a rir.

— O que foi??? — Jonathan entra em pânico.

— Não, é que... — Paro de falar para mais uma gargalhada. — ...você fica muito fofo tentando me acalmar.

— Ah, é? — Jonathan sorri, corando. Nós dois nos encaramos por um tempinho.

— EITA! A AULA! — eu exclamo, colocando as mãos na cabeça. Jonathan e eu damos as mãos e corremos para a sala de aula. A porta estava fechada e nós dois estávamos com medo de abri-la.

É a pior professora do colégio! O que faremos? — Jonathan sussurra.

Sei lá! Não tenho coragem pra bater na porta!

Escutamos passos vindo do fundo do corredor.

OOOOOOI, GENTEEEEE!!! — Alice grita, aproximando-se.

Alice é a amiga doida do Jonathan. Ela é gigante — do tamanho dele —, tem cabelos grandes e cacheados, castanho-escuros. Todos achavam ela a "gostosa do colégio". Vejo os dois grudadinhos desde que comecei a crushar o garoto.

— Oi, Alice! Como você tá? — Jonathan abraça a sua amiga.

— Tô ótima, e você, cabeça de fogo? — Ela se referiu a mim, eu acho.

— O-oi! — Eu aceno enquanto sorrio para ela.

— Não tá tendo aula, não? Por que vocês não tão na sala?

— Eu ia perguntar o mesmo pra você, oras! A bonita também tem aula, que inclusive é na mesma sala que a nossa. — Jonathan dá sermão na sua amiga.

— Fui comprar uma coxinha ali perto e acabei me distraindo com a chuva. Os pingos me fascinam.

— Hum. Não tá chovendo.

— Ai, Jhonny, me deixa viver! — A menina espia pelo vidro da porta da sala. — Credo! É a senhorita Celine! Querem matar aula?

— Pra falar a verdade, eu quero é matar esta professora. — Jonathan faz piada, e nós três rimos.

— Ótima ideia. — diz determinada a Alice.

— Peraí, o quê?! — indago, e meu coração acelera.

— ALICE, ESPERA! EU TAVA BRINCANDO! — Jonathan tenta segurar a sua amiga, mas sem sucesso.

A garota pega vários livros pesados de seu armário e abre a porta da classe, arremessando-os na cabeça e no corpo da professora Celine, derrubando-a no chão e fazendo a sala inteira gritar. Alice entra na sala desfilando com seu decote enquanto Jonathan e eu estamos paralisados na porta. Todos param de gritar e começam a aplaudir a menina.

Como ela consegue? — eu pergunto para Jonathan.

Cara, ela é a menina mais popular daqui. Se ela soltar um peido, todo mundo vai querer sentir. — Eu olho para baixo com nojo disso, enquanto dou risada com o Jonathan.

— Ai, ai... Mais um dia sendo a gostosa do colégio! — ela sorri com as mãos na cintura, olhando para todos os alunos da classe.

A professora Celine se levanta e toda a sala cala a boca:

— MAS O QUE É ISSO AQUI??? — ela grita bem alto, fazendo a escola tremer e a luz da sala pifar.

Jonathan e eu entramos na sala de aula correndo, puxando o braço de Alice para o fundão, e nós três sentamos em carteiras aleatórias, porém próximas umas das outras.

Por pouco, mores! — Alice sussurra. — Acho que ela nem viu.

— QUE FALTA DE RESPEITO! EU VOU EMBORA DAQUI, SEUS ALUNOS MEQUETREFES! — A professora dá um soco na parede, quebrando-a, e se retira da sala pela porta. Ninguém nunca a viu nervosa daquele jeito.

— Gente do céu... — Um guri aleatório da sala fica perplexo com a situação.

Os estudantes começam a guardar seus materiais e saírem da sala.

— Ei, Victor, eu perdi muita coisa hoje? — Jonathan pergunta para o menino que está na carteira em frente a sua, que fazia parte do seu grupinho descolado.

Victor olha para ele bem sério e se levanta, saindo da sala de aula, desconsiderando-o. Alice e eu assistimos à situação. Jonathan fica confuso e triste por ter sido ignorado pelo seu parceiro.

Repentinamente (In a Heartbeat)Onde histórias criam vida. Descubra agora