Capítulo XLIX ● Youngjae

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— Então... quebrou? — Pergunto a enfermeira do acampamento, com medo da resposta e com medo de ficar sem uma resposta. A mulher observava o braço de Jaebeom a alguns minutos em completo silêncio, então não tenho como saber o que está acontecendo, pelo que eu sei, o braço dele pode ter caido e eu nem vi nada.

Depois que os meninos tiraram Bambam do lago e fizeram ele se acalmar e não cometer um assassinato contra mim, eles nos levaram de volta a margem do rio, onde o professor e outros alunos, junto com alguns funcionários do acampamento, nos aguardavam para perguntar se estavamos bem, o que foi assustador, mas tudo ok até ai.

O diretor do acampamento ficou gritando, fulo da vida porque deixaram dois alunos no lago de baixo de um sol do meio dia, e todo mundo tentava acalmar o homem, mas não deu muito certo, esse é o fato. Ele estava com sangue nos olhos, queria saber de quem era a culpa e não sossegaria até descobrir quem foi. Então, eu, com meu charme de menino inocente, disse baixinho que a culpa era minha, isso foi o suficiente para ele parar de gritar e voltar a si. Ele disse que sentia muito, principalmente depois que notou que eu era cego, então nos mandou para a enfermaria, onde estamos agora. Enfim, os privilégios de ser cego, são poucos, mas existem.

— Apenas distendeu um músculo, vai ficar bom em algumas semanas se ele seguir exatamente tudo o que eu falar e não fizer nada com esse braço por uns dias. — A enfermeira responde, calma e plena como se fosse o próprio Buda. Segundo Jackson, ela tem 25 anos e trabalha aqui desde sempre. Antes, assim como ele e Mark, ela era campista e gostava tanto daqui que quando se formou decidiu que queria trabalhar nesse lugar, então conversou com o diretor do acampamento e conseguiu o emprego, agora ela quem cuida dos campistas, o nome dela é Noora.

Quando ela percebeu que eu era cego, deixou que eu tocasse no rosto dela e se descreveu perfeitamente para mim, o que eu achei bem legal da parte dela, porque não é todo mundo que age dessa forma perto de pessoas que não podem ver. De forma tão descontraída e descomplicada, ela agia quase como se as pessoas que enxergam também fizessem esse tipo de coisa assim que se conhecem, o que não fazia com que eu me sentisse diferente, para ela, eu sou apenas mais um campista e ponto.

— Então isso significa que não devo andar de caiaque por uns tempos? — Jaebeom pergunta, de forma brincalhona. Depois que ele foi medicado e parou de sentir tanta dor, começou a fazer piadas com a situação, o que é legal da parte dele. Ainda não sei se foi efeito dos remédios ou apenas o Jaebeom sendo idiota, mas ele não parece bravo nem nada, apenas está pleno com seu braço todo fodido.

— Não por algumas semanas. — A enfermeira fala e eu consigo sentir o sorriso dela, o que me faz sorrir também. Ela é só um pouco mais baixa do que eu, ruiva e de feições delicadas. Assim que a conheci, de alguma forma estranha eu senti como se fosse primavera, rodeado de flores e luz.

— Graças ao meu bom Deus.

— Agora ele é religioso? — Jinyoung pergunta para mim, em um sussurro que na verdade não é sussurro já que ele falou alto o suficiente para qualquer um ouvir, e nem foi sem querer, essa era a intenção dele desde o começo. Ele é o único na enfermaria além de mim, Noora expulsou os outros porque eles fazem muita bagunça, mas Jinyoung disse que ficaria comigo e realmente ficou, o que também é legal da parte dele. Como podem ver, as pessoas estão fazendo muitas coisas legais hoje.

— Acho que virou depois de ficar a deriva por tanto tempo, vai ver Deus falou com ele enquanto estávamos lá, tenho quase certeza que senti uma força angelical ao nosso redor. — Respondo baixinho, ouvindo Jinyoung soltar uma risada de escárnio, e sinto os olhos dele sobre mim, julgando e ironizando, porque é o Jinyoung.

— O nome disso é delírio. — Jinyoung comenta, todo irônia e sarcasmo. Queria ter meu remo agora, daria remadas nele até ele mesmo ser capaz de ver Deus.

— Você não sabe, não estava lá.

— E você também não sabe, não pode ver. — Abro a boca em um perfeito "O", fingindo surpresa antes de começar a rir. Gosto da forma como Jinyoung age frente a minha cegueira, algumas pessoas diriam que ele é insensível, mas na verdade ele é bem engraçado, não faz com que eu me sinta como um boneco de porcelana que pode quebrar a qualquer minuto por causa de uma frase, ele age apenas como se eu fosse um menino normal, o que eu sou, mas algumas pessoas ainda não conseguem ver completamente.

— Isso é Bulliyng.

— Não é Bulliyng se é verdade. — Quase consigo ver ele dar de ombros, o que me faz rir mais ainda.

— Acho que acabamos aqui. — Noora interrompe a conversa sem perceber, então Jinyoung e eu voltamos a nossa atenção a ela. — Você tem que vir aqui algumas vezes na semana para eu ver como está, e quando voltar pra casa vou mandar todo o relatório do que fiz para o seu médico, assim você continua o tratamento quando for embora no fim do acampamento.

— E vai demorar muito pra sarar? — Jaebeom resmunga, soando como uma criança de 6 anos que acabou de cair e ralar o joelho, o que me faz rir, porque é muito fofo.

— Se fizer tudo direitinho e não mexer o ombro para que não piore, talvez em três ou quatro semanas já esteja bem melhor, se já não estiver curado. — Sorrio com isso, quatro semanas não é muito tempo.

— Mas se eu não posso mexer o braço, como vou fazer as coisas? Sei que dá para sobreviver só com um braço, tem pessoas que só tem um, mas até mesmo elas tem um tempo para aprender e se acostumar com isso, eu não tenho nada.

— Você vai demorar uns dias para se acostumar, ate lá vai precisar de ajuda de alguém enquanto se acostuma com a vida com apenas um braço, mas depois disso fica fácil. — Noora explica e eu escuto Jaebeom suspirar alto.

— Então eu preciso de uma enfermeira particular? — Pergunta, completamente contrariado, porque sabe como é, ele não gosta de outros seres humanos desconhecidos.

— Ou então algum amigo. No seu caso, você tem muitas opções.

— Não, não tenho. Todos os meus amigos são retardados mentais, eles não ajudariam em nada, provavelmente piorariam tudo, se um deles ficar responsável por mim, provavelmente eu vou perder o braço.

— Tem que ter algum que seja só um pouco responsável. — Jaebeom suspira mais alto ainda, o que me faz rir e me aproximar. Não sei como vai ser isso, nem como vou realmente completar essa missão, mas quando me dou conta das coisas, a frase já havia saido da minha boca e era ouvida por todo mundo, então não tem volta;

— Eu vou ser o enfermeiro particular do Jaebeom. 

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora