A tempestade costuma castigar a cidade de Dreamland e não é uma novidade a nenhum de seus habitantes. Mas, atrasada para a aula de literatura do senhor Raymond - a brilhante, encantadora e jovem Anna Hayes não esperava contar que justamente naquele...
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Daniel está mais do que intrigado com minha repentina visita ao seu suntuoso e bem mobiliado quarto no Out Lander Hotel.
— Quando ligaram para informar que eu tinha uma visita, eu não esperava que fosse logo você, irmão. O pai está fora de perigo, por hora. Então, a que devo tal honra? — Daniel continua insuportavelmente presunçoso e tranquilo, mesmo depois dos obscuros anos de rivalidade entre nós dois.
— Eu senti saudades dos tempos de moleque.
Daniel olha para mim como se três cabeças tivessem brotado do meu pescoço e pisca para recuperar seu astuto senso de realismo.
— Você?
Ele levanta uma arrogante sobrancelha para mim e indica uma almofadada poltrona branca para que eu possa me acomodar.
— Eu estou bem. — Eu recuso a cortesia bruscamente e concentro-me em tentar desvendar seus enigmáticos planos em Dreamland.
— Qual é, cara? Quanta marra! Uma cerveja?
Eu aceito a cerveja que apanhou no frigobar e tomo um generoso gole glacial que desce quase queimando em minha garganta ansiosa.
— Francamente, Daniel. Não sejamos hipócritas. — Eu deposito a garrafa de cerveja em um móvel de carvalho escuro ao lado da cama e o encaro com frieza e tranquilidade. — Não somos velhos amigos nem irmãos que se adoram.
— Ainda lembra tanto assim de toda aquela merda?
— Eu nunca esqueci, Daniel. Imagina, meu próprio irmão tratou de acabar comigo.
Sua expressão é sombria e silenciosa, mas parece haver algum surpreendente rastro de arrependimento sincero. Eu ignoro, firme em meus propósitos, quebrado pelas memórias do passado.
— Enzo, isso é simplesmente...
— Mas eu não vim aqui lembrá-lo de sua maldita traição, irmão. Responda-me, Daniel, o que veio fazer nesta cidade, afinal?
— Já faz tempo que não sou o mesmo homem do passado e, apesar de sua escolha em ignorar isto em mim, sabe que é verdade. De qualquer forma, logo você iria descobrir por seus próprios meios.
Estou lutando contra um demoníaco sentimento de profundo ódio, pois sinto que a razão de Daniel é como uma navalha e pode rasgar e dilacerar minha carne. Sinto que pode realmente abrir brechas ainda mais profundas para a escuridão se empossar de absolutamente tudo em mim e trazer à superfície o que deveria continuar trancado no inferno de minha alma.
