Capítulo 1 - Abandono

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Any Gabrielly

Dreezy estava morto. Completamente morto.

Bom... não literalmente. Mas acreditem quando os digo que, se fosse por mim, aquele corpinho sarado de 1,90 não levantaria mais dois quilos na academia, quem dirá um corpo de uma patinadora.

Depois de horas patinando sozinha e tentando arrumar uma maneira de praticar a coreografia que, supostamente, deveria ser feita em dupla, eu desisti. Não porque eu quis, é claro, mas da última vez que ousei desviar meu olhar para Stuart, o segurança do rinque de patinação, o encontrei praticamente dormindo em pé enquanto me esperava. Eu não o culpava. Eram aproximadamente uma da manhã, e o rinque fechava às onze da noite. Ele ficara ali o dia todo. De alguma maneira – leia-se: com uma carinha de cachorro que caiu da mudança – eu convenci Stuart a me deixar continuar treinando ali enquanto esperava por Mason, minha dupla e parceiro para o Worlds. A esse ponto, creio que você pode constatar o óbvio: Mason Dreezy não apareceu e não apareceria tão cedo.

Com um suspiro, permiti que meu corpo deslizasse até a saída do rinque, onde caminhei com cuidado até a arquibancada. Eu já estava bem acostumada a me equilibrar sob as lâminas dos patins quando saía do gelo, mas os riscos de uma torção no tornozelo ainda existiam. Por isso, me sentei em um dos bancos da arquibancada e desamarrei os sapatos com calma, colocando meus pés no chão gelado após horas de treino. A garrafa d'água parecia mais do que convidativa ao meu lado e a tomei pela metade antes de sentir a raiva, que já havia se acomodado na boca do meu estômago, lutando para subir novamente por todo o meu corpo. O plástico na minha mão fez um barulho alto quando, sem querer, o apertei. Eu era patética.

Soltando a garrafa e deixando os patins de lado, cruzei as pernas sob o banco e peguei meu celular dentro da bolsa que levava para o treino. Ao desbloqueá-lo, não sei bem o que esperava. Chamadas perdidas? Mensagens de desculpa? No mínimo, um vídeo no YouTube com uma declaração de quinze minutos sobre como eu era uma parceira paciente. Mas, é claro, não havia nenhum sinal de Mason por ali também. Com um grunhido de frustração, desenfaixei as ataduras dos meus pés e calcei meus tênis, colocando meus patins com cuidado na bolsa. Se não fossem por elas, eu tenho certeza de que diversas bolhas teriam surgido ali, visto que fiquei praticando saltos bem mais do que o recomendado pelo meu treinador. Assim que pendurei a alça da bolsa no meu ombro e fiz com que a garrafa e o celular fossem equilibrados em uma mão, decidi que era hora de deixar Stuart ir para casa e se poupar dos gritos que eu estava prestes a dar. Sorri forçadamente para o bom segurança quando passei por ele a caminho do estacionamento e esperei que a porta atrás de mim se fechasse para que minhas mãos buscassem pela chave do carro.

Quando finalmente estava segura e protegida no interior do veículo, permiti que minha testa se encostasse no volante e fechei os olhos. Eu estava tão cansada de ser o monstro de todas as minhas parcerias, a competidora irritante que sempre cobrava sua dupla, mas simplesmente não dava mais. Nós tínhamos um compromisso, entende? Quando nos comprometemos com algo, precisamos honrar nossa palavra. Faltavam pouco mais de três meses para a competição e o Mason não podia me deixar... digo, nos deixar na mão dessa maneira.

— Fogo grego, eles dizem... – murmurei, afastando minha testa do volante e voltando a pegar o celular. Abri diretamente no contato de Mason, onde várias mensagens não visualizadas já se encontravam acumuladas desde a tarde. – Fogo grego é o que terão.

Me obriguei a respirar fundo uma última vez antes de apertar o botão que permitiria que Mason ouvisse minha voz. Não, eu não estava ligando para ele – já sabia que seria ignorada. Só pretendia mandar um bom áudio para que o patinador pudesse dormir bem e relaxar. Quando ouvi o apito vindo do celular que indicava que a gravação foi iniciada, extravasei.

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