Meus olhos procuravam por ela quando me deti na cena mais repugnante possível, Catarina aos beijos com um idiota qualquer. Senti meu corpo inteiro queimar de raiva, e precisei de todo o meu auto controle para não levantar e ir até lá, afastar o corpo dela de outra pessoa. Que não era eu. Engolia em seco meus ciúmes quando Louise sentou do meu lado e bateu o copo na mesa, chamando minha atenção.
-Você tinha algo que todo mundo quer nas suas mãos e estragou tudo, posso ver todos os sentimentos negativos do mundo pelos seus olhos. _Ela murmurou.
-Acho que não preciso das suas observações. _Rebati, dando um gole no refrigerante.
-Ainda está apaixonado por ela?
-Nunca deixei de estar.
-Por que fez aquilo? sabe, mentir pra ela, perseguir ela, isso é muito louco, sabia?
-Olha Louise, eu já disse isso para Catarina, e vou falar pra você pela última vez, eu não sou uma maníaco, eu não perseguia ela, eu fui contratado pra fazer a segurança dela, mas me apaixonar não estava nos planos, e quando me dei conta pensei em contá-la tudo, mas infelizmente esperei demais.
-Mas quem te contratou? e está protegendo-a do quê?
-Não é do que, é de quem! mas eu não posso falar mais que isso, a segurança dela também depende do meu sigilo.
-Então ainda está trabalhando para madrasta dela? depois de tudo que fez minha amiga passar?!
-Eu não estou trabalhando para madrasta nenhuma, não trabalho mais para ninguém, e sim, estou aqui para proteger Catarina, mas porque eu quero, não estou recebendo nada por isso.
-Então é melhor que comece sua missão da noite, ela acabou de correr para o banheiro, provavelmente bebeu e dançou demais. _Louise disse, apontando para o andar debaixo. Catarina corria para o banheiro com a mão na boca.
-Eu também não sou babá de ninguém!
-Foi apenas uma brincadeira, já já ela se recupera e volta radiante para o meio da pista. _Falou, rindo e se levantando. -Se diz que está a protegendo, eu acredito, mas pelo menos faça um bom trabalho, se algo acontecer com ela eu te mato.
Levantei minha latinha no ar e fingi um brinde, enquanto ela se afastava com um garoto esquisito de óculos e sapatênis - eu nunca tinha criticado o uso de sapatênis até conhecer Catarina - Droga.
Aguardei uns dez minutos e nada de Catarina sair do banheiro, comecei a ficar preocupado, ela parecia bem bêbada antes de sair da pista, talvez estivesse passando mal. Lutando contra minha razão, me levantei e desci, tentando conseguir caminho entre todos aqueles adolescentes animados. Entrei no corredor que dava para os banheiros e parei na frente da porta, chamei pelo nome dela algumas vezes e nenhum sinal.
-Ei, você sabe se tem uma garota ruiva de vestido azul aí dentro? _Perguntei para uma garota que saía de dentro do banheiro.
-Se for Catarina, sim ela está em uma das cabines, acho que está passando mal, eu fui ajudar e ela começou a reclamar falando que eu era uma paparazzi e mandou eu ir caçar capa de revista em outro banheiro. _Ela disse, revirando os olhos e saindo.
Suspirei pesadamente, eu teria que entrar. Olhando para os dois lados, para me certificar de que não seria visto por nenhum funcionário, entrei no banheiro.
-Catarina? _Chamei, observando o ambiente. Vi suas sandálias jogadas perto da lixeira e seus pés descalços por baixo de uma das cabines.
Me aproximei e parei em frente a cabine, encarando a cena. Ela estava com os cabelos embolados em um coque, sentada no chão e encostada na parede, os lábios estavam pálidos e os olhos até então fechados, mas quando notou que estava sendo observada, abriu os olhos e virou a cabeça devagar para me olhar, fez uma careta e tentou fechar a porta, mas eu coloquei a mão, a impedindo.
-Você está decadente. _Murmurei.
-Vai se ferrar. _Rebateu, abaixando a cabeça e escondendo o rosto entre os joelhos.
-Muito simpático da sua parte, mas antes de eu me ferrar, vou impedir que você se ferre te tirando daqui.
-Não quero nada de você... _Resmungou. -Talvez só um último beijo daqueles... _Sussurrou, mas eu pude ouvir perfeitamente, o que me fez sorri.
-Eu te dou outro daqueles, mas só quando estiver com os dentes escovados e sóbria, não beijo garotas vomitadas e nem bêbadas.
-E quem disse que eu quero beijar você? _Ela falou, levantando a cabeça.
Dei uma risada, ela estava completamente fora de si.
-Okay, vem! _Disse, segurando seus braços e a levantando. -Vamos lavar esse rosto e eu vou te levar pra casa.
-Eu não vou sair de cara lavada lá fora, todos os meus colegas estão aqui! _É, ela estava bêbada, mas não o suficiente para descuidar da própria imagem.
-Quando se olhar no espelho vai ver que a melhor coisa que você faz é tirar a maquiagem, e também a água gelada vai te deixar menos bêbada.
Catarina cambaleou até a pia e quando viu sua imagem refletida arregalou os olhos e desfez o coque do cabelo rapidamente, o que não ajudou muito, continuava um emaranhado ruivo.
-Já que você trabalha para minha família, eu proíbo você de me deixar sair assim! _Ela falou, se virando pra mim.
Precisei segurar a risada, ela só podia estar louca mesmo.
-Eu não trabalho para sua família, então vai precisar se virar sozinha com isso. _Falei, passando o indicador na frente do rosto dela.
Ela resmungou um pouco, mas finalmente enfiou o rosto na pia e tirou todos aqueles troços do rosto, depois observei ainda em silêncio quando ela levou as mãos dentro do vestido e tirou um batom do meio do sutiã.
-Agora já posso sair. _Ela falou, espalhando um pouco de batom pelas bochechas também, as deixando levemente coradas.
-Vamos logo.
A acompanhei pelos fundos da boate, por "ordens" dela, que não queria ser vista naquele estado, mas antes nós encontramos Louise e eu avisei que ia levá-la em casa. Paramos na calçada e ficamos em silêncio enquanto esperávamos o táxi.
-Aí está, agora já pode chamar o seu, obrigada pela ajudinha, moreno! _Ela disse, quando o carro parou na nossa frente.
-Chamar o meu?! eu moro na mesma rua que você, e não vou deixar você bêbada num táxi de madrugada, eu vou com você.
-Parece que estou tendo um djavu... _Ela murmurou, e com certeza se referia ao nosso primeiro contato ali mesmo na rua daquela boate.
A ajudei a entrar no táxi, e durante o trajeto ela foi cantarolando e enchendo o saco do motorista pedindo para que mudasse a rádio de dois em dois minutos, obviamente ele mudou todas as vezes e com um largo sorriso no rosto, mesmo depois de eu dizer que ele não precisava fazer aquilo, mas com certeza ele ouviria a ruiva irresistível e não o cara chato a tira colo.
Depois que paguei o taxista, ajudei Catarina a descer, já que ela se enrolou com o próprio vestido e quase caiu para fora do carro.
-Agora já pode ir! _Ela disse, puxando o braço, e caindo com tudo no chão.
-Tá vendo só, se não ficasse tão na defensiva não teria caído! _Falei, me abaixando para ajudá-la.
Antes que a levantasse, meus olhos pararam do outro lado da rua, e o que vi chamou a minha atenção. Um carro preto estava parado um pouco antes do prédio que eu morava, quase em frente a mansão. Tentei ter alguma visão de dentro para saber se tinha alguém, mas a rua estava escura, e o carro tinha vidros fumê, o que tornou impossível para mim.
-Meu tornozelo está doendo, será que pode me ajudar ou vai ficar igual um tapado olhando para o nada? _Ouvi ela indagar, com os braços cruzados e uma careta de dor.
-Foi mal... vem, se apóia em mim. _Disse, e ela passou um dos braços em volta do meu pescoço enquanto eu a levantava. -Vou te levar até lá dentro.
-Eu posso ir sozin... Aí! _Resmungou, voltando a se apoiar em mim no segundo seguinte em que tentou apoiar o pé no chão.
-Acho que não está podendo recusar ajuda.
Ouvi ela suspirar, mas enquanto ela fazia birra eu procurava as chaves do portão na bolsa minúscula dela, que eu imaginava não caber nada além das chaves, mas parecia que era um buraco negro aquele negócio. Depois de entrarmos, a ajudei a subir até o quarto, a casa inteira estava escura e silenciosa, e aquele corredor de noite parecia bem maior e solitário do que durante o dia.
Abri a porta do quarto, acendi a luz e a levei até a cama, desde que comecei a frequentar a casa dela há mais de dois meses atrás, nunca tinha entrado ali, sempre ficávamos no escritório, na biblioteca ou no jardim, e o quarto dela era imenso, só na cama caberia umas cinco pessoas.
-Não acredito que me fez quebrar o pé uma semana antes do meu aniversário, conseguiu me fazer odiar você mais do que antes! _Murmurou, jogando a bolsa e os sapatos no chão.
-Primeiro, não seja dramática, você só deu uma torcidinha no tornozelo, segundo, você não me odeia tanto assim.
-Ah pode apostar que eu odeio! _Rebateu.
Neguei com a cabeça, enquanto olhava o tornozelo dela, não estava nem inchado, mas por desencargo de consciência seria melhor colocar gelo.
-Vou até a cozinha pegar gelo para colocar em cima...
-Não precisa, tem no frigobar. _Ela disse, apontando para uma pequena geladeira preta do outro lado do quarto.
-Você também tem um fogão aqui? _Brinquei, enquanto pegava uma camiseta dela e enrolava o gelo.
-Não, eu não cozinho, seria meio inútil ter um. _Falou, dando de ombros, e me perguntei se ela tinha levado a pergunta a sério mesmo.
-Você é tão sem noção. _Murmurei, e por sorte acho que ela não me entendeu.
Fui até ela e sentei ao seu lado, colocando o pé machucado em cima da minha perna e afastando o vestido de cima da dela. Depois de alguns minutos de show, com ela reclamando que o gelo estava "frio", finalmente sossegou e se acostumou.
-Pelo visto você não deixou de me perseguir, não é?
-Por que diz isso?
-Entrou no banheiro feminino atrás de mim!
-Porque fiquei preocupado!
-Mas se sabia que eu estava lá quer dizer que esteve me observando durante a festa, não é?
-Se quer saber se eu vi você se pegando com aquele idiota, sim eu vi, mas não foi uma surpresa para mim.
-Como é? _Ela perguntou, aumentando levemente o tom de voz.
-Conhecendo seu histórico já esperava que fosse tentar fazer alguma coisa para me atingir, bom, pelo menos não publicou na revista que eu trabalho com tráfico de órgãos ou que tenho um caso com o seu porteiro!
-Eu não beijei aquele garoto pra te afetar, eu beijei porque queria tentar tirar você um pouco da droga da minha cabeça!
Fiquei em silêncio a encarando ao ouvir aquilo, então ela também não conseguia me esquecer, senti uma pontada de esperança crescer dentro de mim.
-E conseguiu me tirar da cabeça? _Perguntei, se desviar meus olhos dos dela.
Ela não respondeu imediatamente, desviou o olhar e puxou o pé devagar.
-Já estou bem melhor, já pode ir pra sua casa. _Falou por fim.
Que garota difícil.
-Eu vou, mas você ainda não me respondeu. _Insisti, me aproximando, deixando nossas respirações se misturarem.
-Você ainda está aqui, em cada maldito canto do meu corpo. _Sussurrou, e vi quando os olhos brilharam com as lágrimas que apontavam.
Meu coração saltitou, aquelas palavras saíram da boca dela com tanta intensidade que pareciam flechadas bem no meu peito.
-Então não foge mais, você está em mim também, mas eu sinto que estou perdendo você. _Sussurrei de volta, passando os dedos pelos braços frios dela.
-Você já me perdeu, Miguel, e eu não sei como poderia mudar isso.
-Me deixa tentar, eu am...
-Não. _Ela disse, me interrompendo. Eu estava prestes a dizer que a amava, mas então engoli tudo de volta. -Não quero ouvir isso, não depois do que fez.
-Eu errei, mas... nada do que eu sinto mudou, Catarina. _Senti nossos narizes se tocarem, e aquele simples gesto projetou uma descarga elétrica no meu corpo.
-Mas mudou para mim, os sentimentos bons se misturaram com os ruins, e eu não consigo mais separá-los.
Cada palavra dita era como mais uma dor crescendo em mim, eu me odiava por ter feito aquilo com ela, com a gente.
-Nós podemos consertar isso, juntos.
-Tem coisas na vida que não se consertam, Miguel. _Disse, se afastando, e era como se puxasse toda a minha força junto, sentia como se todo meu corpo fosse um saco vazio outra vez. -Agora vai.
Suspirei pesadamente me levantando e engolindo as lágrimas que ameaçavam querer sair.
-Como quiser, espero que seu tornozelo melhore logo.
-Obrigada por ter me ajudado e cuidado de mim.
-Essa é a minha missão no mundo. _Falei, e após isso saí de seu quarto, deixando toda a minha vida lá dentro com ela.
Quando cheguei na varanda de entrada, notei que o carro preto ainda estava lá, o que me fez permanecer ali, talvez só tivessem estacionado ali de emergência, mas sabia que não era comum ter carros ocupando as calçadas dessa rua, e algo me dizia para não sair daquela mansão enquanto aquele carro estivesse ali.
Acho que passou mais de meia hora, eu já estava com a bunda quadrada de ficar sentado naquela escada quando os faróis do carro se acenderam e ele simplesmente foi embora. Senti meu coração acelerar e minhas mãos suarem, eu tinha razão em ter desconfiado, seja quem estivesse dentro daquele carro, queria mais do que ficar ali e observar, talvez quisesse entrar na mansão e tenha desistido após notar que Catarina não estava sozinha, fazia sentido já que naquela hora da madrugada só tinha um segurança rodeando toda a mansão, e ele não estava por perto naquele dia.
Perceber que tudo que Luíz me falava era real, que de fato Catarina corria perigo e que aquela pessoa, talvez seu próprio tio, estava ali do outro lado da rua pronto para matá-la, me fez estremecer da cabeça aos pés. Fiquei com tanto medo que ainda permaneci alguns minutos ali mesmo depois do carro ter ido embora, só mais tarde então eu consegui ir para o apartamento.
Não preguei os olhos a noite inteira, fiquei cada minuto da madrugada sentado na varanda do apartamento, enrolado no edredom encarando a mansão, temendo pela volta daquele carro, temendo pela vida da garota que eu amava.
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Aquela jaqueta de couro
RomansaCatarina Aires mora em Blumenau desde que nasceu, é herdeira das empresas de sua família, escrava de uma posição que não quer ocupar e correndo um risco que desconhece, a jovem impetuosa será salva por um motoqueiro misterioso, o que ela não sabe é...