O Canto da Sereia

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Pássaros criavam uma sinfonia harmônica e pacífica, o barulho da selva era quase tão calmante quanto o barulho das ondas do mar quebrando na areia, som com o qual ela estava acostumada. Já tinham andado por metade do dia mata a dentro e decidiram acampar sob a proteção de um amontoado de árvores altas de copas macias e robustas que impediam até o mais fino raio de sol adentrar a floresta, tornando-a escura, a única luz visível era a de pequenas criaturas voadoras que emitiam uma luz esverdeada de seus pequenos traseiros e a luz da modesta fogueira que tinham acendido em um buraco que fizeram no chão, quanto menos atenção chamassem, melhor.

▬ Ê Madame Fortune, a gente devia era ter dado carona praquele barbudinho sem vergonha metido a inventor. Quem sabe ele não fazia uma geringonça mágica que detectasse o fedor daquele Gangplank até do outro lado do mundo?! RÁ! ▬ A capitã ergueu o rosto que estava concentrado em analisar alguns cogumelos no solo e fitou o pequeno Yordle montado em seu estranho lagarto, uma nesga de sorriso enfeitou seus lábios rosados, mas antes que pudesse respondê-lo foi interrompida por uma risada estridente, lunática e levemente irritante que ela já conhecia muito bem.

▬ Kled, seu bobalhão, você tem que chamar ela de Capitã e não de Madame! Hey, olha! Uma tulipa! ▬ E da mesma forma abrupta que a pequena Lulu se meteu no assunto, ela simplesmente saiu saltitando por aí com Pix em seu encalço.

▬ Ora, Sir. Kled... Não precisamos de engenhocas de inventores para farejar o cheiro daquele pirata imundo. Nós vamos achá-lo, confie em mim. ▬ Dando o assunto por encerrado, a capitã voltou a fitar os cogumelos com certo interesse, sentindo a aproximação de sua fiel comandante Arlijane que abaixou-se ao seu lado.

▬ É uma tripulação e tanto essa sua. Olha, você precisa descansar, deixa que eu fico de olho nos nanicos pirados. Dorme um pouco, amanhã vamos fazer uma longa caminhada para cobrir o máximo de território possível. Tem um rio que parece limpo a uns vinte metros ali adiante, é um bom lugar pra tirar o cheiro de mar e relaxar. ▬ Ela se levantou com alguns dos cogumelos na mão e os guardou em sua bolsa, Arlijane era uma excelente botânica, e com certeza iria estudar esses cogumelos para saber suas propriedades.

Fortune olhou ao redor, para uma Lulu saltitando entre as flores e brincando de pique-esconde com Pix a um Kled xingando seu lagarto de nomes que ela nunca tinha ouvido nos sete mares e Arlijane com seus frascos e plantas. Outros Yordles trabalhavam ao redor do acampamento, ora colhendo o que pudesse ser do interesse deles, ou escalando as árvores para ter uma visão mais ampla da floresta. Haviam saído em um grupo de dez pessoas, e mais dez ficaram tomando conta do navio, não havia com o que se preocupar, o acampamento estava sob os cuidados responsáveis de Arlijane e, francamente, ela precisava de um banho, estava começando a feder como um pirata.

Levou consigo uma mochila de couro com seus pertences na direção apontada por Arlijane, não demorou para encontrar o local indicado, era uma clareira com uma nascente cristalina, o pôr do sol refletia seus raios vermelhos na água, as plantas ao redor formando uma borda florida para uma piscina natural. O som da floresta havia mudado, afinal, pássaros noturnos emitiam um canto diferente, e a medida que a noite dava boas vindas, Fortune despia suas roupas deixando-as protegidas sob um arbusto repolhudo junto com suas inseparáveis armas. A água estava morna, doce e acolhedora, apesar de ser mais profunda do que Fortune imaginara, era confortável, não dava para sentir nada sob seus pés, portanto não sabia o quão fundo era, mas não importava, ela não estava pensando em ir para lugares submersos. Após se lavar, deixou o corpo relaxar apoiando os braços na vegetação da borda para ajudar a mantê-la com o rosto para fora da água, fechou os olhos e permitiu que a água morna amolecesse a tensão de sua alma.

Havia um canto distante, uma voz melodiosa e açucarada entoando uma canção singular, seu corpo vibrava com cada nota, os acordes penetrando lentamente em sua mente, brincando com seus pensamentos, formigando em sua pele. Fortune abriu os olhos lentamente, a noite já derramara seu véu de escuridão pela floresta, mas a lua brilhava como um diamante no céu, bem no meio do clareira, como um holofote sobre o corpo de uma mulher que também estava na água, na verdade, uma mulher que estava com o rosto próximo ao seu, tão próximo que ela podia sentir o sopro de sua voz musical em uma língua que ela não entendia, tão próximo que seu corpo estava colado ao dela, busto com busto, pele com pele em uma dança suave naquele lago enluarado. Seus cabelos negros eram adornados com peças douradas e rosadas, e algumas pedrarias verdes, o mesmo adorno era usado em seu vestido branco que quase ficava transparente por estar molhado. Havia também um brilho diferente, além do luar, pois ela segurava um cajado esplendoroso cuja ponta lembrava a pétalas de rosas cristalizadas. A misteriosa mulher brincou com seus cabelos ruivos, parecia gostar da cor, voltou a olhar em seu rosto e sorriu, um sorriso angelical, sereno, assim como seu olhar, que era um misto de curiosidade e determinação, um olhar ancestral, de mil vidas, tão azul quanto as águas daquela nascente. Ela envolveu o corpo de Fortune com sua mão livre e, sem que houvesse um pingo de relutância, a fez mergulhar completamente no lago, em direção às profundezas desconhecidas.

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