I - Young Love

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Num mundo onde carnívoros e herbívoros se relacionavam apenas entre si, um certo casal se esforçava para não transparecer seu relacionamento. Era uma época ainda bem cheia de costumes e regras e, mesmo que ambos lados de uma mesma moeda tivessem uma coexistência dada como pacífica, era considerado um pecado olhar para os diferentes de si com um pingo sequer de intenções maiores que tolerância ou até amizade, isso pelo grande histórico de desavenças sangrentas do passado.

Herbívoros e carnívoros desde seus primórdios se encontravam em uma linha tênue de constante conflito, massacres e acima de tudo ódio mútuo, porém, a partir de uma geração considerada pacifista, conseguiram manter um acordo de colaboração em convívio. Mesmo anos tendo se passado, ainda havia muito preconceito de ambas as partes, tanto por rancor ou individualismo.

Taehyung era o filho do meio da família Kim, era uma raposinha travessa que adorava brincar nos bosques que jaziam nas redondezas de sua vila. Sempre ouvia longos sermões de sua querida mãezinha que faltava apenas lhe arrancar as orelhas de tanto brigar com o filhotinho sobre não ir a lugares como aqueles, tanto por serem os locais favoritos de passeio dos herbívoros quanto pelo fato de sempre voltar com a sapatilha, que antes aparentava um brilho lustroso, cheia de marcas de arranhões e terra por todo lado, claro que não deixava passar as meias calças que apareciam com furos, a saia e as mangas do vestido encardidos pelas pequenas aventuras no meio do mato. A pobre raposa mais velha já se sentia desesperada ao ver o armário do filho e não ter mais o que vestí-lo para as missas semanais e suas aulas na igreja. Como todo Ômega de boa família, ele e suas duas irmãs, a mais nova e a outra mais velha, iam aprender a se portar com a freiras, mas o pequeno Taehyung em particular precisaria de umas aulinhas a mais.

A mulher estava quase acabando de amarrar o laço no topo da cauda de seu filhote antes de prender o colarinho que carregava uma cruz no pescoço do pequenino, logo beijando-lhe as bochechas fofinhas mandando-o esperar na sala de visitas junto com a irmã mais velha enquanto aprontava sua caçulinha. Ela fazia questão de arrumá-los por si mesma.

Depois de descer com a garotinha de pouco mais de seis anos no colo, levou todos seus filhos Ômegas para a igreja, descartando a ajuda de suas criadas, isso antes de sair de sua propriedade e notar uma certa movimentação na casa vizinha com algumas carroças cheias de móveis.

Ela era uma mulher devota e queria o melhor para seus bebês. Naquela época era tudo tão difícil, muitos morriam por doenças e a única coisa que podiam fazer era rezar, rezar pela saúde e pelo futuro de sua família, e era isso que a moça fazia todos os dias, queria um futuro melhor para seus filhos, ao menos um melhor que o dela, uma mulher que antes não tinha defeitos na vida a não pelo fato de ainda não ter filhos Alfas, agora uma viúva em desalento.

O pequeno garotinho não aguentava mais o tédio de ficar sentado quietinho no meio de outras crianças, bordando um guardanapo enquanto poderiam estar todos brincando. Soltou o bastidor junto da agulha ao lado do corpo e tratou de tirar ambos os sapatos que lhe pegavam nos dedinhos. Não deu mais de cinco minutos deitado sendo observado com certa estranheza pelas outras crianças quando uma das freiras reparou o mal comportamento do Ômega e foi lhe chamar atenção.

- Não aguenta nem sequer bordar uma peça. - Comentou uma garotinha de sua idade.

- Vive a dar trabalho para as irmãs, deveria se comportar melhor. - Respondeu um menininho um pouco mais velho para a outra garota. - Mamãe me disse que há uma maldição sobre os Ômegas desobedientes, ela diz que eles são fadados a viver sozinhos para sempre!

- Então é essa a razão da mãe dele estar viúva? Ele deve é estar trazendo a maldição para toda a família... - Completou em sussurros outra menina, fazendo o coraçãozinho do garotinho bater em mágoa.

A raposa e o coelho - Vkook ABO [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora