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— Essa idéia é uma droga. — Syd diz, ao que balança a cabeça em negação.

— Você disse isso de todas! — Bufo, em seguida me jogo para trás no sofá.

Hoje é segunda e finalmente Corbyn me deu um pouco de espaço. Não por querer, mas porque ele precisou gravar um programa com os meninos. Hailey também saiu, disse que estava indo para um casting mas a essa altura eu nem sei mais se ela é modelo de verdade.

Estamos na sala; eu, Sydney e Abby. Contei para a última sobre tudo o que descobri e até ela, que usualmente é certinha, me encorajou a bolar algum plano maligno. Dei algumas idéias, a maioria envolvendo tinta e humilhação pública, mas nenhuma delas agradou as meninas.

— Na verdade, dessa eu gostei. — De repente, Abby diz e eu levanto as mãos para os céus.

— Isso é covardia. — A morena à minha frente suspira, enquanto se levanta da cadeira. — Não podemos brincar com o coração dela.

— Syd, eu concordaria com você em qualquer ocasião, — Abigail pega as mãos da garota. — mas a Hailey quer fazer uma coisa horrível com a Kaia e ela precisa sentir na pele que não é legal tramar maldades envolvendo os sentimentos das pessoas. — Ao ouvir isso, balanço a cabeça repetidas vezes em concordância. Syd bufa, mas aceita.

— Vou mandar mensagem pro Daniel. — Afirmo e já pego o celular.

eu

ei


vc pode vir aqui mais tarde?


— Kai, você não vai mesmo contar pro Corbyn? — A loira ao meu lado pergunta.

— Não, — Suspiro. — ele é muito bonzinho e nunca aprovaria o que vamos fazer. Já é uma surpresa você ter aprovado, Abby. — Miro a face da garota.

— O que aconteceu com você foi uma coisa horrível e eu não consigo sentir empatia por alguém que levaria isso a público. — Ela diz, em seguida dá de ombros.

— Espero que eu não me sinta culpada depois. — Deito a cabeça no sofá e olho para o teto.

O plano é simples e com certeza vai funcionar. Não é nada muito pesado, mas vai ensinar a Hailey uma bela lição e quando isso for feito, vamos colocar ela da porta para fora. Obviamente, preciso tomar cuidado para que a diabinha não consiga provas sobre a minha gravidez enquanto o plano estiver em andamento e também vou ter que fingir plenitude, o que vai ser a parte mais difícil.

Sinto Syd sentar no braço do sofá e segurar uma das minhas mãos. No momento em que ela faz isso, Abby segura a outra. Ambas me olham com algo entre pena e carinho.

— Não comecem. — Bufo.

— Você sabe que... — A loira começa.

— Que eu posso contar com vocês pra tudo? Que se eu quiser conversar tenho vocês? Sei! — Solto as mãos das duas. — Vocês me dizem isso pelo menos umas cinco vezes ao dia.

— Kai, a gente só quer te ver bem.

— Eu tô bem! — Me levanto, exasperada. — É tão difícil assim pra todo mundo entender isso?

— Você perdeu um bebê, é normal ficar triste por muito tempo. — Abby tenta me tranquilizar, mas sequer estou inquieta.

— Vocês querem saber a verdade? — Digo, ao mesmo tempo em que ouço a porta se abrir atrás de mim, mas não paro para ver quem está entrando. — O Corbyn tá se sentindo muito mal por eu ter perdido aquele bebê, mas eu me sinto ótima! — A expressão de choque no rosto das meninas quase me freia. — Eu nunca quis ficar grávida! Deus deve ter sentido pena de mim e me livrou. — Finalizo.

— Eu... — A voz do meu namorado se faz presente e eu giro nos calcanhares. Seu belo rosto está contorcido em uma careta de tristeza que se mescla com decepção e em suas mãos há algumas sacolas. — Acho melhor eu ir pra casa. — O loiro larga os objetos em cima da mesa, os quais noto serem alguns doces, e sai pelo mesmo lugar por onde entrou.

Assim que sinto o peso do que falei, corro atrás dele. O garoto já está há alguns metros de mim, porém me esforço para alcançá-lo.

— Corbyn, espera. — Seguro o braço dele e o mesmo para. — Me desculpa, eu não queria que você ouvisse aquilo. — Digo, com a voz tão baixa que temo não ter sido ouvida. Entretanto, ele se vira e as lágrimas em seus olhos azuis são os suficiente para me fazer desejar ter nascido muda.

— Como você pode se sentir dessa forma? — O cantor soltar seu braço da minha mão. — Como pode não se sentir mal por ter perdido o nosso filho? — A dor em seu timbre me dá um soco forte no estômago.

— Eu não... — Tento dizer, mas nada sai.

— Eu também não queria ser pai agora, Kaia. — O garoto dá dois passos para trás. — Eu não queria, mas eu não rejeitei aquela criança quando soube da existência dela, nem por um segundo.

— Não era uma criança... — Falo, ao passo em que abaixo a cabeça.

— Não, ainda não era.

— Eu não quis dizer que fiquei feliz de ter sofrido o aborto, — Gesticulo, ao que o miro. — quis dizer que já que sofri, não me sinto mal com isso.

— Eu entendi o que você quis dizer. — Percebo em seusmorar que algo se partiu dentro dele, algo que não posso distinguir e que talvez não tenha concerto. — Preciso de um tempo. — As palavras caem sobre mim como um balde de água fria e não consigo sibilar nem uma mísera letra quando o garoto começa a se afastar. Toda via, antes de partir de vez, ele se vira e profere:

— Talvez Deus tenha realmente livrado alguém, mas não foi você. — Uma brisa forte balança seus fios loiros. — Foi o nosso filho, de ter uma mãe igualzinha a que você teve. — E então, ele se vai.

Corbyn me deixa parada na calçada, na noite fria e escura, com apenas o eco inaudível das palavras dele. De repente, sinto que não preciso de espaço e que não estou bem, mas o sentimento é novo.

Não consigo deixar de me perguntar, ao caminhar de volta para a segurança da minha casa: O que eu temia aconteceu? O nosso amor nos afastou um do outro?

𝒄𝒍𝒊𝒄𝒉𝒆 ↺ corbyn bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora