Capítulo 4

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- Não sei... - André diz-me cansado.

Coloco a minha mão sobre a sua.

- Sabes que mais? Vamos dormir. Temos de descansar. Amanhã, podemos matar a cabeça com isto, mas temos de dormir algumas horas.

- Queria levar o Tiago à escola, mas... se calhar é pouco prudente da minha parte, não é?

- Por agora, assumo eu esse papel. Tens de te resguardar. Até ver como seguir, tens de te resguardar e não queremos que o Tiago assista ao que quer que seja, certo?

André acena e pega na minha mão. Juntos subimos até ao nosso quarto.

Deixei o Tiago na escola e bem senti alguns olhares sobre mim. Felizmente, ninguém me disse nada, nem ouvi nenhum burburinho. Se tal acontecesse tinha bom remédio: ignorar.
Acabei por ir às compras para casa. Quando sai, o André dormia profundamente. Sei que se ele precisasse de algo, me diria. Hoje, ele apenas tem de ir à faculdade para tratar de alguns papéis. Não tarda, os exames finais estão aí. O André tem apenas algumas cadeiras de terceiro ano para terminar e penso que o fará agora, que tem mais tempo. A menos que o clube o chame, por alguma razão.

A casa está em silêncio. O André na sala não está, talvez esteja ainda a dormir. Vou para a cozinha, arrumo o que tenho de arrumar e tenho uma ideia. Talvez ele fique mais animado.

Quando entro no quarto, vejo-o dormir serenamente. São dez da manhã, para ele já é um pouco tarde, mas é normal. 

Coloco a bandeja na cadeira e vou para a cama. Deito-me junto dele e beijo-lhe o nariz, descendo até ao seu queixo e, depois, deixo os meus lábios no seu pescoço.

- Hum... - oiço-o a murmurar - Ainda é cedo? 

- Depende...

Ele abre os olhos.

- Com esta luz toda não pode ser cedo...

- Já passa das dez...

André coloca o seu braço na minha cintura.

- Diz-me que ainda estamos em Paris...

Sorrio.

- Ainda estamos em Paris.

Sinto-o a rir-se.

- Diz-me que vamos hoje à Torre Eiffel...

- Vamos à Torre Eiffel, mas só de tarde. Agora, de manhã, podemos passear pela cidade, se não tiveres uma ideia melhor.

Repito a frase que lhe disse tantas vezes durante os dias que lá estivemos e o André preferia ficar no quarto, porque tinha sempre uma ideia melhor.

Ele move-se e beija-me com a mesma paixão de sempre. Aqui, no nosso mundo não cabe mais nada sem ser a certeza de que nos temos um ao outro: de forma única e indivisível.

André tem os seus braços à minha volta, como se me quisesse amparar de tudo. Deitada sobre o seu corpo, o seu peito é a minha almofada. Dois corpos nus, que agora descansam, depois de terem estado num espaço e tempo que só eles conhecem, onde estão sempre no seu estado mais puro. Quis ser cuidadosa... como fui cuidadosa com o meu André, quero ajudá-lo e mostrar-lhe isso: que ele é parte de mim. Sei que ele o entende, oh! como ele entende, mas espero que ele nunca se esqueça de que somos o porto seguro um do outro. 

Como sempre quando fazemos amor, o André passa os seus dedos pelo meu cabelo.

- Realmente, aprendemos a lição...

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