Cap. LOURDES

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Era o início das aulas de 2019 , todas as meninas estavam muito animadas. Até porque o que era mais comentado durante as férias eram como os meninos estariam mais bonitos.
Eu claramente nunca liguei para garotos, na real, até o ano passado me questionava sobre não gostar tanto assim. Mas não era algo que eu estava querendo pensar esse ano.

04:00

Minha irmã estava tão ansiosas que levantou ás 04 horas da manhã para se arrumar, mesmo sabendo que chegaria mais acabada do que bonita no colégio por estar morrendo de sono.

Roupas, sapatos e alguns produtos de cabelo espalhados pelo quarto. — Odeio o fato de dividir o quarto e lidar com as bagunças de Marie.
Mas a assim como ela, confesso que estava insegura com a minha aparência também, mas não me dei ao luxo de me arrumar igual a Marie.

Não sou como Marie. Ela sim gosta de chamar atenção. Depois que vazou a lista das meninas mais bonitas do colégio, ela luta incansavelmente pelo seu posto esse ano.
Já eu não dou a mínima para o que um monte de gigolôs pensam.

06:30

– Quem você acha eu caíu na nossa turma? — Marie pergunta enquanto a minha boca estava cheia de pasta de dente.

– Sinceramente eu não sei e não ligo, e acho que você deveria fazer o mesmo. —Falo cuspindo na pia toda a pasta de dente.

– Estamos na turma dos especiais. Estou  animada por não estarmos mais no meio daquela bagunça. — Diz enquanto  tenta invadir o meu espaço da pia.

As "turmas especiais" foram criadas, segundo eles, para separar quem realmente quer estudar e e tem boas notas.  O que não faz nenhum sentido eu estar naquela turma, já que não chegou nem perto da média.

06:20

– Você percebeu que vamos nos atrasar, né?—Perguntei enquanto arrumava o cabelo.

- Se você tentasse se adianta um pouquinho aí, até que ajudaria. Eu não queria chegar tarde. — Marie fala impaciente.

– Pode ir na frente, sei que vossa alteza não gostaria de perder a sua entrada triunfal. — Digo estressa com o meu próprio cabelo.

– Lourdes, o seu cabelo está ótimo. Agora ande logo. — Ela guardando seus cadernos na mochila.

– Se tivesse o cabelo liso igual o seu talvez eu não demoraria tanto! — Bofo.

-
– Se você tivesse levantado para se arrumar comigo já estaria pronta. — Maria paga uma mecha do meu cabelo.
– Lola, seu cabelo é lindo, amo os seus  cachinhos! —Fala enquanto se afasta.
"Talvez ela esteja certa, eu não estaria passando por essa frustração se tivesse levando cedo..."

Os penteados não funcionavam, meu cabelo não ficava no lugar, solta, prende e cabelo se embolava mais. Desisto.

6:55

– Merda, merda, merda!— Eu repetia várias vezes a caminho da escola, evitando olhar para qualquer objeto que refletisse a minha imagem.

"Boa Lourdes, logo no primeiro dia!" - Até o meu inconsciente me julgando.

Minha cabeça tende a me atormentar.

07:00

Vejo a diretora indo fechar o portão.

– NÃAAAOOOO!!!!!! — grito o mais alto possível.

Ela faz um sinal para que eu ande rápido, eu saio correndo.

– Pelo amor Deus, vocês precisam ser mais responsáveis, ainda mais no primeiro dia. Agora vá para a sala! — Ela diz fechando a pequena brecha pela qual eu passei.

– Obrigada! Tenha um bom dia. — Falo tão ofegante que acredito que ela não entendeu uma sequer palavra.

Após subir dois lances de escadas, e quase não está sentindo as minha perna, chego perto da porta e paro em busca de algum ar para entrar nos meus pulmões.

Coloco a mão na fechadura e abro a porta até que .....

Eu esbarro em alguém e acabo derrubando o copo dele de água no chão.

– Oh meu Deus! Foi mal, sério, me perdoa... — Digo enquanto me abaixo para pegar o copo do chão.

Quando olha pra frente.... lá estava você!

– Tudo bem, não estava tão cheio assim... — Disse ele em um tom de brincadeira.

Levando e entrego o copo.

E durante àquelas pequenos segundos eu havia esquecido que estava em uma sala cheia de alunos.
Quando finalmente olha envolta vejo mais de vinte pessoas me olhando e outras rindo.

"Boa Lourdes, mais uma vezes deixando a sua marca registrada de como você consegue se afundar" —Penso.

No meio daquela multidão de jovens, procuro Marie, prometi que sentaria com ela no primeiro dia. Mas com tanto nervosismo me sento no primeiro lugar vazio que vejo.

Sento e abaixo rosto, na esperança que todas aquelas pessoas sumissem. Até que sinto alguém se sentando ao meu lado.

"Não levanta a cabeça, continue agindo como se não existisse ninguém ao seu lado Lourdes." — Me ordeno.

Após  5 minutos, decido me desobedecer e vem quem era.

O garoto do copo.

Mantendo os meus olhos vidrados no quadro, com receio de que se eu e olhasse para o lado a vontade de fugir daquela sala voltasse.

Tocou o sinal para o primeira troca de professores e os meus olhas buscaram Marie por toda aquela sala.

– Olha, acho que você quebrou o meu copo. — Ele diz olhando em tom de brincadeira.

Meus olhos pararam de  buscar Marie e vão de encontro com os dele.

– Ah, sério? Quanto que ele foi, eu te pago outro... —Digo pensando em mil formas de voltar no tempo.

– Bom, ao invés de me pagar um copo, você poderia, sei lá, me pagar um lanche? Acho que isso valeria pelo copo. — Ele dá um sorriso enquanto fala.

" Uau, acho que essa é arca dentária mais perfeita do que eu já vi" — Penso com os olhos fixados em seu sorriso.

– O que acha? — Ele fala olhando para minha boca.

"Não, não olhe para os dentes nada alinhados ou brancos como os seus, você não tem esse direito." - Digo para ele por telepatia.

– Pode ser. —Volto os meus olhos para o quadro sem qualquer coisa escrita. Brancos como o sorriso dele.

Após essa conversa seguimos até o intervalo geral sem nos falarmos.

10:30

Já era hora do intervalo, e ele se levantou e não falou sobre do lanche. Me deixando aliviada, talvez ele só estivesse brincando e eu não entendi.
Enquanto todos saiam da sala Marie finalmente aparece.

– Que jeito bom de começar o seu primeiro dia de aula, Lola. — Fala me dando uns tapinhas no meu ombros.

– É só comigo que essas coisas acontecem... — Enfio a cara dentro do gorro da meu moletom.

Sinto alguém nas minhas costas.

– Lourdes... — Diz apontando para que eu olhe pra trás.

– Oi, Lourdes! Queria saber se rola o lance do lanche agora? — Ele fala passando a na sua nuca. — Ele, ele tá nervoso...

ANTES DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora