14 | S a n t a P e c a d o r a

32 2 6
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


O céu estava tranquilo naquela noite. Nada de nuvens cinzentas ou estrelas brilhantes demais. Nada de sofrimento para aqueles que desfrutavam do  calor, nem alegria para aqueles que contavam as estrelas em busca de pedidos atendidos. Apenas... Uma farsa, apenas uma máscara naquela cidade cheia de podridão. Dei um passo para fora do interior do meu pequeno apartamento e sentei-me contra o parapeito da sacada estreita. As hastes enferrujadas chiaram atrás de mim, mas apenas continuei a comer meus nachos em paz, ignorando tudo ao meu redor — inclusive aquela pequena carta que eu havia recebido sob a soleira da porta, há horas.


Aparências enganam.

Quem diria que a santa da família aprecia o pecado!

Seus familiares não ficarão muito contentes.

Verdade ou Mentira?


     Engolir aqueles nachos se tornava cada vez mais difícil, porque pude sentir minha garganta se fechando quanto mais meus pensamentos eram direcionados àquelas palavras escritas.  "... O pecado!", dizia a carta. Seria isso mesmo? Durante toda a minha vida eu tinha fugido de todas as pessoas que me julgavam com um simples olhar; tinha feito o possível e impossível para ser quem esperavam que eu fosse. Eu sempre soubera que minha orientação sexual afetaria minha vida, como o que dizia aquela carta. Mas se aquelas palavras chegassem aos ouvidos da minha família...

     A campainha tocou.

     Coloquei o pacote de nachos ao meu lado e, com um impulso, levantei-me com ligeireza. Instintivamente, tomei em minhas mãos um revólver escondido entre as almofadas irregulares do sofá da sala de estar. Limpando a boca com uma mão e firmando a outra na arma, coloquei-me em frente à porta. No entanto, assim que olhei por um vão estreito da porta e percebi quem estava do outro lado, senti o alívio me percorrer. Só então pude guardar a arma de volta ao seu lugar. Destravei a porta e pisquei uma, duas vezes.

     — Lorrane. — murmurei, surpresa.

     Incrivelmente bela, com um corpo magro e longilíneo, Lorrane Moreau era a princesa da Cidade-Luz. Ela estava vestida com um casaco de pele e segurava uma mala cor-de-rosa. Analisando seu visual, perguntei-me mais de uma vez como que toda aquela beleza havia sido despercebida por mim, desde os longos cabelos pretos normalmente usados em finas tranças até a pele cremosa e escura. Talvez fosse porque eu estava distraída demais com Camila, a ex-companheira que deixei para trás quando cheguei em Paris. Mas nada me fazia questionar o quanto Lorrane me atraía. Fosse a meiguice ou as habilidades incríveis na Rose Noire, eu não conseguia parar de pensar em como seria tê-la comigo.

     Eu tinha noção de que a família da morena era mais complicada que o normal, porque os Moreau eram a personificação da elegância e perfeição. Logo, levá-la comigo era o mesmo que corrompê-la. Então, talvez eu fosse mesmo uma pecadora, levando Lorrane junto comigo para perto dos preconceitos e das palavras maldosas. Mas ela não parecia se importar. A morena tinha tanto, tanto sobre os ombros que o que eu estava oferecendo parecia uma salvação, quando, na verdade, era mais um veneno. Cada beijo proibido nos levava mais perto de uma queda feia — mesmo que meu coração insistisse que valeria a pena.

ℂorações de DiamantesOnde histórias criam vida. Descubra agora