League of Legends - A Magia Perdida

A Encantadora das Marés

O sol brilhava um tanto fosco, ou talvez fosse sua visão que estivesse embaçada, havia um silêncio incomum, ou quem sabe ela não estivesse habituada a lugares silenciosos. Fortune piscou algumas vezes, mas a sensação de um sol distante e embaçado permanecia diante de seus olhos. Olhou ao redor e prendeu a respiração automaticamente, estava embaixo d'água, mas... Tinha algo estranho, ela estava... Respirando e não havia aquela sensação de estar mergulhada, só percebeu que estava submersa porque viu pequenos peixes passeando ao redor e uma película tremeluzir em torno do lugar onde estava, era como se estivesse presa em uma enorme bolha de ar. "Deve ser um sonho, deve ser mais um daqueles sonhos malucos que eu costumo ter, mas que coisa!" Pensou consigo mesma e se virou para explorar um pouco o lugar que sua cabeça de minhoca havia criado dessa vez. Ainda tentava acreditar que era um tipo de sonho lúcido quando ouviu uma voz que, curiosamente, ela já tinha ouvido antes.

▬ Os humanos e seu... ar. Você pode respirar tranquila aqui, enquanto carregar essa pérola a bolha não irá se desfazer, está segura. ▬ Fortune a mirou um tanto incrédula, apesar de reconhecer a voz, não se lembrava dessa criatura. E o mais espantoso era o conceito de 'segurança' dela. Como se não fosse a culpada por ela estar submersa e tendo que ficar em uma espécie invertida de aquário. Olhou para a pérola presa a uma espécie de pulseira em seu pulso e voltou a olhar para a sereia a sua frente.

Claro que ela já tinha ouvido falar sobre sereias nas Águas de Sentina, mas certamente não esperava encontrar uma sereia no meio de um laguinho da selva e mais, as sereias não conquistavam homens para devorá-los no fundo do oceano?! Ela estava em um lago, a porcaria de um lago e com certeza não era um homem, e ainda tinha algo estranho, ela lembrava de uma mulher, uma mulher de cabelos negros e olhos muito azuis, sem que percebesse ela estava encarando a sereia a sua frente que a mirava de volta com um ar de riso diante da sua confusão.

▬ Acho que você talvez esteja procurando isso... ▬ Sua imagem se distorceu levemente, e no lugar onde havia uma sereia com a pele coberta de escamas verde brilhantes, guelras, nadadeiras e cauda, apareceu a mulher que ela vira no lago, com seu vestido branco e cabelos negros.

▬ Nada de ficar convencida... ▬ Fortune resmungou meio mau humorada, por algum motivo a imagem da sereia transformada causava certos arrepios em seu corpo. A sereia voltou a mudar de aparência, os olhos tornando-se dourados, o cabelo assumindo um tom claro, aguado, e uma pedra azul reluzindo majestosamente em um adorno sobre sua cabeça. Claro, magia de sereia. Dessa vez ela tinha conseguido se meter em uma baita confusão, estava nua, em águas desconhecidas, conversando com uma sereia. ▬ Acho que eu voltar pra superfície não é uma opção, ou é? ▬ Questionou ao se levantar e andar sobre a areia macia do fundo do lago em seu "quarto-bolha", seu olhar tentando captar algum tipo de alga ou vegetação marinha que pudesse usar de roupa e tampar não só seu corpo, mas também o fato de que não fazia ideia do que tinha acontecido desde o momento em que adormecera na água. Nunca tinha se atentado em pesquisar como as sereias se reproduziam, caso voltasse a superfície isso era algo que procuraria saber.

▬ Talvez seja, depende do que você tenha a me oferecer. ▬ Ela se aproximou rapidamente, era incrível a velocidade com que se movia dentro d'água e com a qual se transformava também, já que sua aparência estava novamente como na superfície. ▬ Vamos, me dê algo e eu a levo de volta. ▬ Fortune respirou fundo, aproveitando que ainda podia respirar e se perguntou o que tinha a oferecer. Todas as suas coisas estavam na superfície, só tinha seu corpo, um colar com pingente dado por sua mãe e suas lembranças. O que poderia dar a uma sereia?!

▬ Eu tenho... O colar da minha mãe, mas não posso te oferecer. O que posso te dar é o meu nome, um suspiro e uma lembrança, uma canção dos meus tempos de criança, algo que você não pode tocar, mas pode guardar. ▬ Ela esperou que a sereia visse a sinceridade em suas palavras, jamais poderia se desfazer de algo que sua mãe lhe dera, e o que era mais precioso do que o abstrato? As emoções que as lembranças carregam?!

A sereia pareceu cogitar por alguns instantes e por fim respondeu:

▬ Existe magia em você, e bondade, e dor. Existe também ódio e vingança. Eu já conheci alguém assim. Ela também estava sozinha em uma floresta. Talvez você deva procurá-la depois. Eu aceito suas lembranças e já que você me dará seu nome, fique também com o meu. Eu sou Nami, a encantadora das marés, filha do oceano. Tome... ▬ Ela se aproximou com o cajado que, assim como sua aparência, também havia mudado, o cajado projetava uma pequena luz e uma delicada bolha saiu de sua ponta, deslizando pelas águas até a mão da sereia que a ofereceu a Fortune.

▬ Cante suas lembranças e eu as guardarei pela eternidade. Cante sua dor e eu acalmarei a sua alma. Cante a sua felicidade e seu riso ficará eternizado no coração do oceano. ▬ A capitã a olhou e concordou com a cabeça.

▬ Sarah Fortune, eis o meu nome. ▬ Dizendo isso, pegou a bolha com cuidado e repetiu a canção que ecoava em seus sonhos, a cantiga de roda que tanto cantara quando criança brincando no cais das Águas de Sentina, a canção que acompanhava uma melodia de riso das crianças, que também era cantada pelos marujos bêbados nas tavernas ao lembrarem seus dias de inocência depois de se afogarem em bebida. Copos brindando, riso levado pelo vento, memórias em uma canção, sua vista fechou-se em neblina, não havia mais música, e quando acordou, estava à beira da nascente com um espelho adornado em dourado e rosa, com pequenas contas verdes, em sua mão.

▬ Eu me lembrarei de você... Nami.