Os passos pesados e lentos de Beric em sua direção faziam com que o coração do garoto acelerasse, de repente Beric parou em frente a Aygon e com um olhar sério o encarou por alguns segundos.
— Aurora me contou sobre Acapane, me disse também que você contribuiria em prol dos meus amigos — murmurou Aygon enquanto desviava o olhar, na tentativa de quebrar aquele estranho clima.
— Está enganado, eu não dou a mínima para você e seus colegas — exclamou o general — Não tenho o mínimo de interesse em saber quais são seus objetivos ou qualquer coisa do tipo. Apenas vá para Vila Naok e tente encontrar um garoto chamado Peter, diga a ele que te enviei para investigar o acontecido de anos atrás, ele irá entender imediatamente.
Ao ouvir tais palavras Aygon se levantou da cama em instantes, ficando em frente ao General.
— Vila naok? — É pra lá que Totorios pediu para eu ir — afirmou Aygon com os olhos arregalados, completamente intrigado com a coincidência.
Beric proveu um olhar sério enquanto sua expressão ia se fechando cada vez mais.
— Como disse, não me interesso por seus deveres. Se quer ver seus amigos vivos, apenas faça o que te mandei.
— Tudo bem eu aceito seu pedido, porém não sei como chegar a Naok.
— Já está tudo pronto, arrumei um guarda para ir com você, este mesmo irá te apresentar a cidade essa noite — afirmou o General, se retirando do quarto — Está fazendo o que parado? siga-me.
Em instantes Aygon se levantou e começou a seguir Beric.
Enquanto caminhavam em silencio pelo enorme corredor, Aygon ia admirando os belos retratos de paisagem que havia em abundância, todos pendurados nas paredes. Após atravessarem o corredor o jovem deslumbrava um enorme salão, com várias luminárias sobre o teto cheias de velas, enquanto descia uma escada de madeira.
Beric observava discretamente a empolgação de Aygon ao andar pelo castelo.
Após descerem a escada que possuía um formato circular, ambos atravessavam o salão, e Aygon admirava as belas estatuas de gesso presente no local. Más o que realmente chamava sua atenção era uma arvore com várias folhas rosas bem no centro do salão.
Aygon queria olhar mais de perto, porem era difícil acompanhar os passos do general, que os levaram em um piscar de olhos para uma porta de madeira com bordas douradas. Após entrarem se depararam novamente com um corredor, nele possuía bem mais portas que o anterior, e pela primeira vez Aygon viu outras pessoas presentes no castelo, a maioria sentadas em bancos nas laterais, com roupas luxuosas.
Enquanto caminhavam, várias pessoas reverenciavam Beric, que ao olha-las não demonstrava nenhuma reação.
— Chegamos — afirmou o general em frente a uma porta Branca.
Ao abrir a porta, Aygon se surpreendeu ao ver Elfredo sentado em uma grande mesa de metal, enquanto uma mulher com roupas e sapatos brancos trocava os curativos de seu braço.
— General Beric — disse a mulher, reverenciando-o.
— Como está o braço do jovem?
Aygon tentava ao máximo desviar o olhar de Elfredo que o encarava sem dizer uma palavra.
— Ele teve seu osso quebrado e um leve deslocamento de seu ombro, porém já foi tratado, agora basta deixar seu corpo ir cuidando do resto.
No mesmo instante um homem entrou na sala , ele possuía uma barba razoavelmente grande e preta, assim como suas sobrancelhas que por pouco não emendava com o cabelo.
— Vergonha, que vergonha — afirmava o homem andando em volta da mesa metálica.
Elfredo mudou sua postura no momento em que o homem entrou, mantendo a cabeça baixa.
— Não fazem nem duas semanas, que EU coloquei você nesse cargo e você me faz passar por um vexame desses.
— Bispo Edimundo — murmurou Beric.
— Boa tarde general, me diga o que você faria com seu filho se ele trouxesse essa vergonha para a família? — questionou o bispo nitidamente agitado — Ah me desculpe, esqueci daquela tragédia envolvendo seus filhos.
Beric o encarou por alguns segundos, cerrando seu punho com força.
Enquanto o observava Aygon conseguiu sentir um desconforto vindo de Beric.
— Sem problemas Edimundo, em relação a seu filho, já temos uma nova missão para ele, talvez ele consiga se redimir.
— Bravo, bravo, assim espero! — exclamou o bispo enquanto batia palmas sutilmente – Você conseguiu entender não é mesmo? — Sem falhas dessa vez, chega de me decepcionar — completou com o rosto próximo a de Elfredo, que em resposta apenas concordou balançando a cabeça.
— Bom tudo certo então deixe-me ir, logo mais o rei estará chegando, até mais cavalheiros — disse o bispo se retirando da pequena sala.
— Por que eu Beric? — escolha outra pessoa — afirmou Elfredo que após a saída de seu pai se levantou.
Beric olhou para a enfermeira que rapidamente saiu e fechou a porta.
— Isso faz parte do acordo, você ficaria calado em relação ao que viu na estrada e acompanharia o jovem até Naok, em troca manteria seu cargo como líder do esquadrão de impostos — afirmou Beric.
— Olha pra mim tanto faz quem vai me levar até lá ou não, mas antes disso eu exijo ver meus amigos — Interrompeu Aygon, se posicionando entre Elfredo e Beric.
— Você não está em posição de exigir nada — afirmou o general.
Elfredo levou sua mão até sua boca, enquanto dava um sorriso.
— Mas eu admiro sua ousadia jovem — murmurou Baric — Elfredo você ficara responsável por ele, leve-o para ver seus companheiros, depois apresente a ele um pouco da capital e assim que o Rei chegar leve-o até um dos quartos para ele se arrumar.
— Só pode ser brincadeira — resmungou Elfredo, desviando o olhar.
Beric caminhava até a saída, quando subitamente parou — E não se esqueça, para missão ser concluída com hesito, Aygon tem que voltar vivo.
— Sim, senhor — respondeu Elfredo, reverenciando o general.
— Bom então, me leve até os meus companheiros – exclamou Aygon logo após Beric deixar o local.
Elfredo deu alguns passos acelerados com um olhar emanando ódio e agarrou Aygon com seu braço bom pela gola de sua camisa.
— Seu caipira de merda, não pense que você tem o direito de falar comigo ou de que estamos no mesmo lado, pois a primeira coisa que irei fazer assim que terminar essa missão é cortar sua cabeça.
Enquanto era pressionado Aygon veio a se lembrar dos membros do esquadrão de Elfredo que havia matado, as lembranças fizeram acarretar um sentimento de peso e angustia sobre o jovem, que começou a suar frio.
— Não precisa se afobar, só irei fazer isso após concluir minha missão — disse Elfredo soltando Aygon com um sorriso em seu rosto — Anda logo, temos que trocar essas suas vestimentas, não quero que ninguém me veja andando com um caipira encardido.
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Regressão: A quebra do espelho
FantasyAs pessoas necessitam de um propósito, pois somente assim conseguiram dar um sentido para suas existências. Aygon não se difere dos demais, um jovem que esconde um grande segredo, carregando em sua vida várias dúvidas e perguntas sem respostas. En...