GRITO

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“Mãe, eu me mudei ontem, como é que você já tá morrendo de saudades?” _ Disse, ouvindo minha mãe soltar um suspiro indignado do outro lado da linha.
“Ora essa! Agora não posso mais sentir saudades do meu filho?”
Me limitei a rir, eu já tinha 21 anos, era extremamente comum pessoas da minha idade morarem sozinhas, mas para minha mãe, Alice Carpenter, custava a entender isso, ela dizia que eu estava a abandonando e que daqui a um tempo ia aparecer em sua casa só uma vez por ano.
Tudo exagero.
“Mãe, eu precisava sair um pouco de baixo das suas asas.”
“E qual é o problema de ficar embaixo das minhas asas!”
“Mãe...”
“Okay, eu sei, tenho muito orgulho de você. Mas qualquer coisa pode voltar pra casa, tá bem?”
“Eu sei, dona Alice. Não se preocupe.”

A gente conversou mais algumas coisas, até ela precisar desligar, para colocar a Estelle no banho. Mas antes me fez prometer, umas cinco vezes, que não ia viver de miojo e congelados.

Eu entendia toda preocupação dela, a gente passou por muitas coisas, e até um tempo atrás era apenas nos dois, contra o mundo.
Minha adolescência foi meio complicada, mas agora estava tudo tão calmo que era até estranho.
Eu estava fazendo faculdade e trabalhava numa loja de artigos para surfe, tudo estava indo bem, mas sabe aquela sensação de que alguma coisa vai acontecer e eu não fazia a mínima ideia do que.

                         [•••]

Estava na sala assistindo, então aqueles malditos barulhos começaram.
Primeiro foi um vaso quebrando, depois baques surtos nas paredes, vários ruídos e batidas.

Já tinha pensado em ir reclamar, mas não tinha visto a cara do meu vizinho ainda, como o prédio era pequeno e tinha dois apartamentos por andar, eu era o único que escutava os barulhos, ou seja, era único que iria reclamar e torcer pro cara levar numa boa e não querer briga, tinha acabado de chegar, não queria sair por aí arranjando briga com vizinho alheio.

Decidi que amanhã falaria com ele, porque provavelmente ele nem sabia que tinha um novo morador ali, já que cheguei ontem.
Fui deitar, sabendo que teria que acordar cedo no dia seguinte.
Assim que deitei minha cabeça do travesseiro, ouvi um grito.

Eu pude sentir o medo que aquele grito transmitiu. Foi horrível. Meu coração acelerou, levantei e ainda de pijama fui até a porta do outro apartamento, quando ia bater os barulhos
cessaram.

Encostei meu ouvido na porta, afim de ouvir qualquer ruído, como um fofoqueiro de plantão.
Escutei uma vozinha de criança dizendo:

- Mamãe, levanta! To com medo.

UM DIA APÓS O OUTRO (EM ANDAMENTO) Onde histórias criam vida. Descubra agora