Capítulo 6

209 15 6
                                    



Hoje em dia, o amor é tão raro, que todo mundo SONHA, com um.

AMANDA:

Sempre disse que odeio contos de fadas e romances açucarados, mas a verdade é que já devorei todos. Não porque acredito neles, mas porque amo me perder em seus mundos. Lugares onde as feridas se curam com perdão, onde o amor é puro, real, e as pessoas lutam por ele, mesmo diante de todas as tempestades.

No ensino médio, colecionei corações partidos como quem junta pedaços de um sonho desfeito, e cada um deles me ensinou que o amor talvez seja obra do acaso. Mas, no fundo, não odeio esses contos nem suas promessas doces. O que realmente temo é passar pela vida sem nunca viver um.

Por fora, pareço inteira, mas por dentro sou feita de cacos que guardo em silêncio. Consigo enxergar a beleza nos gestos de amor em público, mas Deus me livre de vivê-los. Pedidos de casamento exagerados arrancam lágrimas discretas e acendem uma faísca de esperança, mas nunca consigo acreditar que algo assim seja para mim. Parece um sonho reservado aos outros, nunca a mim.

Observo casais ao meu redor e sorrio ao vê-los sorrindo. Talvez o amor, para mim, seja apenas isso: a última coisa genuína que ainda brilha em meio às sombras de uma vida marcada por cicatrizes.

O que mais me atormenta é a indiferença das pessoas em relação ao amor. Elas descartam umas às outras com tanta facilidade, fingem sentimentos, espalham eu te amo por aí como se fosse uma frase qualquer. Esquecem que eu te amo não é só um conjunto de palavras, é uma promessa que deveria ser carregada de verdade.

Em todas as histórias de princesas que meu pai lia para mim, percebi um padrão: as princesas eram humilhadas por madrastas cruéis, perseguidas por bruxas, aprisionadas em torres, amedrontadas por dragões ou envenenadas. E os príncipes? Tudo o que precisavam fazer era oferecer o beijo do amor verdadeiro e, ainda assim, acabavam levando todo o crédito da história.

Então, comecei a ler romances e notei outra verdade: príncipes encantados não existem, tampouco princesas. O que existe, na realidade, são pessoas que decidem ficar juntas porque se amam. Pessoas dispostas a enfrentar os desafios que o "felizes para sempre" omite. O que os livros muitas vezes não contam é que amar exige mais do que paixão; exige escolha. Escolha de ficar, mesmo diante da rotina, dos dias ruins, das brigas, das dificuldades da convivência e de tudo que não cabe em contos de fadas.

A verdade é que o final feliz não é "e viveram felizes para sempre". O verdadeiro final é "e viveram felizes, apesar de tudo".

Não existe maior ato de coragem do que o de decidir amar, porque o amor, em sua essência, é uma escolha diária — um compromisso constante com o apesar de tudo.

Sempre fui taxada de exigente pelas minhas amigas. Elas dizem que eu sonho alto demais, que é irreal querer algo tão distante do comum. Mas eu nunca quis um amor morno, sem graça, sem paixão. Sempre desejei algo raro, algo que me tirasse do chão, que me transportasse para outra realidade — um amor que fosse tão intenso quanto os sonhos que cultivo em silêncio.

E agora, estar de frente com tudo aquilo que sempre desejei é, no mínimo, assustador. Não posso dizer se Henrique é o amor da minha vida. Não sei se ele estará ao meu lado até o fim, mas de uma coisa eu tenho certeza: ele é raro. E isso, por si só, já faz com que meu coração o reconheça de um jeito que nunca reconheceu ninguém.

                                      ...

O sol começa a invadir o quarto, aquecendo meu rosto e me despertando suavemente. Abro os olhos e, ao meu redor, vejo apenas a imensidão da cama de modelo colonial, vazia. O cheiro do travesseiro ainda carrega a presença dele, mas ele não está aqui. Olho para o lado e para o outro, mas nem sinal dele, e sinto sua ausência como uma marca no espaço.

NÃO ME CHAME DE PRINCESA!Onde histórias criam vida. Descubra agora