A sorte não dura pra sempre

16 1 15
                                    

Os raios do sol já brilhavam com fervor. Mais um dia começava e Seu Pedro levantava de sua cama feliz e contente. Seus dias tem sido assim desde que juntou-se numa parceria com o bicho que a tempos atrás era a mais judiado daquele lugar. A galinha que tinha se mostrado útil pra o velho, se tornou animal de estimação e de grande apreço.

Para Pedro a galinha era posse dele tão como seus porcos e sua fazenda. O que ele não imaginava é que havia mais gente de olho nela.

No raiar do meio dia, Seu Pedro terminava de fazer seu almoço quando o telefone tocou.

"Diga?"

"Tio Pedro! Sou eu Gabriela!" falou a menina quase entrando dentro do telefone de tanto entusiasmo.

"Gabriela, minha filha! Que saudade. Tudo bem por ai?"

"Tudo sim. Liguei pra saber como o senhor tá. Meu pai mandou um abraço"

"Diga a ele que mande você pra cá ao invés disso"

"Mas titio... o senhor sabe como tá a situação aqui em casa"

O velho parou, respirou fundo e pensou por um momento. Até que lhe surgiu uma ideia.

"Venha que eu pago sua ida e volta"

"O senhor não precisa ter esse trabalho..."

"Não. Venha se embora. Pode deixar que eu arco com tudo"

Desse jeito ficou. Gabriela chegaria no outro dia, mas Pedro já arrumava tudo pra deixar a sobrinha confortável.

Mais tarde, varrendo seu quintal, ele recebe de repente uma visita impensável.

"O que você quer aqui na minha casa?"

"Ora, homem. Eu quero lhe propor uma negociação"

Era Seu Antônio, que estendeu uma prancheta, com um papel e uma caneta. O vizinho olhava com uma cara astuta de raposo.

"Eu não quero nada que venha de você"

"Você não, mas eu quero."

Logo Pedro se encabulou.

"Oxê... Desembuche logo, seu olho gordo"

"É simples. Eu quero que você assine essa procuração passando a galinha que você pegou pra o meu nome e em troca eu lhe pago em dinheiro ou o que você escolher"

Seu Pedro pegou a prancheta e leu de letra a letra, mas quando pegou a caneta, riscou um "x" bem grande de um lado a outro deixando Antonio mordido de raiva.

"Ora seu corno!"

"Desapareça da minha frente seu invejoso descarado!"

A galinha que ciscava no quintal assistia tudo sem entender o que se passava. A bichinha nunca tinha recebido tratamento tão previlegioso quanto nessa temporada de estadia na casa do velho fazendeiro. Era milho toda hora, cantinho pra dormir, um luxo que ela nunca sonhava em viver sendo a galinha que era.

No outro dia, Seu Pedro saiu cedinho e foi direto pra rodoviária. Sua sobrinha esperava com as malas na mão e o sorriso largo no rosto. A moça era querida de mais pelo tio. Assim que a viu, ele a abraçou, lhe deu um cheiro na cabeça e não se soltou mais da menina. Que felicidade.

Chegaram em casa quase hora do almoço e Seu Pedro logo teve a ideia de ir comprar um galeto pra comemorar a chegada da menina.

A cidade estava movimentada como um formigueiro, foi uma luta pra encontrar um lugar com pouca gente.

No caminho de volta, ele teve uma surpresa. Antonio do lado de fora de sua casa todo fingido.

"Você aqui de novo seu caba safado!"

"Você se atente a esse seu palavreado comigo..."

Pedro olha pro quintal por um momento, olha de novo pra Antonio irado.

"Cadê ela?!" Fala já partindo pra cima do vizinho

"Ela quem imbecil? Ficou doido de vez?!"

Pedro entra no quintal, deixa o galeto apoiado numa cadeira e vai pra fora atrás do vizinho.

"Você roubou minha galinha rapaz!

"Eu la roubei galinha sua, seu abestalhado, eu vim aqui pra lhe trazer outra proposta"

"Que mané proposta.. Você entrou, roubou e escondeu. Fale onde ela tá!"

Os dois fazendeiros já iam partir pra briga quando uma voz parte da casa de Pedro.

"Titio, venha almoçar" Os dois fazendeiros param por um momento e se atentam a um cheiro peculiar que vinha de dentro da casa de Seu Pedro. Cheiro de galinha.

Naquele dia os dois velhos compartilharam pela primeira vez uma coisa na vida. Talvez azar, talvez tristeza e até remorso. Mas uma coisa é certa, quem não teve sorte foi a galinha.

[Fim]

Foi isso galera, espero que gostem, indiquem pra quem vocês quiserem e leiam quantas vezes quiserem até essa história chegar em forma de HQ.

Um grande abraço, Kani. ✧◝(⁰▿⁰)◜✧

A Sorte não foi da galinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora