HOSPITAL

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-A gente tá muito longe?- Shivani perguntou abraçada a sua mochila e observando a ilha que foi seu lar por alguns meses ficando para trás.

- Não, na verdade estão muito mais perto do que imaginávamos- Marcos respondeu- Em umas meia hora devemos pousar.

-E em que país estamos?- foi a vez de Noah.

-Nós mapeamos todas as ilhas do Caribe, vocês estavam em território desconhecido- Any respondeu- Perderam a oportunidade de fundarem seu próprio país. -Os dois riram baixo

-Acho que estávamos trabalhando para isso- Urrea disse baixo o suficiente para só Shivani ouvir.

-Vocês estavam tão perto da Costa do México- Radha se lamentou.

-Nós estamos indo pra casa?- Shivani perguntou esperançosa

- Não, nós vamos para Havana. Passamos os últimos dias procurando nos arredores de Cuba, vocês vão direto para o hospital fazer exames e nós vamos fazer o procedimento com a Polícia e a Imigração para que possamos ir para a Índia o mais rápido possível. - a Indiana comunicou

- Eu posso ir com eles para o hospital enquanto vocês resolvem a documentação- Any se pronunciou

-E eu mandarei passagens para Udaipur para Wendy e Linsey. Acho que todos precisamos conversar e colocar a cabeça no lugar antes que vocês dois pensem em trabalho e precisem ir para Los Angeles resolver como as coisas vão ficar.

- Tudo bem- os dois apenas concordaram.

Muitas perguntas se passavam por suas cabeças, o que seria do grupo, se precisariam sair ou se afastar, se iriam os esperar, se dariam um jeito de continuar.

Porque eles queriam, eles queriam mais que tudo continuar.

Ninguém se quer havia tocado na palavra gravidez, o que não significava que todos não estivessem pensando nisso.

Um milhão de perguntas assombravam a mente de Radha e Marcos, porém eles sabiam que deveria respeitar o tempo dos filhos, que naquela hora tinham coisas mais importantes do que uma conversa.

Quando pousaram na capital cubana, a equipe de resgate do heliporto se prontificou a levá-los de ambulância até o hospital. Eles entraram no local frio e de paredes brancas andando, era estranho estar dentro de uma construção após tanto tempo.

- Eu preciso que os dois sejam colocados no mesmo quarto- Any bateu pé em espanhol no balcão da recepção enquanto os dois esperavam ao seu lado.

-Mas nossas enfermarias masculinas e femininas são separadas.

- Minha senhora, escute aqui- a brasileira se exautou- Esses dois passaram os ultimos quatro meses perdidos em uma ilha deserta, lá eles só tinham a companhia do outro e ela está grávida. Os dois estão com o psicológico abalado, preciso que faça isso- ela balançava as identidades em sua mão nervosa, falava alto e todos que aguardavam sentados tinham a atenção nos amigos. Muitos os reconheciam dos jornais, do Now United ou apenas estavam prestando atenção na discussão.

- Ele não fala espanhol- Shivani se meteu tentando convencer a mulher- Como irá se comunicar com a equipe? E eu não me sinto segura de ficar longe do pai do meu filho depois de tanto tempo afastada da sociedade, ainda por cima em uma país desconhecido- a mulher bufou atrás do balcão.

- Vou chamar o enfermeiro para levar os dois até o quarto, o clínico e o obstetra vão os atender e fazer os exames lá. Sinto muito mas não tem direito a acompanhantes- encarou a morena com um sorriso maligno no rosto.

Any bufou se sentando na recepção,  em seguida o enfermeiro chamou os dois.

-Boa sorte, vou esperar aqui até ter notícias. Carreguem o celular e qualquer coisa me mandem mensagem- avisou antes que eles se afastassem.

Poderiam carregar os celulares, nem se lembravam da existência dos aparelhos no fundo de suas mochilas. Depois de tanto tempo, poderiam voltar a ter contato com a tecnologia.

Por um segundo Noah pensou se as notícias já tinham se espalhado, se sabiam que eles estavam de volta, vivos e principalmente, se sabiam que Shivani estava grávida. Provavelmente sim, tudo corria muito rápido na mídia, ainda mais quando as notícias poderiam render visualizações e dinheiro. 

Eles entraram no elevador e quando começou a subir, Shivani procurou a mão de Noah. Tudo estava deixando os dois inseguros, tudo era motivo de preocupação e medo, como se eles estivessem sendo expostos a um mundo em que não estão habituados a viver. Suas respirações pareciam mais pesadas e necessitavam da presença, do contato com o outro para se sentirem em casa. Ele abraçou a garota de lado e se esforçou para se sentir bem.

Se passaram alguns minutos até se instalarem no quarto, o homem que os levou até lá colheu o sangue dos dois e levou as amostras.

O cansaço tomou conta e pareceram dormir, alguns centímetros de distância separavam as duas camas mas mesmo assim Urrea fez questão de segurar a mão da morena até receberem a visita do médico, um pouco mais tarde e já com o resultado dos exames. Ele os examinou e leu os papéis.

- Vocês dois estão saudáveis, o que me surpreende muito. Parece que conseguiram se hidratar e manter uma alimentação balanceada mesmo perdidos, de qualquer forma irei receitar duas bolsas de soro para cada e um coquetel de vitaminas. Shivani, seu exame realmente confirmou a gravidez, como era de se esperar. Assim que acabarem de tomar o soro o enfermeiro irá trazer as vitaminas e então os dois já receberão minha alta, mas daqui a pouco o obstetra vem fazer exames em você- apontou para a morena- e precisarão conversar com a psicóloga antes de serem liberados. Acredito que no máximo amanhã poderão voltar para casa.

- Tudo bem doutor, muito obrigada- a Indiana respondeu, traduzindo o que estava acontecendo em seguida para o americano.

- Eu estou bem, quero saber do bebê- Noah parecia nervoso e ansioso.

- Eu espero que esteja tudo bem com ele- ela passou a mão sobre a barriga

- Ou com ela- o americano acrescentou- Vamos poder pesquisar os nomes Shivani, vamos escolher um nome sabendo o significado. Poderemos organizar um quarto e nosso bebê vai nascer em um lugar seguro e bem amparada.

-Estou feliz que voltamos, pela segurança do nosso filho. Mas me sentia mais em casa na ilha do que nesse quarto gelado e sem graça.

- Vamos dar um jeito nisso, eu prometo. Vamos voltar a nos sentir em casa e criar o ambiente ideal para nosso filho ou filha.

-Eu espero que sim Noah, espero que a gente consiga.

-Nós sobrevivemos em uma ilha deserta Shiv, vamos dar conta. O mais importante é que a razão de pararmos naquele lugar está com a gente, está dentro da sua barriga- ele disse fazendo a morena enxugar algumas lágrimas

-Eu só espero que ele fique bem- ela voltou a falar da preocupação que sentia.

- Só precisamos explicar tudo que aconteceu para o médico e ele vai saber o que fazer, vai ficar tudo bem- ele se esforçou para se aproximar dela e beijou sua mão.

Eles se amavam, não tinha como duvidar disso.

A lagoa azul - Adaptação noavaniOnde histórias criam vida. Descubra agora