Geralmente fazia calor em Terra Nova. Como a cidade tinha somente 10 mil habitantes, e nem todo mundo tinha carro ou qualquer veículo motorizado, fazia com que a poluição no ar fosse mínima. Consequentemente, como não se tinha essa camada de poluição bloqueando os raios solares, a maior parte dos dias eram relativamente quentes.
Já se passava mais de dez da manhã no domingo e fazia mais de 27ºC lá fora, quando Helena bateu na porta do quarto de Victor para acordá-lo. Sempre fazia questão, quando Victor estava em casa, que ele acordasse cedo, já que eram nos finais de semana que os dois conseguiam aproveitar esse tempo juntos.
Os pais de Victor se divorciaram quando ele tinha apenas 5 anos, e desde então ele não tinha mais visto seu pai, e para falar a verdade, nem fazia mais tanta questão. Victor acreditava que o todo o seu caráter e integridade, foi graças a criação que sua mãe tinha dado. E reconhecia que não precisava e nunca precisou de uma figura paterna, principalmente, se essa figura fosse seu pai.
Por sempre contar um com outro, Helena e Victor sempre foram muito próximos, criando assim um laço muito forte entre mãe e filho. Um podia confiar no outro, tornando a relação entre eles, muito especial e um tanto diferente, comparado com relações entre mãe e filho, ainda mais de filhos LGBTQIA+, que na maioria dos casos, esses filhos e filhas não possuem apoio dentro de casa, e até mesmo chegam a ser expulsos, por conta de suas orientações sexuais.
Ao ouvir a sua mãe bater na porta de seu quarto, Victor, que tinha acordado a poucos minutos, estendeu o seu braço e pegou seu celular que tinha deixado carregando a noite toda, em cima da mesinha ao lado de sua cama. Depois de desbloquear a tela, que tinha Lady Gaga como plano de fundo como um bom Little Monster, começou a dar uma olhada em suas redes sociais, como de costume, assim que acordava.
— Filho, acorda! — bateu Helena novamente na porta do quarto de Victor, dessa vez pouco impaciente. — Vai perder esse dia maravilhoso dormindo, Victor? — perguntou Helena, mas dessa vez já entrando no quarto de seu filho, já que não teve paciência para esperar a resposta dele.
— Mãnhee.. — gritou Victor assustado por sua mãe ter entrado de repente em seu quarto. — E a minha privacidade, onde tá? E se eu tivesse pelado? — perguntou meio nervoso por conta do susto.
— Ué, eu não veria nada do que já tivesse visto antes. Quem você acha que trocou suas fraldas, hein? — perguntou Helena sorrindo e achando graça. — Mas agora é sério.. — começou dizendo. — Você já comprou a sua passagem pra hoje a noite? — perguntou Helena, se referindo à passagem para voltar pra São Paulo.
— Já sim, Dona Helena! — respondeu seu filho, já levantando da cama e arrastando a cortina para entrar um pouco da claridade da manhã ensolarada, pela janela de seu quarto. — E antes que pergunte, já arrumei a minha mala também. — adiantou Victor e dando uma piscadela para sua mãe e sorrindo.
Depois de se atualizar em suas redes sociais, Victor continuou com o seu ritual matinal.
Conectou o Bluetooth de seu celular na caixinha de som que tinha ganhado de Mika, como presente de aniversário do ano passado, e colocou a playlist que tinha criado com suas músicas preferidas para tocar.
Depois de ter tomado banho e escovado os dentes, Victor foi até a cozinha para tomar café da manhã que sua mãe tinha preparado. Sempre quando Victor está em casa, sua mãe faz questão de preparar uma mesa com bolos, pães, frios e com tudo que Victor tinha direito. Essa era uma, das infinitas formas, de Helena dizer que amava Victor, além de dizer que o amava quase toda hora.
Depois de tomar este café da manhã reforçado, era tradição entre os dois, fazer uma caminhada pela cidade, passando por dentro do parque que tinha a poucos metros da casa deles.
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A Adaga de Sangue
AdventureMika sempre soube que não era igual às outras garotas de sua idade. Além de ser lésbica, Mika sempre sentiu que tinha algo lá fundo que queria sair, mas não sabia o que era. Depois de se mudar para a cidade grande e achar um objeto mágico muito pode...