Capítulo único: No final, ainda é tudo sobre você

23 7 3
                                    

Quebrado, dilacerado, destroçado.

Tua voz que insiste em ecoar por todo o meu ser, teu cheiro de limão com canela que colou e impregnou minha existência, o fantasma do teu toque que ainda parece me assombrar com cada mísera carícia respingada de falsas seguranças.

Tu por inteiro ainda faz estada no meu cerne; teu olhar banhado em púrpura lânguido ainda penetra minha carne, e eu me sinto desmanchando cada vez mais por entre teus traços pintados em mim.

Teus sussurros esvanecidos na penumbra alastrada pelo meu peito ecoam nítida e assustadoramente, e eu já perdi todos os meus sentidos que guiavam-me cegamente nesse labirinto sem sinal de saída.

É que você era meu farol, se fazia minha bússola e meu guia, e, agora, em cada tropeço dado nessa imensidão negra, é cada vez mais difícil me reerguer. Como perambular por essas estradas sombrias sem teu sorriso me carregando diante toda essa neblina?

Cada mísero pormenor teu ainda reside em todo e qualquer canto dessa casa, e quem me dera se tuas particularidades tão marcantes estivessem esparramadas só e somente nos cômodos cinzentos que escondem-me. Teu gosto ainda cambaleia na ponta da minha língua e meu lençol ainda tem os teus resquícios tão amargamente pungentes; cada inalar meu nesse ambiente encharcado do teu ser agride meus pulmões, mas quem sou eu 'pra cessar de vez cada sopro de ti que corre por mim?

Aquelas singulares juras de amor que tu me dizia em meio à calmaria que perpetuava pela vastidão turva acima de nós grudaram nas minhas entranhas, enroscaram pela minha epiderme, fizeram morada do meu âmago. Me diz, então, como lidar com a tua ausência, a falta de ti, tua não-presença?

Nas reminiscências derramadas sobre mim, a fita desgastada da nossa história ainda toca ao longe, cada melodia lúgubre quebrando por entre as paredes finas do meu eu. Tuas minúcias persistem em rasgar minha pele, devorar o peito, dilacerar a alma.

E é nelas que eu me perco, e me perco, e me perco…

Tuas singularidades ainda correm por entre minhas veias, teu nome ainda é clamado num sussurro intrínseco pelos cantos dessa minha espiral sem fim, e, no final, ainda é tudo sobre você.

Cada fragmento de ti ainda vai se perder por entre as tão inúmeras reminiscências que abrigam em mim, e, um dia, tua existência vai ser apenas uma lembrança rareada nos ares que se esvaem na minha essência.

Pois o amor se faz no detalhe, e se perde nele também.

🎉 Você terminou a leitura de Minúcias de um coração despedaçado 🎉
Minúcias de um coração despedaçadoOnde histórias criam vida. Descubra agora