Caos

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Um homem diante de seus delírios é capaz de produzir mais dor do que qualquer outra coisa. Encontro-me em meu quarto com minha mente bagunçada e vozes em minha cabeça, muitas vozes, eu mal posso pensar nesse momento, elas falam coisas horríveis, a cada palavra meus olhos lacrimejam e minhas pernas tremem o ato de respirar se torna doloroso, eu não quero continuar assim, quero melhorar, estou há dias aqui trancado e de nada adianta, meus criados trazem comida, mas eu mal posso planejar qualquer ato que tenha esforço como comer.
A mente que foi fardada ao meu corpo, e ele trava diante de tanta coisa, os desejos humanos e sonhos utópicos nem cabem mais em mim. Transbordam diante de meu quarto e aprisionasse de baixo de minha cama, transformando com tanta pressão nos demônios que temia quando criança, o ar não para em meu pulmão ou ele que não quer mais respirar, não domino nada, o caos domina em mim. Gostaria de manipular a mim como manipulo as outras pessoas, tão fácil, elas se curvam perante a qualquer mentira, elas se guiam cegas perante seus ideais incrivelmente firmes e caem sem notar que por onde guiavam não havia nem mesmo chão, moldo essas ovelhas com meus porquês as digo que necessitam e se guiam perante meus argumentos, mas o que tem dentro de mim é sequer racional, não entende nem mesmo o conceito de ética mais simples, não posso domar uma fera dessas, forte e impiedosa, não sei como agir, não sei como posso me guiar, incapaz de fazer algo até me ver finalmente sem chão. Dentro de mim há sentimentos que são complexos, que as palavras que descreveriam eles ainda não foram inventadas em minha língua.
Ao falar o que sinto, me faz esquecer o meu nome. Vivo desesperado por não saber de nada, de estar nulo em todas as minhas tentativas de me controlar, e assim me deito passando horas com os meus olhos caindo lagrimas e meu corpo tremer sem ao menos viver, só vegetando eu e meu ser.
Na madrugada a insônia corrói o minha sanidade os meus olhos doem e meus músculos que expressam tristezas já se cansaram à horas, meu coração acelerado despertava algo cheio de ira e de medo, aonde nem consigo saber o que estou fazendo, minhas pernas guiam-se diante da mansão de minha família e vou até o quarto de minha pequena irmã, não sei o que estou fazendo, eu sei que tudo fútil, queria despertar meu ódio em algo vivo, mas não nela, a vejo dormir em sua cama, brinquedos espalhados por todo o seu quarto, ando à janela e admiro o gigantesco jardim que ali era iluminado pela noite, mas as vozes voltam com seu ápice de loucura, soco o vidro, os cacos caem, minha mão sangrava, meus olhos choravam e minhas pernas não são mais minhas. Eu ignoro o grito de minha irmã ao acordar, sua doce inocência de criança não sabe o que seu irmão esta passando.
Meus olhos ficam fechados ao ajoelhar nos cacos de vidro, mas ao abrir vi as verdadeiras trevas deste mundo, as vozes agora tinham corpos entre sombras e vultos daquele quarto escuro e me vi doente e querendo a salvação, mas o toque de meu doce anjinho não foi sentido como o carinho que ela merecia, foi sentido com toda a dor que meu ser já sentiu nesta terra. Com os joelhos sangrando, meu punho pingando o sangue que um dia foi humano, entretanto naquele instante era um boneco, sem sentimentos, só impulso em um saco de carne e com o susto de seu toque diante de toda aquela desordem eu me viro gritando segurando um caco de vidro grande em minha mão, eu corto minha irmãzinha e com o impacto de meu soco e vidro cortando sua pele, assim seu pequeno corpo cai.
Não sei se seu corpo há vida, mas sei que eu fiz merda ao vê-la cair no chão, abraço ela, grito por todos da casa e ao ouvir que eles estavam acordando. Saio correndo, entrei em meu quarto ainda com o caco de vidro em minha mão o fito, o aproximo de minha orelha e corto em direção do meio da garganta, em meio da tontura solto o caco arrumo minhas malas e corro.
O sangue corre em meu corpo, provavelmente acertei algo importante, talvez estivesse a passos da morte, mas mesmo sendo clichê, não me sinto vivo assim a anos, meus olhos não veem mais nada em minha frente apenas continuo correndo, caio em o que parecia ser uma calçada, eu ouço barulho de um carro parando ao meu lado dizendo coisas que não chegavam ao meu ouvido. Alguém me coloca no banco de trás do carro e aparentemente tocava a música mais triste que já ouvi, era indescritível, era um sentimento, um momento, uma vida passando em meu olhar.
Apago.
Acordo no hospital, meus familiares em minha volta, mas não olho para seus olhos, são apenas coisas insignificantes a única coisa importante pra mim, eu posso ter tirado por minhas paranoia controlar o meu ser tão frágil, como o fogo que sempre arde no inferno estou condenado a sempre ter esses surtos, meus pais veem que eu estava fugindo e veem que eu queria ir embora, meu pai me dá um cartão e me passa a senha.
- Só me prometa uma coisa, nunca mais volte para minha casa. - diz meu pai com sua cara clássica de velho ranzinza e conservador, acho que foi a primeira vez que ele falou comigo neste mês.
Depois de um mês no hospital tenho autorização de sair, agora carrego comigo uma cicatriz, eu ando sem direção durante horas, entre esse mês eu recebi uma carta de minha irmãzinha Lisa, ela dizia estar bem e que a mamãe tinha explicado pra ela que eu não fiz por mal. Não sei ate quando ela acreditará nisso sabendo que meu pai vai sempre dizer o contrário. Chego à rodovia mais próxima, aonde pretendo pedir carona, minha bolsa preta está com partes secas aonde caíra meu sangue e de algum modo isso me faz mal, eu coloco ela nas costas para evitar olhar, sigo andando por menos de uma hora e um carro para ao meu lado, um carro antigo, porém muito bem cuidado.
-Olá, - diz o homem. - para onde pretende ir?
De início minha voz trava talvez por não esperar que alguém me daria carona.
-Pra qualquer lugar.
O homem olha estranho, acho que essa frase só cai bem em livros e filmes, mesmo assim ele sede a carona abrindo a porta e desse modo me convidando para entrar. Depois de certo tempo de viagem após eu cochilar no banco do passageiro ao acordara ele pergunta meu nome e eu respondo com a voz grossa sem querer.
-DJ.
Ele estranha o nome, porem continua a conversa.
-Não costumo premeditar o que os outros pensam, mas você me parece perdido DJ.
Eu digo que estou, de modo que ele entendesse que eu não queria conversar, mas ele insiste.
-Do que você está fugindo?
Eu o olho, estranhamente este homem não era só um velho solitário, e decido refletir em voz alta mesmo sabendo que talvez ele não entenda sobre nada, a final nunca mais o verei na vida.
-Eu não sei se eu realmente estou vivendo.
-A vida é assim, só sentimos a vida em nós quando algo grandioso acontece, com isso tendemos a ter sonhos grandiosos, ou não possuir nenhum pra não termos mais uma falha.
-Sinto que meu ser está transbordando, que às vezes sai do meu comando.
O silêncio pairou no ar, a velocidade reduziu um pouco. E ele quebra o silêncio o mais rápido que conseguiu.
-Fingimos ser quem não somos, mesmo que digam o contrário, somos projetos de nossos presentes, e nem mesmo comandamos nosso futuro. - Diz o senhor brincando com a própria barba.
-Então o que fazemos e pensamos é porquê somos fantoches de nossos próprios eus que odiamos? - Pergunto.
- Vejo que somos espectadores de um show que nem pagamos ingresso pra assistir, então temos o direito de reclamar.- Ele sorri enquanto fala. -A vida é uma merda, mas eu acho que sou uma mosca porque eu amo essa merda. Essa mosca está se guiando a Gramado, uma bela cidade, porque não vai pra lá um dia?
-Você me leva lá? - Sei que fui direto, mas ainda estava refletindo sobre o que ele disse nas frases anteriores.
- Claro, porque não.
O homem descreve a cidade enquanto andávamos de carro em uma velocidade quase sempre no limite do permitido. Dizia que era uma cidade turística que ela representava a Europa no Brasil, pareceu um clichê horrível de superioridade, entretanto depois que seus olhos brilhavam depois de descrever as pétalas das hortênsias, não me pareceu belo de início, mas imaginar que essa flor representa tanto para essa cidade me deixou curioso.
Chegando a cidade me despedi do homem e segui andando sem direção. A cidade era bela, o sol estava caindo e como um instinto, eu senti a necessidade de descansar, no álcool. Quando estava acabando a garrafa de vodka acendo um cigarro, eu estava no lago negro, nem sei como cheguei aqui, mas estou bebendo e fumando e infelizmente pensando. Neste pensamento do primeiro dia de minha nova vida escrevi um poema no bloco de notas do celular:
Tudo começou com uma paranoia
Aquela insegurança e angustia,
Que me fodia de uma nova maneira,
Então eu "renasci" às uma hora.

Talvez, eu renasci das cinzas,
Talvez, dos pecados do meu deus,
Mas nada disso importa
A não ser que você saiba quem sou eu.

Talvez seja loucura de minha parte, mas a partir desse ponto as uma hora da manhã, eu pude ouvir meus pensamentos como algo mais distante do que antes, e conversei, passamos a noite conversando, e essa parte que era tão forte em mim. Não era boa, mas ela estava ali presente, porém ainda sem nome - Nome eu tenho, você só não descobriu ainda DJ. - Eu sorrio, um dia descobrirei. Depois de acordar no banco de uma praça qualquer a ressaca me perseguia, em minha frente vi uma casa para alugar.
A casa. Os portões eram grandes, o espaço comum, janelas grandes e no muro havia espinhos, a cor era uma cor cinza que é semelhante com o céu nublado, sem cores fortes sem chamar atenção, só mais uma, pelo menos por fora, parecia haver por dentro tanto caos. Senti-me atraído, liguei para o número e dias após aluguei ela eu estava agora em uma nova vida.

Caos encubado Onde histórias criam vida. Descubra agora