Era uma manha quente na cidade do Rei, o sol estava quase a pino e as pequenas casas projetavam pequenas sombras no chão. Os trabalhadores começavam a pausar seus serviços e se dirigir até em casa, para uma merecida refeição. E ainda havia algumas crianças que brincavam nas ruas e suas mães que gritavam para que entrassem em casa.
Uma das crianças passou perseguindo uma galinha pelas ruas e quase derrubou um velho em cima de uma barraquinha de verduras. O velho gritou e resmungou ao mesmo tempo, de uma forma que só os velhos conseguem fazer.
Daniel sentado na janela, com os pés balançando para o lado de fora, observava toda aquela cena cotidiana com certo humor. Aquilo tudo estava tão perto e ao mesmo tempo parecia uma realidade tão distante.
Daniel desenhava em uma folha velha com um pedaço de carvão, tintas e telas eram muito caras e só os pintores do rei podiam compra-las. Ele gostava de desenhar as coisas que via no dia a dia da aldeia, porém não era a cômica cena do velho com o garoto que seus dedos registravam naquele momento.
Durante várias noites ele havia sonhado com uma garota, uma garota linda, de olhar selvagem e sorriso determinado. Daniel conhecia cada um de seus belíssimos traços, mas não a garota. A garota de seus sonhos não morava naquele vilarejo, todos conheciam a todos e a tudo, mas ela nunca fora vista ali.
Em seus sonhos ele a seguida por um longo caminho de pedras. Estava sempre muito escuro, e a única coisa que os iluminava era uma pequena tocha. Caminhavam por horas até pararem, mas de repente a tocha se apagava e ele acordava.
- Que bela moça, Daniel. – O rapaz desvia os olhos sonhadores do desenho para a pessoa em sua frente, era Claude, dono da barraquinha de frutas. – Qual o nome dela?
- Infelizmente nem eu sei. – Ele solta um suspiro melancólico.
- Realmente uma pena. – O homem concorda. - Poderia me ajudar com algumas caixas?
Deixando o desenho de lado, Daniel segue-o até sua barraca. Pelas próximas horas ele dedicou-se em ajudar Claude, havia muito mais caixas do que poderia ter imaginado, e uma das pilhas ainda fora derrubada pela gata cinza de Claude. Quando terminou todo o trabalho o homem deu-lhe algumas moedas de agradecimento.
Ele ainda parou para ajudar algumas pessoas com seus afazeres. Ele gostava disso e também lhe sobrava menos tempo para pensar na garota, que em qualquer oportunidade preenchia lhe a mente. Era irritante pensar que talvez nunca fosse conhecer a dona de seus sonhos.
Quando finalmente voltou para casa o crepúsculo já acontecia, dando ao céu uma cor alaranjada impossível de ser copiada. Daniel não tinha família e morava em uma casa ligeiramente menor que a da maioria, mas dificilmente se sentia só. De manhã tinha a companhia dos outros aldeões e durante a noite Nina, sua coruja de estimação, cuidava da parte que faltava.
Porém naquela noite, seus pensamentos estavam tão distantes que Nina beliscou lhe duas vezes para que voltasse a dar atenção ela. Percebendo a distração do dono, a coruja desistiu de exigir seu carinho e voou até a janela, dessa vez Daniel atendeu ao pedido do animal e abriu a janela para que ela pudesse ir caçar.
Já se afastando da janela ele viu um brilho estranho no horizonte. Ele se debruça sobre o parapeito para observar melhor, parecia vir das gigantescas muralhas que rodeavam a cidade do rei, mas ninguém subia lá, os portões da cidade não se fechavam havia anos e a patrulha já não habitava mais o local.
Desconfiado de sua imaginação, Daniel esfrega os olhos mais de uma vez, mas a luz laranja continuava lá, era bem pequena, como se uma tocha estivesse sido acesa lá em cima. Imediatamente seus sonhos voltam à mente e na mesma velocidade o garoto descarta a ideia, devia ser apenas uma coincidência.
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O fantasma da Muralha
Short StoryUma luz estranha na muralha chama atenção de Daniel, um pintor da Cidade do Rei, que resolve sair e descobrir o que há por trás da lenda do "fastama da muralha."