Ao cair da noite, ainda dominado pelo desejo de encontrar o local onde descansa os restos mortais de quem um dia fora seu pai, Oliver adentra uma densa mata de arbustos espinhosos e arvores úmidas. E, antes que ele pudesse se deparar com os primeiros grandes mausoléus de mármore de um antigo cemitério, é surpreendido pela brusca passagem de um vulto carmesim, com longos cabelos negros. Paralisado de medo por um quarto de segundo, ele tem a chance de decidir por seguir seu caminho o mais longe possível da direção tomada pelo vulto.
A cada passo dado, as convicções de Oliver desapareciam, semelhante aos raios solares que se esvaiam por detrás das altas arvores e colinas obscuras. O solo já não transmitia o calor, mas sim a umidade que outrora foste das arvores, o cheiro de orvalho fresco dava lugar ao cheiro pútrido dos corpos em decomposição, odor, por sua vez, impossível de localizar, pois, ora pareciam vir de todos os lados, ora parecia estar debaixo de si. A cada segundo duvidava se aquilo realmente estava acontecendo. Tremula e ofegante caminhava, apenas... caminhava.
- Você parece perdido - Ouviu uma voz suave e aterrorizante, de alguém que tocara seus ombros com mãos tão geladas e pálidas que se camuflavam na frieza de seu próprio corpo. E, por mais de um quarto de segundo, pensou em correr, sem olhar para trás e desistir de tudo que em uma manhã qualquer decidiu por fazer. Mas antes que tomasse tal atitude, sentiu certa familiaridade daquele toque, então ele pode ouvir...
- Filho?!
Oliver não podia crer, afinal, quem poderia? Diante de si, estava seu falecido pai, seu rosto sereno inquietava-o, mas relevou, ao ser antecipado por uma pergunta.
- O que está fazendo aqui?
- Eu...
- Não importa, o importante é que está aqui! Que grosseria de minha parte, já está de noite, vamos para um lugar mais quente, meu casebre ao lado do cemitério não é belo, mas é bem aconchegante.
Aquela vista do cemitério jamais desapareceria de sua mente, cada tumulo tinha uma particularidade diferente, alguns brilhavam como se fosse o próprio sol, outro refletiam, como a lua e outros... escuros, vazios, empoeirados.
- Não costumo receber visitas, tão pouco familiares, porém, fique no meu quarto, creio que ficará mais confortável.
- E o senhor, onde ficará?
- Durmo no sofá, na verdade estou acostumado a dormir aqui.
- Mas por que?
- Velhos costumes.
Após uma breve espécie de interrogatório, em silêncio, ambos foram deitar. Oliver no quarto de seu pai e ele na sala. Inquieto, revirando-se na cama, sem conseguir dormir direito, decide por levantar-se, ao ouvir, o que parecia ser duas pessoas conversando calorosamente em forma de cochichos. E, antes que a prosa fosse interrompida, Oliver conseguiu ouvir três ou mais palavras, dentre elas em ordem alfabética, mas não coesa: Carmesim, Carro, História.
- O que fazes filho, por que não está dormindo? – Dirige-se à Oliver, que para sua surpresa fora percebido.
Caminhando na direção de seu pai, que por sua vez estava de costas, e de uma mulher logo a frente, de feições não tão estranhas, uma pele de coloração distinta totalmente oposta de seu pai, um avermelhado suave... Nesse mesmo instante, recordara que anteriormente na floresta, antes de encontrar seu pai, um vulto carmesim passara por ele.
- Por favor, pegue aquela tesoura para mim?
A tesoura pontiaguda pendurada na parede de madeira brilhava com as luzes dos candelabros, ao passo que a sombra do homem projetada na parede parecia esconder algo. Porém, adverso a todos os seus pensamentos que diziam para sair dali ele entrega a tesoura. E, apenas com um golpe, o homem corta uma parte do cabelo do boneco de madeira na qual estava trabalhando.
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As Marionetes do Mausoléu
Short StoryEnquanto busca por seu falecido pai em um cemitério antigo, Oliver se vê surpreendido e assustado diante dos peculiares eventos que se sucedem.