Estava frio naquela tarde. Felipe se sentia aconchegado no banco de couro vermelho do vagão. Ele estava sozinho, e agradecia muito a Deus por isso.
A paisagem corria pelos seus olhos negros. O vidro embaçava com sua respiração, mas elenão ligava. O trem já estava quase chegando aonde Felipe queria. No vidro embaçado ele desenhou um coração.
Era um coração livre. Um coração que voava por entre os pinheiros. Diferente do coração apertado dentro do peito dele. Um coração aflito. A neve caia vagarosamente. Os últimos vestígios de sol se mostravam no horizonte montanhoso.
Na mão ele carregava uma única rosa vermelha. A rosa era uma promessa de amor. Não porque ele fosse dramático ou exagerado, mas era o amor mais incompreendido-julgado-e-difícil-de-acontecer das historia dos amores!
Era insensato e impensado o que ele estava fazendo. Largando tudo por uma promessa vazia. Mas para aquele pobre coração machucado, não era nada vazia. Era uma promessa cheia. Completa. A promessa. Cheia de esperança. Esperança de dias melhores. Longe dos dias sombrios que ele vinha vivendo.
Mas a noite escura já estava caindo por cima de todos eles. Os que tinham dias repletos de cor e os acinzentados deprimidos. Com toda sua negritude, ela não se importava se seu dia tinha sido bom ou ruim. Tudo que ela trazia era um recado carregado de descanso.
Rafael, na sua casa, aceitou o recado e na cama confortável foi deitar. Felipe, teimoso e apaixonado, não tirava os olhos da paisagem. Sonhava acordado. Repetia diálogos na sua cabeça. Alguns eram monólogos. Outros ele tinha inventado durante horas de banho quente. Mas bem longe na memória existiam diálogos reais.
E a promessa martelava na cabeça dele. A promessa era a chama que mantinha ele acordado. Que impulsionava sua locomotiva até onde a outra metade do seu coração estava. Dois corações sofredores esperando para se unirem, e quem sabe, talvez, um dia pudessem sorrir de mãos dadas.
"Se a gente se casar amanhã, eu largo tudo." Dizia Rafael na cabeça de Felipe.
