03 - Nunca foi um segredo

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A aula se encerra, e nós conseguimos terminar e entregar a nossa produção durante ela. Ai, ai... Como é bom estar no grupo mais inteligente da sala.

Ao sair da classe, entro no corredor com outros alunos e vejo Parlan tropeçando no pé de um dos meninos da aula de geografia, onde Jonathan ainda está.

Os garotos, amigos do Jonathan, são uns idiotas. Eles gostam de pegar no nosso pé — meu pé, pé do Parlan, pé da Yareli e pé da Bria — por sermos nerds, e isso acontece desde que entramos na escola, então já era de se esperar.

Os meninos fazem uma rodinha em torno do Parlan e começam a rir dele no chão. E lá vamos nós defender nosso amigo... como sempre. Ô, rotina cansativa!

— Aí, parem de rir dele! — Bria afronta os folgados.

— É. Vocês são uns sem graça! — Yareli cruza os braços.

Os meninos olham para as duas defensoras fofas e começam a dar risada sem parar.

— Ei! Já chega! Todo dia é a mesma coisa, vocês não tão cansados de fazer isso com a gente, não? — Aumento o meu tom, fazendo todos olharem para mim, assustados, incluindo meu grupinho. — Vocês deveriam cuidar um pouco da vida de vocês em vez de ficar atazanando a nossa!

Gibson, um dos meninos, vem caminhando com a cara fechada em minha direção, olhando para mim fixamente. Eu me assusto e cubro o meu rosto com um braço, tremendo, mas nada acontece, nem estava para acontecer. O guri simplesmente passou reto, assim como todos os outros fizeram, quietos. Parlan, que estava no chão, Bria, Yareli e eu observamos os garotos entrarem no refeitório; nós estávamos boquiabertos.

— Gente... O que aconteceu aqui? — Bria, assustada, pergunta, enquanto ajuda o Parlan a se levantar. — Na verdade, o que tá acontecendo hoje?

— Sim????? A escola virou de cabeça pra baixo! — Yareli concorda com Bria.

— Como você gritou com eles daquele jeito? — Parlan levanta os braços, fazendo uma cena.

— E-Eu não sei... Eu nem gaguejei, né?

— E eles nem te bateram! Cara, que estranho.

O professor Xzavier encosta na porta de sua sala, olhando para a gente.

— Olá, crianças! O que estão fazendo no corredor? É intervalo! Vão conversar pra lá, estou dando aula.

— É...

— Então, professor... — Yareli tenta explicar, mas nem ela sabe o que estamos fazendo aqui.

— UM BOLO! — Bria grita, chamando a atenção de todos nós.

— O quê? — O professor fica confuso, levantando uma sobrancelha.

— É isso mesmo que você ouviu, geógrafo: estamos fazendo um bolo — Bria surge com uma vasilha cheia de massa de bolo de chocolate, enquanto a mexe com uma colher de pau. Ninguém entende de onde aquilo saiu.

O sinal bate mais uma vez.

— Opa, acabou a aula mesmo. Alunos, por favor, guardem suas coisas e se redirecionem ao refeitório ou ao pátio. — diz o professor. Os alunos começam a sair da sala de aula aos poucos.

Parando-se de bater o segundo sinal, que eu ainda acho desnecessário, abro um sorriso, esperando o Jonathan sair de sua sala. A tarefa deve estar pesada, já que ele não saiu no primeiro sinal de cinco minutos atrás.

— Aí, Sherwin... — Parlan toca no meu ombro. — Qual é a do Jonathan contigo?

Eu olho para Parlan, assustado. Como que ele sabia disso?

— C-Como você ficou sabendo? — pergunto, preocupado.

— Teve alguém que ainda não ficou sabendo? — Bria coloca as mãos em sua cintura, soltando a vasilha com massa de bolo, que cai no chão, sujando boa parte do corredor. — Amigo, todos viram e gravaram vocês dois juntinhos no chão da entrada. Tá tudo no Facebode. Só não queríamos tocar no assunto pra você não ficar desconfortável.

Eu gelo.

— Como você pegou um menino tão popular como o Jonathan????? Qual o segredo????? Qual????? — Yareli me sacode.

— E aí, Sherwin? Tudo bem? — Uma voz suave, logo atrás de mim, me cumprimenta. Ao virar, vejo que é, finalmente, o Jonathan. Ele está com um sorriso tímido no rosto e com as mãos para trás. Eu fico com cara de bocó e sorrio instantaneamente. Eu peRcO tOdAs aS mINhAS maNEirAs dE rACiocÍNio!

Parlan chega perto de mim, olha para o meu rosto e depois para o de Jonathan. Em seguida, começa a rir muito alto. Jonathan e eu saímos do transe e olhamos para baixo, com vergonha.

— Olha pra cara desses dois! Se for pra namorar e ficar assim, eu prefiro a morte! — Parlan seguia rindo, imitando diversas vezes um porco, involuntariamente.

— PARLAN!!!!! — Bria e Yareli fazem um coral gritando e puxam Parlan dali, deixando-nos sozinhos.

— É-é...

— Eu tô feliz em te ver! — Jonathan quebra o silêncio, sorrindo de ponta a ponta. — Posso te abraçar?

Eu pulo no corpo de Jonathan e o abraço bem forte. Jonathan me envolve em seus braços também, e ficamos paradinhos sorrindo.

— Cara... isso é muito bom — eu digo.

— Muito... — ele concorda, abrindo mais o seu sorriso.

Jonathan parecia mais bobo do que nunca. Eu sempre o via com a cara fechada, ou no máximo rindo com a sua melhor amiga, a Alice. Sempre quis ser alguém importante para ele, e olhe onde estamos agora.

Acabando o abraço, nós seguramos nossas duas mãos, um olhando para o outro.

É PRA BEIJAR? VEM AÍ! VEM AÍ! VEM AÍ!

Ele se aproxima do meu rosto enquanto fecha seus olhos, e eu me aproximo dele, fechando os meus também.

VEM AÍ!

De repente, sinto gosto de uma mão na minha boca. Abro os olhos com o Jonathan e tomamos um susto: a professora Celine — sim, aquela que quebrou a parede depois de um surto — colocou a sua mão para impedir o nosso beijo. Velha maldita!

Ela nos encarava com uma expressão de raiva.

— Olha, meninos, EU NÃO VOU NEM FALAR NADA!

— Professora Celine, nós podemos expli--

— SUMAM!!!! — Ela berra no corredor vazio, interrompendo Jonathan, e nós saímos correndo para o refeitório.

Eu ainda vou acabar com essa mulher. Pelo menos não vai chamar os nossos pais, né? Será que ainda dá tempo de aproveitar o intervalo miserável de vinte (e cinco, se contarmos o primeiro sinal) minutos não dá tempo nem de engolir o lanche.

Repentinamente (In a Heartbeat)Onde histórias criam vida. Descubra agora