Eu estou morrendo. Essa é a única explicação plausível para o estado entorpecente em que me encontro, onde sequer consigo abrir os olhos sem sentir que esse simples gesto vai elevar a dor na minha cabeça para a décima potência.
Acho que só não digo a mim mesmo que nunca mais irei beber tanto assim, porque 1) seria mentir para mim mesmo e 2) o propósito que eu buscava com a bebida foi alcançado. Minha mente possui pensamentos tão emaranhados, que mal consigo conduzir um fluxo para os assuntos que gostaria de esquecer para sempre (perfeito!), porém, em contrapartida, a única coisa clara nela é que sinto como se houvessem me acertado um jarro na cabeça enquanto dormia. Aliás, a dor não parece estar apenas dentro da cabeça...
Reúno todas as minhas forças para abrir os olhos e, ao fazê-lo, pisco algumas vezes até me acostumar com a luz ambiente do cômodo em que estou, que aos poucos reconheço como sendo o meu próprio quarto (apesar de eu não ter lembrança alguma de como vim parar aqui).
Tento me lembrar dos eventos da noite passada ao franzir o cenho e me esforçar a encontrar sentido nas memórias confusas em minha cabeça, mas a única coisa que recordo com nitidez é de ir para a Starry Night e de beber um copo ou outro com Caellum, até que alguém me ofereceu uma bala e.... Droga. Que merda, Tobias. Agora a confusão mental faz todo o sentido.
Levo uma mão ao meu cabelo e puxo alguns fios pela raiz, como se isso fosse uma forma cientificamente comprovada de me fazer melhorar e não uma punição. Mas que inferno. Preciso de um analgésico e de chá de gengibre para ao menos me livrar da dor de cabeça e dessa língua mais pesada que lixa dentro da boca.
Saio da cama mais desequilibrado do que estaria se estivesse caminhando em uma corda bamba, o que quase me faz cair de cara no chão. Ainda estou vestindo as roupas que usei para ir à festa, mas elas fedem fortemente a álcool e a perfume doce, que definitivamente não tem nada a ver com o meu. Quando passo na frente do espelho de corpo inteiro para poder sair do quarto, tenho um vislumbre que me faz estancar e verificar meu pescoço repleto de marcas vermelhas e arroxeadas com espanto, além de uma marca inchada em minha bochecha esquerda. Das duas uma: ou fiz merda e tive uma noite sadomasoquista com alguém ou levei uma surra enorme.
"Puta merda", até mesmo minha voz soa estranha para mim. "O que diabos você fez ontem, Tobias?".
A resposta para o meu questionamento só chega quando estou de banho tomado e bebericando o meu chá enquanto espero que o analgésico faça efeito. Sem o menor sinal de onde o meu celular possa estar, sento no sofá com um filme qualquer passando na TV e mal consigo prestar atenção no que ocorre até o barulho da campainha soar.
Contra vontade, fico de pé e resmungo durante todo o trajeto do sofá até a porta. Quando a abro, mal tenho tempo de registrar que é Caellum antes que ele passe por mim e quase me derrube no processo.
"Bom dia para você também, Caellum Maximoff", fecho a porta e me volto para ele, deixando claro que não estou no meu melhor humor.
"Bom dia?", Cal questiona, sua expressão atipicamente irritada. "Em primeiro lugar, já passa das três da tarde. Em segundo lugar, você não olha as notícias não? O Lucas acabou de me bombardear de ligações, porque passou boa parte do dia tentando falar com você e não conseguiu".
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SOBRE UMA PRINCESA E A SUA MENTIRA PERFEITA [COMPLETO]
Romans[Este é o terceiro livro da série sobre a realeza de Orion, mas pode ser lido individualmente] Elisabeth Greenhunter é a única mulher dentre os filhos do rei Timotheo IV, e tendo crescido em meio aos costumes patriarcais de um país ainda dominado po...