Eu lembro que quando eu era adolescente e estava voltando da escola, uma amiga minha me disse que só leva um segundo para que nos apaixonemos por outra pessoa. Olhei para ela e ri dizendo que aquilo era bobagem e que achava que o amor não era assim.
Eu não sabia nada sobre amor naquela época. Continuo não sabendo, para falar a verdade.
Tudo o que sei é que essa história de que a gente se apaixona por outra pessoa em um segundo é verdade.
Certo, talvez não seja aquela coisa do tipo “uau, quero passar o resto da minha vida com essa pessoa”, mas é algo do tipo “essa é a pessoa mais linda que eu já vi na minha vida e eu queria estar perto dela”. Foi isso que aconteceu a primeira vez que encontrei Lalisa Manoban.
É uma louca -e longa- história e eu espero que vocês gostem disso.
Eu poderia começar essa história dizendo que eu fui embora para a Coréia e que ser LGBT em qualquer lugar do mundo é lindo e super aceito, mas eu, você e toda a população consciente neste mundo sabemos que não é bem assim. Então acho que essa história começa há muito tempo atrás, enquanto eu ainda era uma jovenzinha inocente que ficava o dia inteiro trancada no meu quarto jogando e ouvindo Slipknot (eu era estranha, eu sei). Mas tirando o fato que eu era emo e achava incrível tudo aquilo, estava em conflito comigo mesma porque eu sentia atração por meninos, mas eu também sentia por meninas.
Meus pais não eram conservadores, mas eu tinha medo da reação deles mesmo assim porque a gente sempre acha que conhece as pessoas até que elas surpreendem a gente.
Quando sai de casa para fazer faculdade e me assumi, meus pais aceitaram. A rejeição de verdade veio por parte da minha família. Parei de ser chamada para as ceias de natal, para aniversários infantis e todas essas comemorações que a gente passa com a família. Falava para mim mesma que estava tudo ok, que eu não precisava deles, mas a verdade é que eu precisava.
Quando chegava o Natal, entrava no Instagram e via todos meus amigos com suas famílias. Aquilo arrasava meu coração e eu chorava de tão sozinha que eu me sentia.
Então, como uma luz dos céus (amém), uma oportunidade de emprego surgiu para mim na Coréia e uma semana depois eu já estava de mala e cuia pronta para ir embora do país.
Dizem que a gente precisa de um novo começo.
Só que o meu “novo começo” foi bem difícil. Acabei indo trabalhar em uma revista como fotografa e eu não sabia falar um “a” em coreano, mas em compensação fiz vários amigos e até ganhei alguns prêmios de fotografia.
E é exatamente aí que a Lisa entra.
Tudo começou, mais ou menos, em outubro de 2018.
Essa revista era muito conhecida no ramo da moda e, um belo dia, fiquei sabendo que tiraria algumas fotos de uma idol e que ela seria a capa do mês. Não me falaram o nome, só me disseram que era um projeto muito importante e que eu deveria dar o melhor de mim.
Nessa hora eu estava deitada na cama com meu celular na mão e eu só revirei meus olhos quando li essa mensagem.
Depois de um longo debate se eu deveria ir trabalhar, ou ficar na cama e ser demitida, lembrei que eu tinha uma torre de boletos para pagar e fui para o banheiro.
Depois de meia hora cantando, como eu fazia todos os dias. Coloquei uma calça jeans, uma blusinha da Marvel e coturnos pretos. Passei uma base, delineador e uma batonzinho rosa só para disfarçar a cara de quem não dormia e fui pegar o ônibus plenamente para ir ao meu emprego.
Era só mais uma manhã comum.
As pessoas do ônibus ainda tinham a cara de quem preferia estar em qualquer lugar, menos indo trabalhar. Algumas pessoas ainda me olhavam torto por ser estrangeira e alguma criança chorava no fundo.
Quando eu cheguei na empresa, parecia que o caos tinha sido instalado por ali.
Pessoas corriam de um lado para o outro, os telefones tocavam desesperadamente e eu juro que eu podia ver uma das secretárias chorando a beira de um surto.
Aquilo estava mais bagunçado do que o casamento dos meus pais.
Ignorando tudo aquilo, segui calmamente para o estúdio e assim que abri a porta me deparei com um caos ainda pior.
Eu fiquei parada na porta me perguntando se eu ainda não estava dormindo e se tudo aquilo era um sonho onde as pessoas tinham surtado de vez.
Percebi que era tudo de verdade quando minha assistente, Haru, me deu uma cutucada no braço.
― Aí, não precisava disso ― Falei colocando a mão no local ― O que está rolando que todo mundo nessa empresa parece que tomou umas dez latas de energético?
―Você não ficou sabendo? ― Haru me olhava com uma expressão de incredulidade.
―Desde quando eu fico sabendo de alguma coisa nessa empresa?
Haru agitou as mãos, nervosamente.
―Se lembra que a gente estava tendo um problema para achar a próxima capa da revista? ―Assenti enquanto colocava minha bolsa sobre a cadeira ―O editor-chefe queria muito a Lisa do Blackpink, mas a YG ficou enrolando para responder e a gente já estava quase achando a nova capa. Até que um representante deles ligou essa manhã e disse que eles só podem fazer a capa se ela for fotografada essa manhã porque vai ter que fazer algumas viagens. Ela chega em meia hora, e a correria é devido ao fechamento de contratos e essas coisas burocráticas.
―Tudo isso por conta da desdenha de alguns. Péssimo. Mas enfim, não me interessa nada disso. Só vim aqui fotografar a garota e depois posso ir embora trabalhar no conforto da minha cama.
Haru só balançou a cabeça e saiu. Ela sabia que eu não era a louca das celebridades.
Depois de um ano trabalhando como fotografa de revista, eu meio que já tinha me acostumado.
Hoje eu só vejo como eu fui inocente em achar que a Lisa era como as outras pessoas.
Na primeira vez que eu a vi, estava mexendo preguiçosamente nas lentes da câmera quando eu ouvi que o burburinho lá fora ficava mais alto. Isso queria dizer que ela havia chegado.
Continuei mexendo nas minhas lentes, e avaliando quais eu queria usar. O burburinho estava na porta e eu levantei meus olhos.
Aquele segundo que fez nossos olhos se cruzarem, provou que a teoria estava certa. A gente só precisa de um segundo para se apaixonar por alguém, mas levamos umas cem vidas para esquecê-la.
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Um Segundo / Lisa Manoban
RomanceMaddie é uma garota que decide deixar tudo para trás e tentar uma nova vida em um país completamente diferente. Como um destino da vida, não somente o país é novo, como a forma de amar também. "[...] Aquele segundo que fez nossos olhos se cruzarem...