O choro acostumado

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É dez de outubro.

A escuridão da madrugada fria é igualada aos cabelos do homem a qual se encontra perto daquele espaço que, para ele, nunca deixaria de ser familiar. Por um acaso, o homem não consegue enxergar brilho de estrelas naquele céu escuro que tampouco lhe causava arrepios, já que sua mente e alma entendiam que pertenciam a esse breu, que não o deixava escapar. O vento que batia em seu rosto fazia com que suas lágrimas que escorriam por cima da pele esbranquiçada, fossem comparadas com as águas gélidas de um agitado oceano, que mais parecia o sentimento de perda fixo em seu peito. O som das folhas das árvores balançando chegavam aos ouvidos do homem de capa preta, mas não foi o suficiente pra abafar o som de soluços que saiam de sua boca. A dor no peito que ele sentia não era uma novidade, todos os anos nesse mesmo dia ela se tornava muito mais forte que todos os seus sentidos, nunca antes o abandonou, sempre aparecia cada vez mais forte a medida que a madrugada do dia dez de outubro chegava. E ele entendia bem o quanto o peso desse sentimento que o acompanhava nesta noite solitária era existente em seu peito, já que, uma boa prova disso, era a inexistência de seu braço esquerdo. A lua iluminava a certeza que o homem tinha toda vez que chegava esta data no calendário, que era a de que o sol que antes já tinha iluminado toda a sua existência, tornou-se mais uma das estrelas que tiveram toda a sua luz apagada, mas assim como pessoas vêem rastros no céu da luminosidade dessas estrelas que antes já existiram, o homem sentia que esse mesmo rastro ainda habitava em sua lua, a não deixando tornar-se escura por completo.

As memórias do dia em que ele se foi vinham em sua mente, deixando seu corpo transparecer totalmente a dor que ele sentia, a dor de saber que não poderia mais contemplar a magnitude do sorriso que milagrosamente não o deixava sentir que estava só, a dor perfurante que era saber que a pessoa que mais ama não estaria mais ao seu lado. A manga esquerda vazia de sua roupa balançava, e Sasuke Uchiha se lamentava.

Quanto mais o nascer do sol se aproximava, mais Sasuke conseguia se lembrar perfeitamente de todos os detalhes do dia dez de outubro de 10 anos atrás, como quando ele chamou Naruto e disse pra ele o lugar onde se enfrentariam pela última vez. Lembrava com bastante vigor de quando seus braços se colidiram marcando assim o começo de um dos acontecimentos mais drástico de sua vida, e quanto mais ele lutava contra a pessoa dos olhos azuis, mais o seu coração pesava, mais a vontade era de acabar logo com todo aquele tormento. Sentia como se fosse explodir, suas emoções variavam a todo momento o deixando totalmente a mercê da situação. Chegou o momento em que luzes foram vistas, luzes que representavam a vontade dos indivíduos ali presentes, Sasuke imerso em seu desejo de se tornar hokage a fim de receber toda a dor do mundo ninja, e Naruto tentando fazer com que isso não ocorra. O choque aconteceu, pela segunda vez naquele dia eles colidiram um com o outro.

E ali estavam eles, caídos um ao lado do outro. Sasuke finalmente havia despertado e Naruto estava ao seu lado. Gemidos baixinhos chegavam entre os ouvidos de Sasuke, ele sabia que Naruto estava com dor, pois tinha percebido a situação em que se encontravam, Naruto havia perdido o seu braço direito, e Sasuke o esquerdo. "Por que?" Foi a palavra que saiu da boca do jovem de cabelos pretos, e Naruto apenas respondeu "Não me pergunte o porquê quando você já sabe a resposta, Sasuke." Seus sangues conectados mostravam o quão intensa era a relação daquelas duas pessoas, Sasuke sentia várias coisas naquele momento; raiva, tristeza, medo, e todas as outras emoções que se podiam ter naquela situação, mas uma coisa era certa em seu coração; finalmente ele havia entendido que seu sentimento era compreendido, e principalmente, recíproco. Lágrimas sairam de seus olhos, e o Uchiha virou-se para a pessoa ao seu lado, que também o olhou, "Eu perdi, Naruto". Após isso, seus olhos foram se fechando a cada batida acelerada que seu coração dava, até finalmente todo o seu ser apagar por completo pela segunda vez.

O rangido do balanço era presente juntamente com a imagem da pessoa sentada de cabeça baixa, que logo após levantou a cabeça para olhar para aqueles 5 rostos enormes no monte bem a frente de sua visão, Sasuke observava de longe a pessoa que ele sabia bem quem era, até que escutou a voz dele ecoar. "Sasuke, me desculpa, eu menti". Disse Naruto, de um modo que Sasuke nunca tinha ouvido antes. Tentava perguntar do que o rapaz de cabelos loiros estava falando, mas simplesmente algo fazia com que sua voz saísse totalmente baixa, quase inexistente. De repente a visão da imagem de Naruto se tornava cada vez mais distante, o balanço havia parado de balançar e a pessoa que estava sentada nele se levantou. Por mais que Sasuke estivesse longe, conseguiria ver a tristeza estampada no rosto de Naruto, que pela última vez, pronunciou-se a Sasuke; "Me desculpa Sasuke, eu menti quando disse que se nós dois fossemos lutar novamente, ambos iriam morrer. Me sinto extremamente triste e arrependido, arrependido de nunca ter falado isso antes, porém feliz que você possa me ouvir agora: Eu te amo, Sasuke, sempre amei, e se eu houver chance de continuar com esse sentimento para onde quer que eu vá, eu realmente ficarei feliz do fundo do meu coração. Não se preocupe, o Tsukyuomi infinito ainda pode ser retirado somente por você, e por favor, diga a todos que me desculpem por eu ter que ir antes da hora, antes de virar Hokage".

Um grito estridente foi ouvido pelas duas pessoas que estavam a milhas do local que se encontrava em total ruína, um grito misturado de dor, arrependimento, tristeza. Um grito que saiu como se fosse um pedido de perdão, um pedido misturado com uma verdade que ele tinha que encarar a partir daquele momento: Ele partiu, partiu para um lugar que nem mesmo seu jutsu de espaço tempo poderia chegar. Naquele momento ele sentia que todo o seu mundo havia de tornado apenas uma enorme escuridão, e que aquele sol que nascera em sua frente e que iluminava seu rosto aos prantos, era somente uma miragem, pois o seu verdadeiro sol se pôs e nunca mais iria nascer.

Hoje é dez de outubro, o homem de cabelos brancos olha para o sol enquanto estava sentado na janela com o seu livro em mãos, a mulher de punhos fortes gritava silenciosamente em seu quarto, e Sasuke Uchiha se lamentava mais uma vez por mais um ano.

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