Reemplazable

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Viemos em silêncio na maior parte do caminho, não dava pra brigar à vontade com Christopher no carro de Geralt e mais 2 sócios.
Eles falavam o tempo todo de negócios usando palavras e contas difíceis na maior naturalidade.
Eu apenas concordava sem entender nada, e mais perdida que eu só o Christopher que respondia tudo com "sim" "verdade" "tenso".
Eu tive que ri da cara de tédio dele, Geralt só pediu pra gente sorrir, e se o filhinho mimadinho dele estava triste eu estava feliz.

Saímos do carro luxuoso, e tudo era muito elegante e fino, o tapete vermelho que dava entrada pro castelinho tinha os lados lotados de jornalistas e paparazzos me cegando com tanto flash.
Geralt e Christopher riam acenando bem devagar no caminho como se fosse um cortejo, eu fiz o mesmo pra não sair feia nas fotos, mas se eu pudesse passaria correndo de capuz.
As jornalistas gritavam perguntas desesperadas, apesar de serem chatas para um caralho entendo bem, eu amo fofocas e pra eu ficar por dentro de tudo, as bichinhas tem que ficar perdendo a voz querendo o mínimo de atenção como agora.

Na pressa, um dos caras atrás pisaram no meu calcanhar tirando meu salto do meu pé, ele era cego? Não tava me enxergando nessa porra?  Ia me virar mas Christopher não deixou. Pegou o salto colocando em mim de volta e envolvendo minha cintura.

-Nada de treta aqui bebêzinha. - sussurou no meu ouvido sorrindo em seguida e eu respirei bem fundo pra não fazer ele engolir seus próprios dentes.

Tinha famosos por toda parte bebendo seus drinks valiosos, era música clássica o que deixava tudo mais chato, peguei uma taça de líquido rosé e me encostei em uma mesinha alta, querendo sentar nela mas não ia pegar bem.
Os olhares curiosos principalmente dos homens me dava nojo, alguns passavam de mãos dadas com suas "acompanhantes" e ainda assim faltavam me engolir. E claro que isso me deixava alvo de mulheres putas me dando mal olhado o tempo inteiro, mas isso aliviava quando elas botavam os olhos em Christopher, que realmente tava um gostoso nesse terno, ele finalmente penteou o cabelo e ficou parecendo importante, essa versão educada e elegante dele me deixava seduzida, pena que era tudo falsidade.

-Boa noite, Dulce María? - um homem alto pegou minha mão dando um beijo demorado.

-Eu te conheço? - puxei de volta minha mão tentando não ser grossa, já era tarde. Ele apenas sorriu me olhando fixamente, isso me aliviou. Ele era alto, moreno e todo engomado como os caras dali, mas ele tinha uma tatuagem no pescoço que saltava fora do terno, e nas mãos umas rosas.

-Terminou sua análise? - me tirou do transe ainda sorrindo com aqueles dentes exageradamente brancos.

-Ã.... Desculpa, quem é você? - dei um gole na bebida que desceu queimando todos meus órgão, e eu tinha certeza que a careta que fiz não foi nada bonita.

-Corajosa, gin puro é suicídio. - falou pegando uma taça do garçom. - Obrigada campeão. - assentiu. - Andrés, é um prazer.

-Prazer, "Andrés". - tanta formalidade me deixava enjoada.

-E respondendo a sua pergunta. Estão comentando. O senhor Saviñón é um grande amigo, e todos aqui sabem que você é neta dele,- fez um gesto mostrando as pessoas e sorriu novamente. Claro. A fofoca, eu gostava mas não quando era sobre mim.

-A tá. Eu posso imaginar o que tá todo mundo falando.- rolei os olhos dando outro gole na bebida amarga e horrível.

Nada tão ruim que não pudesse piorar, Christopher estava cheio de intimidades convensando bem empolgadinho com uma loira.
Eu não queria ficar brava, mas ele me chamou pra essa merda e eu estou presa em uma conversa tediosa com uma estranho engomadinho.
Fiquei observando de longe, eles se abraçaram e ele deu um beijo no rosto dela, de outro ângulo eu pensaria que era na boca.

Meu sangue ferveu nas minhas veias, e talvez fosse o gin me queimando por dentro mas eu queria ir lá e esfaquear os dois, mas que motivos eu teria? "Ciúmes?", eu não podia ter ciúmes, Christopher não me devia nada e eu sabia perfeitamente que aquele corpinho lindo tinha uma alma desgraçada.
Mas eu não tinha que ver isso, porra e onde tá a consideração? EU TAVA AQUI PORRA!

Bem mais que o ódio era o peito apertado, a sensação de ser uma inútil substituível e sem total importância. Pode ser carência ou sei lá, mas doeu, doeu muito.

Uma certeza eu tinha, esse negócio de "casual" "relacionamento aberto" "amizade colorida", nada disso funciona comigo e nem adianta eu querer tentar. É foda engolir tudo calada quando minha vontade é de arrancar os órgãos dele e vender no mercado negro.

É aquele ditado né "aqui estou mais um dia morrendo de ciúmes do que não é meu."

-Você está bem? - Andrés me perguntou olhando na mesma direção que eu.

-Sim.- respondi puxando outra taça.

-Tem certeza? - ele pegou minha mão me encarando de novo com aqueles olhos intimidadores.

Eu tinha que ser uma atriz melhor, convicente pelo menos.

-Estou ótima, a vida é incrível você não acha? - forcei meu melhor sorriso encarando ele que me olhou com cara de nojo.

É eu era péssima nisso.

"Não olha não olha não olha"

Era impossível, procurei aqueles dois com os olhos mas eles desapareceram.

-Ele é um filho da puta. - falei baixo pra mim mesma.

-Como? - Andrés perguntou boiando na minha mudança louca de humor.

-O Christopher, ele é um desgraçado, eu odeio aquele filho da puta. - suspirei decepcionada, hoje era meu dia.

-Uckermann? O que ele fez? - estava curioso e que se foda, cansei de fingir.

-Aquele imbecil babaca, otário do caralho me trouxe nesse inferno como acompanhante e eu sou obrigada ficar sozinha vendo ele se esfregando com outras na minha cara,  e ainda tenho que ficar rindo pra tudo, aaaaa vai tomar no cú. - desabafei limpando as quases lágrimas nervosa.

-Minha prima quer muito te conhecer também. -Senti a mão de Christopher nas minhas costas e por um momento eu quis me enterrar viva. Ele tinha ouvido tudo e eu não tinha onde enfiar minha cara.
Mesmo morrendo de vergonha e sem um pingo de dignidade, eu ainda tinha que manter minha pose.

-Dê um beijo nela por mim. - dei meu último gole já enxergando embaçado e minhas mãos formigando.
Eu ia ignorar Christopher e ele teria que lidar com isso pra sentir na pele. Eu tinha quase certeza que ele não ligaria.

-E essa tatuagem vai até onde em? - alisei a mão de Andrés que consertou a postura sorrindo safado.

-Você não faz ideia. - sussurou no meu ouvido e eu ri alto (tá eu tava exagerando um pouco).

-Mas eu adoria saber. Que braços! você é algum tipo de personal trainer? - apertei os braços dele que realmente eram fortes.

Espiei por cima do ombro e a cara de Christopher não tava nada boa, ele tava em uma conversa meio impaciente olhando pra todos os lados.

-Você é uma figura Dulce! Muito linda por sinal, eu quero muito te conhecer melhor.... - falou chegando mais perto, o que já tava íntimo demais.

-Quer é? - troquei as pernas quase tombando pra trás, mas ele me segurou, tava tudo girando.

-Chega, bora. - Christopher puxou minha cintura me soltando de Andrés.

-Não não não! Eu quero ficar aqui. - tentei me equilibrar no salto.

Ele encarou Andrés que saiu sem graça sem olhar pra trás.

-Andrés! - tentei, e senti o aperto dele ficar mais firme na minha cintura.

-Viu o q....

-Va.mos.

Linha Tênue (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora