A Nova Dotty

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"Alguns cortes são necessários para que a gente cresça"




Dorotéia, eu me chamo Dorotéia, sim um nome nada convencional, então se puder fingir que meu apelido é meu único nome ficarei grata, aliás sou a Dotty, tenho vinte e quatro anos e trabalho na melhor empresa de publicidade da cidade do Ouro Preto, e neste exato momento no dia vinte de junho de 2020, estou prestes a começar a minha nova vida. Sentada em uma cadeira de cabelereiro, no salão New Beauty que é um dos mais competentes da cidade, possuí diversas cadeiras, rodeado de espelhos, e todo decorado em uma linda paleta de azuis, bem aqui eu me preparo para a mais nova eu surgir dentro de mim, adeus longos cabelos castanhos, e olá fios curtos e tingidos de rosa Pink.

_ Tem certeza que é uma boa ideia Lia? _ tudo bem talvez eu não esteja tão segura desta nova vida.



Minha amiga Lia é a culpada deste crime contra meu cabelo, segundo ela eu precisava de uma mudança radical para me alegrar, mas eu não me sinto muito alegre, hoje completa dois meses que estou livre de um problema gigantesco que eu costumava beijar, Mark, meu ex-namorado, e como toda a mulher confiante de si, eu vou pintar meu cabelo para começar uma nova vida sem ele. A vida sem ele parecia impossível, mas sabe, a vida só é impossível se você está morta, o restante sempre tem uma maneira de ajeitar, demorei algum tempo para entender isso, mas agora eu entendo, e confesso é maravilhoso.

_Acha que eu deixaria você fazer algo se não fosse uma boa ideia?_ respondeu Lia.


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Ela estava certa, nos conhecemos já fazem dez anos. Quando meus pais se divorciaram e decidiram me emancipar com apenas quatorze anos, o mundo parecia algo assustador, eu não tinha ideia de como faria para viver sem meus pais, e foi aí que eu conheci a Lia, como um girassol, de um metro e oitenta, cabelos cacheados e pele negra, ela apareceu, e moramos juntas até a faculdade, ela se formou em medicina veterinária e eu em publicidade, comemos juntas, trabalhamos perto uma da outra, não sei o que seria da minha vida sem ela. Não importa o que aconteça, ou quão sem noção seja a ideia dela, eu aceito, mesmo que isso me leve para um salão de beleza, um dia antes de voltar ao trabalho, e correndo o risco de ficar careca.

_ Você teve notícias dele? _ perguntou Lia.



Eu balancei a cabeça negando, de fato eu não havia tido, mas não estava procurando.

_A última foi que ele estava nos Estados Unidos, parece que ele virou palestrante.

_Que fique por lá, e se ele voltar tomara que fique preso na alfandega_ disse Lia irritada.

Ela não gostava do Mark nem mesmo quando namorávamos, eu não a julgo, ele não era um exemplo de namorado, digamos que o coração dele era extremamente grande, cabia muitas paixões, o problema era que ocorriam todas simultaneamente.

Quando eu finalmente decidi deixa-lo, foi uma das decisões mais dolorosas que já havia tomado, mas era necessário, certos cortes nos fazem crescer, são importantes.


Depois de longas horas de salão finalmente estava na hora da revelação, meu coração batia forte, minha amiga estava extremamente eufórica, e isso me deixava ainda mais tensa, enfim eles viraram a cadeira e eu abri os meus olhos. O espelho do salão era grande, e sua moldura era dourada, quando olhei para ele, havia uma menina assustada refletida, mais branca do que o normal, seus olhos castanhos arregalados, seu cabelo estava da altura dos ombros, e completamente rosa! Era diferente, ela não se parecia com a garota triste e deprimida de antes, ela era nova, era divertida, era livre.

O Garoto Que Eu VejoOnde histórias criam vida. Descubra agora