Epílogo (Revisado)

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Anos depois...

—Onde eu coloco esses presentes Lexa?—Ísis pergunta segurando uma montanha de caixas embrulhadas. Assim como já virou tradição aqui no Instituto, desde que foi inaugurado, realizamos o Natal solidário, onde doamos brinquedos, presentes, roupas, cobertores, cestas básicas e a ceia de Natal para as famílias carentes do morro.

—Arrume tudo embaixo da árvore, os convidados já começaram a chegar, temos que acabar isso o quanto antes!— Suspiro cansada. —E eu quero saber onde o Dom se meteu com as crianças! —Ísis gargalha.

—Calma amiga, vai dar tudo certo... —Diz se retirando.

Vejo Débora se aproximar segurando a mão de Liliana—Sua filha. —Que segura a mão de Helena —Filha da Ísis e do Daniel— As duas e também Athena são melhores amigas, faz até dó. Thiago segura a mão de Nour, Débora assim que teve Lily engravidou novamente e  menos de um ano depois nasceu Nour, melhor amigo de Eros.

—Vocês viram o traste do meu marido? Eu estou a flor da pele e ele não chega com as crianças! —Reclamo e Tito da de ombros.

—Ele deve estar chegando, você sabe como é difícil o Edu chegar em algum lugar no horário certo...

—Tudo está tão lindo Lexa... —Debi sussurra olhando a decoração luxuosa que Dom mandou fazer.

Com a morte do Daniel o tráfico acabou, e nós que fazemos a instituição Luísa Xavier, nos encarregamos de proporcionar a reabilitação daquelas crianças e adolescentes que eram ajudantes do Grego. Felizmente tudo ocorreu bem, e hoje conseguimos empregar milhares de pessoas em nossa instituição matriz e nas filiais espalhadas por vários lugares do Rio. A ideia do Edu foi um sucesso, e vagarosamente começamos a mudar a história do Rio de Janeiro.

—Oi crianças! —Dou um beijo em cada um dos pequeninos.

—Oi tia Lê! —Dizem juntos.

—Nina! —Chamo uma das garotas que trabalhava para o Grego. —Leve as crianças para os brinquedos, cuide de cada um pois são muito pequenos! —A menina assente com um sorriso no rosto e sai acompanhada pelos três.

—Parabéns Lexa, esse lugar é um sonho... —Bernardo diz aparecendo. Em seu rosto há uma expressão de orgulho. —Eu sempre soube que você conseguiria mudar o mundo minha irmãzinha... —Me abraça apertado. Liam faz o mesmo.

—Cheguei! —Edu grita segurando meus dois filhos pela mão. —Demoramos, mas chegamos! —Diz ofegante. —O trânsito estava uma merda, e ainda tive alguns imprevistos com a fralda do garotão do papai. —O menino moreno de olhos amarelados sorri mostrando os dentinhos pequenos. Ele é idêntico ao pai.

Merdi... —Eros repete o que o pai disse e Eu pego o menino dos braços do Dom. Reviro os olhos. São iguais até demais.

—Ery não pode repetir o que o papai fala, isso é coisa feia querido! —Repreendo o bebê que me olha com seus olhinhos cor de mel de forma divertida. —A mamãe não está brincando... —Ele abraça meu pescoço e me dá um beijo estalado na bochecha.

Dramático igual o pai...

—Vem cá Tina, o papai precisa ajudar com as coisas do palco. —Pego a menina com o meu último braço livre, dou um beijinho no Edu que sai rapidamente.

Ele não mudou quase nada, apenas alguns fios brancos a mais, nada de outro planeta.

—É melhor nos aproximar-mos o show está prestes a começar. —Aviso e o casal a minha frente assente.

***

A música Por enquanto - Cassia Eller feat Legião urbana, começa a ser tocada pelos músicos convidados. Edu hoje não fará parte do show, ele é apenas mais um expectador. Senta-se perto de mim e segura Eros no colo.

"Mudaram as estações
E nada mudou
Mas eu sei
Que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente"

As crianças que aprendem música nas oficinas com Edu, começam a cantar, e ele como um "pai" babão se emociona de primeira. Acho que na verdade todos emocionam-se, apenas quem vive de perto sabe a real condição de um favelado. Tudo é negado. Educação. Segurança. Saúde. Infraestrutura. Na favela se é negado até o direito de comer. O direito de viver. Sendo assim a única porta disponível, na maioria das vezes é o tráfico, a vida mundana, mesmo que isso signifique perder tudo que um dia você sonhou. Na favela existem corações bons, que almejam o mundo, assim como nós desejamos muitos anos atrás.

"Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba"

Hoje, eu sou Doutora Alexia Garcia Xavier Santoro, mas eu poderia ser apenas mais uma estatística. Poderia ser mais uma mulher em um milhão que teve sua vida ceifada infantilmente por um sem noção metido a Machão. Hoje eu poderia estar morta. E pensando no que eu passei, Foi criada uma ala especialmente para mulheres vítimas de violência, onde consequentemente Ísis veio trabalhar, eu mesma pedi para que ela me ajudasse nesse setor afinal nós duas vivemos na pele o que é ser violentada pelo próprio companheiro.

"Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem"

Vejo minha bonequinha perfeita em meus braços. Nunca achei que seria capaz de cuidar de tantas crianças, dar amor, carinho, educação, ser porto seguro de alguém, porém depois que Gabriel entrou na minha vida eu me tornei uma mulher totalmente diferente. E quando os gêmeos chegaram eu percebi que não existia uma vida melhor se eu não os tivesse. Acaricio com cuidado os cabelos de Tina, quanto Gabe que está sentado do lado da sua namoradinha delicadamente beija o topo da cabeça da irmã que brinca com o irmão que está no colo de Dom.

Meu marido me olha e sorri emocionado. Sussurra um eu te amo e eu deixo algumas lágrimas escaparem.

"Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa"

Minha missão foi cumprida, eu achei minha casa e hoje desfruto do calor dos braços do homem mais gostoso e sexy do mundo, e do amor incondicional dos meus filhos. Somos uma família feliz, decidimos esquecer o que não valia a pena ser guardado e agora nossa história ganhou um novo rumo.

Edu e Alexia terminam aqui, mas isso não é um adeus. É apenas um até breve.

Temos mais três histórias para contar, e aí vocês estão preparados para A Imperatriz, O Conde e o Duque?

Fim do livro 1.

O Príncipe Do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora