As florestas da Pensilvânia eram densas e escuras, apenas alguns raios de luz se esgueiravam sorrateiramente entre as folhas. Harmony tinha sete anos quando entrou na floresta pela primeira vez, com os cachos ruivos escapando das tranças. Ela não sabia aonde estava indo, apenas que tinha que sair de onde estava. Fazia horas que via o mesmo conjunto de árvores ao seu redor, estendendo-se para sempre. Ela não se importava de estar perdida. Se fosse encontrada seria levada para casa e era de lá que estava fugindo. Ela não sabia que estava procurando por algum lugar, mas quando afinal alcançou o destino, Harmony soube que não podia ter sido ao acaso. As árvores a haviam conduzido para o que passara a ser seu local preferido e na beira do lago ela fizera uma amiga.
O chão coberto de folhas e rochas dava lugar a uma areia escura e grossa onde a água a encontrava. Ela via o limite do lago no lado oposto, flanqueado por mais pinheiros verdes, mas aos lados a água atravessava o limite de sua vista. Um ponto claro contra a água azul escura se destacava, ao chegar mais perto Harmony notou que eram cachos louros, tão claros que pareciam quase brancos. A garotinha parecia menor do que ela, sentada numa rocha angulosa e submersa apenas até os joelhos. As botas de Harmony soavam pesadamente contra o silêncio absoluto do lugar.
— Olá.
A menina disse isso sem se virar. Sua voz calma soou pelo ar como a de um artista, sem esforço algum.
— Oi — a voz de Harmony saiu aguda em comparação.
Ela se aproximou lentamente, indecisa. O sol, agora livre das folhas altas, refletia forte contra a água. Ela chegou à conclusão que não havia perigo algum, pois nos filmes de suspense as coisas ruins sempre aconteciam em lugares escuros e em sua experiência isso era verdade. As coisas sempre ficavam piores quando o sol começava a se pôr e só voltavam a melhorar na manhã seguinte, ela sempre observava o sol subir enquanto andava até a escola.
Ela não entendia por que as outras crianças não gostavam de estar na escola, onde sempre tinham livros para ler e coisas novas para aprender, onde o mundo era cheio de possibilidades. Mas este era um fim de semana e pela primeira vez Harmony havia saído de casa, esgueirando-se pela sala com passos silenciosos.
Agora estava perto o suficiente para ver as ondas fracas formando círculos na superfície do lago. As pernas da garota estavam paradas embaixo dágua e Harmony não via nenhuma outra pessoa por perto. Ela se perguntou o que estava fazendo a água mexer.
— Não tem medo do que pode estar embaixo? — perguntou.
A menininha loura observou os próprios joelhos meio submersos e disse:
— Eu sei o que está lá embaixo.
— O que?
— As sereias, é claro.
Harmony já tinha visto sereias em seus livros, com cabelos longos e caudas coloridas. Mas elas faziam parte do mundo do folclore, onde crianças mergulhavam no reflexo da lua e pais enfrentavam feras para salvar seus filhos. Era um mundo muito diferente do qual ela vivia.
— Não precisa ter medo — a garota finalmente virou o rosto e estendeu a mão — Elas são minhas amigas. Nós podemos ser amigas também.
Harmony não sabia se a achava estranha ou incrível, mas queria desesperadamente ter uma amiga. Ela se sentou na areia e tirou as botas, seus pés desapareceram na escuridão e a água gelada levantou todos os seus pelos.
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Seven | Projeto Folklore
Short StoryHarmony tinha sete anos quando conheceu a amiga que mudou sua vida. Juntas no lago entre as árvores, elas escapam de suas vidas criando um fantástico mundo particular.