Heartkeeper

poções, feitiços e quadribol

Gun não via graça em quadribol, e provavelmente era o único em toda Hogwarts. Sabia disso, afinal, enquanto todos corriam animados para o campo para prestigiar uma incrível partida entre a Grifinória e a Lufa-lufa, continuava sentado em uma das mesas compartilhadas da biblioteca, lendo sobre poções e transfiguração.

Pretendia ficar ali o resto da tarde, sentindo o vento vindo da janela bagunçar seus cabelos e a sensação de calmaria que só um lugar como aquele tinha. É claro que ele pretendia, já que não demorou muito para que a porta pesada de madeira abrisse e um lufano animado e sorridente passasse por ela.

— O que você quer, Tawan? — perguntou antes que o amigo chegasse até a mesa. O moreno raramente entrava na biblioteca, a não ser que quisesse alguma coisa, então ele estar ali significava que tinha outras intenções.

— Vou direto ao ponto antes que eu me atrase. — o lufano se debruçou por cima do livro que Atthaphan lia, deixando seu rosto próximo ao do amigo, que recuou um pouco. — Vamos assistir ao jogo comigo?

— Não. — foi direto, empurrando o ombro dele para que liberasse as páginas do livro. Odiava quadribol e Tawan sabia disso, não havia nada no mundo – nem no trouxa, nem no bruxo – que o fizesse assistir à um minuto sequer do esporte.

— Tudo bem. — deu de ombros. Gun franziu as sobrancelhas com a ação, observando o amigo virar de costas e caminhar em direção da porta. Estranhou, Tay nunca desistia tão fácil assim.

 — Você não vai insistir? — aumentou um pouco o tom de voz, sentindo o olhar da bibliotecária queimar em seu rosto pelo barulho.

— Não. Vou dar os sapos de chocolate que comprei para o Singto, com certeza ele vai comigo. — disse por cima do ombro, saindo de lá.

Apertou os olhos, dando-se por vencido aos poucos. Odiava quadribol, mas amava sapos de chocolate e não perderia aquela bomba açucarada para o outro lufano de sorriso fácil e coração mole. Fechou a capa do livro e se levantou, correndo atrás do amigo. Tudo bem, talvez existisse uma coisa no mundo que o fizesse assistir quadribol.

[...]

Gun estava se odiando por aceitar aquela proposta depois de passar poucos minutos — que mais pareceram horas para ele — no meio daquela confusão. "Calma Atthaphan, tudo pelos sapinhos deliciosos de chocolate" era o que ele pensava quando era acertado por um cotovelo ou um braço. Além de estar na arquibancada destinada à casa de Godric — a qual não tinha muito apreço —, ainda era obrigado a lidar com gritinhos histéricos todas as vezes que um artilheiro vermelho e dourado tocava na bola.

Tawan estava ao seu lado, com seu belíssimo cachecol amarelo e preto que atraía olhares atravessados por ser da casa rival. Não que o lufano de fato se importasse, estava ocupado demais observando o namorado em campo. Arm era apanhador da Grifinória, um título importante e invejável já que poderia vencer o jogo para sua equipe simplesmente por agarrar o pomo de ouro, além de ser considerado tão bom quanto o próprio Harry Potter fora um dia.

Como estava pouco interessado na parte prática da partida, Gun passou a focar nas técnicas utilizadas por cada um dos componentes de ambas as equipes. Quando os livros de história e feitiços acabavam, Atthaphan se aventurava pelas escrituras sobre quadribol que a biblioteca oferecia. Era uma prateleira inteira apenas sobre o esporte, o que o sonserino achava um tanto quanto desnecessário — o que havia de tão importante para dizer sobre montar em vassouras e correr atrás de bolas que precisava de uma estante cheia?

No geral, todos os atletas usavam jogadas rasas e que poderiam ser facilmente defendidas, sem chance para marcar pontos. Por isso, a partida estava equilibrada, o que Gun achava entediante demais para uma final. Estava a ponto de falar para Tay que desistia dos sapos de chocolate, quando um artilheiro lufano chamou a atenção da torcida.