Querida Folha em Branco

Capítulo 28

CAPÍTULO 28

Março. Três meses depois do fatídico episódio do casamento frustrado. Pessoas agora se aglomeram diante do palco montado no segundo andar da Megastore da editora “100 palavras” à espera de mim. Isso mesmo: de mim. Toda essa história por qual passamos tinha um único objetivo: trazer-me até aqui. Hoje é o dia do lançamento do meu livro!

Quem pensou que no meio tempo de tudo isso eu não escrevi, redondamente se enganou. Eu escrevi, e escrevi uma história bem legal. E Olha que nem foi a minha. Se eu escrevesse minha história tenho certeza que ia acabar virando personagem secundário por ter amigos fantásticos e eu ser uma pessoa mais simples. Mas que daria uma boa história, isso daria.

Subi no palco depois da introdução de Brian, que parecia bem feliz. Depois que Sam decidiu sumir, não tocamos mais naquele assunto. Não tive noticias de Sam até esse momento. Nem de Danilo, mas acredito que tenha voltado para sua cidade natal.

Respirei fundo e olhei a plateia com alguns rostos familiares: meus pais, Tom, Mel e Seth. Brian permanecera do meu lado no palco.

- Boa tarde – falei quando cessaram-se os aplausos. – Bem, lancei um livro. Finalmente lancei meu novo livro. Não fui obrigada pelo meu chefe como muitos podem ter pensado. Escrevi por prazer, como sempre fiz em minha vida, desde que ainda fazia o colegial. Eu sei que a noite é de seu lançamento, mas não acredito que ele seja a coisa mais importante que conquistei.

- Ao longo do percurso até aqui eu conquistei coisas mais importantes: conheci novos amigos, descobri amores, me vi em situações que jamais acharia que participaria algum dia em minha vida. Apertei os laços com minha família. E muito disso eu devo a esse cara que está aqui do meu lado: Brian. Sem ele eu não teria conseguido fazer a história mais importante desta noite: a minha história.

[aplausos]

- E se pensar que no começo de tudo eu fiquei com muita raiva dele por atirar meu celular de uma janela. Depois de tudo o que aconteceu eu sequer senti falta dele, para falar a verdade. Minha vida estava muito mais interessante.

- Você devia escrever sua história também. – Brian disse, puxando mais risos da plateia.

- Brian, se eu escrevesse minha história ela não iria parar em um livro só. A Minha história até aqui daria um bom livro sim, mas, e depois? Eu sei, você sabe, nós sabemos que ficaram muitas pontas soltas pelo caminho.

- Se ficaram! – Ele respondeu.

- Mas não se preocupe. Talvez nossa história seja escrita em alguma querida folha em branco um dia.

Brian riu e aplaudiu junto com a plateia. Tornei a falar.

- Mas enquanto isso não acontece, espero que vocês se empolguem com esse livro que apresento à vocês agora. Chama-se “A Trombeta de Pedra”. A História dele eu não vivi de fato, é uma ficção. Porém algo que conheci em minha jornada até aqui me inspirou a escrevê-la. Eu conheci uma estátua. Sim, uma estátua! E fiquei muito amiga dela se vocês querem saber.

Brian girou o dedo em circula na lateral de sua cabeça, indicando que eu era louca. Ri junto com ele e a plateia e continuei:

- Só que essa estátua não tinha passado. Ela simplesmente não tinha história. Ela só existia, só era. E Enquanto eu construía minha história eu pensava que todos mereciam ter uma. E Uma boa história como passado. Uma trajetória que valesse a pena ser contada. Então eu resolvi cria-la como quem faz um favor a um amigo ou a um membro da minha própria família. Espero que vocês gostem de ler o mesmo tanto que eu gostei de escrever. Obrigada!

Fui aplaudida ao descer do palco. Sai para abraçar os conhecidos e cumprimentar os desconhecidos.

Em um ponto da noite Tom virou-se para mim e disse:

- Fechamos mais um capítulo da vida com chave de ouro! E Agora?

- Agora? – respondi – Agora eu não sei. E que bom que não sei porque é muito gostoso ser surpreendida com o que a vida tem para oferecer. E sei que ela ainda tem muita coisa para nos brindar.