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- A lá, a lá! A presidenta ta subindo pra fazer o discurso!  

O povo parou. Parou e sentou na frente da TV para ver o que Dilma Rouseff, a primeira presidenta do Brasil, teria para dizer em seu segundo mandato. Desde que ganhara as eleições de Aécio, as coisas não estavam muito boas no Brasil, então o povo realmente queria saber de seus planos para o futuro. 

O povo não soube; nunca soube. Nunca saberá.

Ela pisou os pés no palanque, seu vice do lado e o microfone à frente. Cumprimentou aos presentes, cumprimentou ao povo... e foi cumprimentada. 

- À lá, o povo ta gritando, mulher. Eles gostam da Dilma mesmo.

Não, telespectador burro. Dilma foi cumprimentada. Cumprimentada. Bem cumprimentada. Cumprimentada por uma bela composição de chumbo, que atravessara-lhe a cabeça de uma extremidade à outra. Os presentes gritavam em alvoroço, em pânico diante do horror que se dava.

Sabe-se lá quem deu o tiro, mas inegável era que foi certeiro. Fatal. Banal. Louco. Assassino. Mas quem é que liga? A moça ta morrendo lá, ta morrendo lá!

A presidenta, que tinha levantado os indicadores de ambas as mãos para iniciar seu discurso, começara a despencar para trás. O que será que se passava na cabeça dela nesse momento?

Caralho, me fodi.

Puta merda, to morrendo.

Essa minha roupa ta feia pra cacete, quem fez isso, meu deus?

Ah não, PMDB vai foder isso aqui tudo.

2018 é Bolsonaro comendo o cu de geral.

Aécio, seu malandrinho!

Será que tava tocando uma música na cabeça dela? Será que tava tudo em câmera lenta?

Aqui tem João-de-Barro, Pintassilgo, Pinta-roxo,

Pica-pau e Colibri

Aqui tem Canário-belga, Araponga, Açum-preto,

Curió e Bem-te-vi

Aqui tem tanta Andorinha, Cambaxirra, Quero-quero,

Rouxinol e Juriti

Que servem de tiro ao alvo

Para espantar o tédio

E o vazio do existir

Matador de passarinho,

Matador de passarinho,

Matador de passarinho, 

Matador de passarinho...

Dilma curtia Rogério Skylab?

Se curtia, foi a última vez que pode ouvi-lo... antes de bater com tudo e estremecer-se no chão gélido, que a recebeu num abraço mortal, que a recebeu anunciando o adeus.

- Rapaz, a lá, a Dilma morreu...

A Dilma MorreuOnde histórias criam vida. Descubra agora