Uma antiga profecia, bastante conhecida pelos magos de Meridionali, conta que o mundo entrará em colapso:
"Todos os seres de Entia, sejam eles humanos, elfos ou demônios serão seriamente afetados, assim como toda a natureza.
Poderá acontecer a mesma coisa que ocorreu décadas atrás. Um terrível massacre.
Tudo começará através de um forte laço que será quebrado.
Dois opostos, se tornarão cada vez mais fortes na companhia um do outro de forma gradativa, após uma terrível tragédia que transformará terracota em carmesim.
Alguns os aguardam há séculos, acham que podem trazer a glória que todos os seres míticos merecem.
Outros temem que essa profecia se concretize e leve todos a ruína.
Assim como o mundo precisa do ying, o yang também é necessário.
Só o tempo nos dirá se é real ou não."
Mei Wang, uma senhora com setenta anos - bem vividos - e recheados por pura magia, sempre embalava seu neto e contava as histórias das antigas profecias para o pequeno, antes de dormir. Era uma das formas pela qual ela perpetuava a tradição de seu povo: através dos contos.
Cresci com meu pai num bairro em Terra Antiqua. Desde cedo aprendi que aquele olhar frio era o único amor o qual eu receberia. Nunca tive ninguém além dele, ele era a minha única família, se é que eu posso chamar assim.
- Sua mãe te largou! Você deve tudo a mim, Sun! - Ele fazia questão de afirmar a cada nova briga. Tudo isso alimentava meu demônio interior, afinal, meu pai é de origem demoníaca e queria que eu me tornasse igual a ele. Ele nutria o que havia de pior em mim, de propósito.
Com o tempo consegui criar pequenas bolas de fogo com as minhas mãos, assim como meus cabelos loiros passaram a assumir frequentemente o tom amarelo avermelhado. Comecei a escutar os sussurros dos demônios antigos, que eram as únicas conversas que eu tinha na minha infância.
"Apollo, ne quod símile. Nos cura te. Ut practicing."
Sempre que ouvia o chamado dos demônios, eles me confortavam. Às vezes Caio, meu pai, era mais demoníaco do que os próprios. Eu achava engraçado que os espíritos das trevas sempre me chamavam por Apollo ao invés de Sun e sempre me pediam para continuar a praticar a minha magia. Diziam que eu poderia ser o mais poderoso de todos.
Quando completei onze anos fui colocado no Internato Pecunia, de Vila Antiqua quando Caio foi chamado para assumir um cargo numa renomada escola em Crystallis. Ele dizia que eu era muito novo para ir com ele, a verdade é que ele sempre quis se livrar de mim. Não quis dar ouvidos as inúmeras desculpas que ele inventou para justificar a própria ausência, com planos mirabolantes para retomar o lugar que os humanos haviam tirado dos seres míticos. Ele sempre achou que não escutava as reuniões que ele fazia na sala de estar da nossa antiga casa, tarde da noite, quando ainda morávamos juntos.
Passei a atormentar todas as crianças e funcionários dia após dia, até que os subornos e as desculpas com direito a lágrimas de crocodilo de Caio não fossem mais suficientes: fui expulso do Internato após dois anos. De alguma forma, tinha esperanças de conseguir ser enviado para Crystallis. Nunca havia estado longe de Terra Antiqua, e por mais que meu pai me assustasse, estar longe dele era ainda mais aterrorizante.
Porém, após a expulsão, fui enviado para uma outra instituição: O Orfanato Municipal de Vila Antiqua, após receber duras ameaças de meu pai a respeito do meu comportamento.
Passei os próximos anos trancado em meu quarto escuro. Meu antigo medo foi substituído por pura ira, que aumentou cada vez mais, assim como a minha solidão. E esse foi o motivo pelo qual o meu demônio interior ganhou ainda mais forças. Minha maior meta passou a ser me tornar o pior de todos: me tornar um demônio pior do que meu pai.
Sempre desejei ter uma vida normal, mesmo sem conseguir definir vida normal de uma forma literal. Poderia ser algo bem clichê, com direito a uma família perfeita, um romance adorável e um final feliz. Por mais que soe bobo é algo que por vezes me pego sonhando acordada desde pequena.
Desvio meu olhar para meu livro em meu colo, um romance adocicado. Aproveito para verificar minha mãe, recostada no sofá de acompanhante que fica ao lado da minha maca. Mesmo adormecida, mantinha uma expressão preocupada no rosto.
Faz cinco meses desde que sofremos um acidente de carro em nossa viagem de férias a Vidit. Pouco antes do acidente, minha mãe havia começado a me ensinar magia, secretamente - algo que ela havia aprendido com minha avó e foi guardado a sete chaves em sua mente.
Também estávamos animados para visitarmos a casa de praia do meu pai, herança de família. Sempre íamos desde a minha infância, mas por questão de segundos, nossa vida - que nunca foi considerada normal, mudou consideravelmente.
Meu pai, Theo, por reflexo, esterçou o volante, jogando o lado do carona contra a carreta que invadiu a via em que estávamos. Não recordo exatamente o que aconteceu, apenas me lembro da sensação desesperadora e de sentir ferros e lataria contra todo o meu corpo antes de desmaiar.
Eu fui a primeira a acordar, o que me levou a uma dor ainda maior: o medo de perder as pessoas que eu amo. Minha mãe, Lia Black, por ter ficado em coma por lesão cerebral, acordou após semanas do acidente e misteriosamente (para os médicos), suas sequelas sumiram após acordar. Nunca me senti tão aliviada em toda a minha vida.
Porém, nem toda a magia do mundo seria suficiente para recuperar as minhas sequelas e traumas de uma só vez. Minha mãe ajudou com o que ela pôde, fazendo pequenos feitiços de regeneração e vitalidade, mas eu precisava continuar no hospital para dar continuidade a minha fisioterapia. Parece que sou uma criança novamente, aprendendo a segurar um simples lápis e a fazer movimentos bobos.
Meu pai não teve a mesma sorte que nós duas, ele nunca abriu os olhos. Por vezes me sinto culpada e tento tratar esses sentimentos dolorosos com a ajuda da psicóloga. Vários "E se" surgem em minha mente: e se não tivéssemos viajado naquele dia? E se eu fosse melhor com a magia e pudesse ter nos salvado?
Apesar de sempre ter almejado uma vida perfeita, sinceramente, não espero que algo mude. Por mais que, no fundo, ainda tenha uma esperança de um recomeço. Um recomeço para mim e a minha confiança em mim mesma.
Fim do prólogo. A história Sun to Moon continuará logo, agradecemos a todos que puderam tornar essa história real, que surgiu de um RPG - ela foi adaptada por mim e totalmente reinventada para se tornar um livro (agradecimentos especiais a Andrya e Camz).
Continuem a apoiar a história!
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Sun e Moon na Floresta de Dryadallis
FantasyEntia é um mundo em que elfos, magos, sereias e demônios coexistem com os humanos. Porém, tudo começa a entrar em colapso depois da convocação do líder dos seres míticos. Uma antiga profecia começa a se realizar e a dúvida que fica é se Moon, uma b...