𝚙𝚛𝚘𝚕𝚘𝚐𝚞𝚎

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𝐖𝐄𝐒𝐓𝐖𝐎𝐑𝐋𝐃
𝐬𝐞𝐚𝐬𝐨𝐧 𝐭𝐰𝐨

Alguns horrores da guerra ficam para sempre em nossas mentes, alojados em memórias tentando dilacerar o pouco de sanidade que restam das vítimas.
E muitas vezes as vítimas também são consideradas culpadas pelo que levou aquilo a acontecer. Mas será que de fato os outros inocentes merecem pagar a mesma guerra que os verdadeiros vilões?

Eu ainda mantinha poucas memórias de meu pai guardadas da pequena infância que tive ao lado dele. Logan não era exatamente um exemplo paterno perfeito, mas algo dentro de mim preferia continuar me apegando ao sentimento de que ele não merecia o fim que teve e a culpa era toda e completamente do meu tio William.
Anos depois, conforme fui crescendo cercada pela loucura dele notei que sua perturbação era evidentemente ligada ao famoso e bem sucedido parque de diversões da alta sociedade.  Westworld.

Um lugar bizarro onde réplicas humanas perfeitas eram programadas para trazer diversão ao público sádico que adorava revelar sua verdadeira natureza sombria quando colocava os pés naquele velho oeste. Minha curiosidade sempre me manteve perto do meu tio para saber mais da realidade que havia ajudado a destruir meu pai, e em tudo que William dizia o nome que sempre saía de sua boca era Dolores. Obsessão ou não da parte dele, a anfitriã mais famosa do parque passou a ficar em minha mente também, enquanto eu tentava entender como uma máquina havia feito um ser humano se apaixonar e o que poderia ter de errado com ela por conta de tantos outros murmúrios preocupantes que eu conseguia ouvir escondida durante festas ou visitas à empresa.

Westworld, apesar de ser um assunto frequente em minha vida, não era um local que eu me sentia confortável de estar. Chegava a me parecer bizarro e assustador, afinal... Eu tenho uma pequena paixão por filmes antigos como Exterminador do Futuro. E máquinas se rebelarem contra os humanos me parecia a opção mais provável de apocalipse levando em conta a era da tecnologia que estávamos vivendo. Mas eu não esperava que realmente o pior estava tão próximo de acontecer.

Tudo aconteceu muito rápido, no dia anterior minha prima - Emily - decidiu ir ao parque pedindo para que eu fosse junto, mas neguei. Porém no dia seguinte os boatos da rebelião chegaram até mim e eu me culpei amargamente por ter deixado que Emily fosse sozinha.
Não é que eu seja covarde, mas era uma proporção muito grande de chances daquilo não acabar nada bem. Sabia que em algum momento era inegável que aquilo aconteceria. Mas quem ouviria a jovem Delos órfã com pânico de robôs falando sobre a revolução dos mesmos? É, não soa muito confiável por alguém inexperiente sobre tecnologia.

A questão é que, depois de um longo tempo em surto apavorada e amedrontada, lá estava eu fazendo o que jamais pensei que faria: pisando pela primeira vez em Westworld. Torcendo para encontrar logo minha prima e sair dali o mais rápido possível.

Um cavalo, no qual eu também não confiava, estava me levando pelo parque devastado como uma cena pós guerra, nada glorioso como contavam até dias atrás. Era realmente assustador.
Eu segurava firme nas rédeas do animal falso, contraindo os lábios e engolindo em seco enquanto fitava um horizonte incerto. Respirava fundo contando até dez mentalmente tentando me acalmar me concentrando em pensamentos positivos até ouvir um barulho nas árvores por perto do caminho onde estava, me fazendo quase cair do cavalo segurando rapidamente no chapéu em minha cabeça.

— Ok... Sem pânico. — murmurei baixinho enquanto descia com cuidado, ajeitando a camisa social no corpo e o lenço vermelho que eu mantinha amarrado ao pescoço.

Mais uma vez engoli em seco enquanto me aproxima de um arbusto, levando a mão rapidamente ao coldre da calça, o que me fez arregalar os olhos apavorada ao notar que estava vazio.

— Puta que pariu! — mil xingamentos passavam por minha cabeça me fazendo bufar em irritação.

Lembrei do momento exato em que, por nem sequer saber atirar, me auto orientei a não levar a porcaria de um revolver pra um lugar infestado de máquinas vingativas que pelo que parecia agora odiavam humanos.
Revirei os olhos e mantive um dos braços pra trás a fim de fingir que segurava uma enquanto, abaixando com cuidado, me aproximei de arbusto para ver o que acontecia do outro lado.

E foi quando te vi pela primeira vez. De frente a um grupo de visitantes do parque ajoelhados com as mãos amarradas para trás enquanto você os ameaçava. Não era nada parecida com a frágil donzela em perigo que William me descrevia. Seus olhos azuis eram perversos, os cabelos loiros bagunçados e o vestido agora estava rasgado e coberto pelo sangue que foi a primeira coisa a me assustar. Mesmo assim sua voz ainda me deixava presa a você, era o que mais me chamava atenção. Suas palavras frias e calculistas saíam num discurso que por um segundo quase me convenceu, me deixando com um frio estranho na barriga.

Querida Dolores,

Gostaria de ter te contado desde aquele momento o efeito que você causava em mim, o poder que tinha sobre minha mente e como simplesmente roubava minha atenção acima de qualquer outra coisa. Mas naquele dia nem eu mesma percebi, pois quando me dei conta do risco que estava correndo te espionando você já mantinha seu olhar fixo a mim e, como sempre foi, não parecia nada contente com minha curiosidade.

𝐝𝐞𝐚𝐫 𝐝𝐨𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬; 𝚠𝚎𝚜𝚝𝚠𝚘𝚛𝚕𝚍 𝚏𝚊𝚗𝚏𝚒𝚌Onde histórias criam vida. Descubra agora