|Capítulo 2|

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O lobo está a espreita

Antes de ir se ir se arrumar, Olívia observou através da janela o balanço enferrujado no jardim, tudo estava tão abismal, mas uma enxurrada de lembranças vieram, sentia saudades daqueles dias, dias em que não se sentia presa, se sentia livre para brincar. Soltou um longo suspiro e pensou se algum dia se sentiria assim de novo. Tomou um banho rápido, vestiu uma blusa de frio, calça a sua bota favorita, era de cano curto, marrom e sem salto, não caprichou em nada, afinal eram apenas vizinhos que não veria quase nunca devido às suas ocupações diárias. Secou o cabelo rapidamente e desceu.

― Qual casa eles ocupam? Não lembro de nenhuma casa vaga ― perguntou enquanto a mãe trancava a porta.

― A mansão aqui de frente. ― Passou pela filha.

― Depois de anos abandonada? ― Arqueou as sobrancelhas. ― Olha, eu estou curiosa para saber quem são os corajosos, não sei, mas esse lugar dá arrepios em qualquer um.

― Está exagerando. — Carolina arqueou as sobrancelhas.

— Talvez... Ah, hoje o dia está tão mórbido.

— Eu sei, é por causa dessa tradição idiota de dia dos lobos, as pessoas ficam como loucas, como se fosse o evento mais importante da humanidade.

— Agora quem está exagerando é você mãe. — Olívia retrucou.

— Essa tal festa é ridícula e desnecessária, só serve para os jovens se drogarem e beberem igual malucos.— Rebateu.

— Ok mãe, ok. — Olívia finge concordar para encerrar o assunto. Quando sua mãe falava sobre as tradições da cidade, ia longe.

Diante dos portões de ferro, Carolina toca a campainha, enquanto Olívia procurava ver através do vão entre os ferros do portão quem sairia para atendê-las, quem quer que fosse o parabenizaria pela coragem em morar num lugar tão sombrio como aquele.
As portas se abriram revelando um homem bem trajado em uma calça azul jeans, camisa social grafite com botões e por cima um sobretudo de cor terrosa, no pescoço usava uma echarpe vinho, apoiado na nuca, com as pontas soltas. Ele andava aprumado sobre um coturno nos pés e com uma das mãos no bolso da  calça, caminhou em direção a elas, na medida em que se aproximava conseguiam vê-lo melhor, seu cabelo era loiro natural e se estendia liso até a altura do queixo, enquanto andava, esvoaçava em favor do vento, às vezes chicoteando para todos os lados, fazia uma moldura perfeita para seu rosto quadrado e maxilar marcado, quando chegou até elas, ambas conseguiram vê-lo com mais nitidez, seus cabelos pareciam sedosos e bem cuidados, assim como tudo que possuía, não poderiam negar, sua beleza era encantadora, embora estivesse sério, seus olhos sorriam e eram convidativos.

― Somos suas vizinhas, viemos cumprimentá-los. ― Carolina começou a falar.

― Claro, por favor entrem. ― Abriu os portões gentilmente, dando-lhes passagem.

― Carolina Parker. ― Se apresentou estendendo a mão para o homem. ― Esta é minha filha, Olívia.

― Jason, é um prazer. ― Apertou a mão da Carolina firmemente, em seguida fez o mesmo com Olívia que não deixou de perceber o quão era forte e macia. ― Por favor, entrem. ― Os olhos negros do homem as avaliaram por pequenos instantes, ao ser flagrado por elas, um singelo sorriso se fez em seus lábios. ― Me acompanhem.

Caminharam pela estreita e curta passarela de concreto em fila, sendo Jason na frente, Carolina e por último Olívia.

Olhando em volta pela primeira vez, viram como de fato era o terraço daquela mansão. Para Olívia continuava sendo assustador e macabro, para Carolina não tanto assim, no silêncio só se ouvia o som dos pássaros sobre os telhados e o barulho dos sapatos de Jason batendo no concreto enquanto andava.
Devagar, Olívia olhou para o lado direito, pousando os olhos no conversível cinza e do outro lado uma fonte temporariamente parada pelo inverno. O gramado parecia bem aparado e cuidado e uma camada de neve se fazia sobre ele, pouco a pouco. Ambas podiam sentir o cheiro de tranquilidade, pelo menos naquela área. Quando a porta foi empurrada revelando a vasta sala de estar, ela se sentiu em um dos filmes dos anos sessenta, a decoração era de tirar o fôlego, mal sabia para onde olhar, o sofá, as cadeiras, tudo muito antigo e conservado.

GRIFFINS. O despertar. Livro 1. DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora