Encontros

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Thomas.

O dia está frio, nublado, com uma aparência entediante, mais um dia comum em Londres. Acordo com um entusiasmo quase inexistente, a única coisa que realmente queria era a minha cama, lá eu consigo realmente ter paz. Entretanto, hoje é terça-feira, mais um dia de trabalho, mais um dia de rotina, com as mesmas coisas, as mesmas pessoas, eu estou cansado disso.
    Levanto, escovo os dentes, tomo banho, me visto, faço tudo como um robô, como se o meu dia já estivesse inteiramente programado para ser incrivelmente chato. Saio de casa um pouco mais cedo que o normal "finalmente alguma coisa diferente", penso.
     No caminho vejo umas pessoas entregando alguns panfletos, imagino que sejam alguma propaganda irrelevante e atravesso a rua para evitá-las. Uma moça irritantemente feliz com dezenas de papéis na mão me segue logo em seguida, ela é branca, com cabelos loiros não muito longos, um sorriso lindo e extremamente contagioso e olhos incrivelmente azuis. Ela da uma leve corridinha e me alcança com facilidade, eu definitivamente não estava com pressa.
      — Bom dia!!! — Diz ela praticamente gritando para mim.
      — Como posso ajudar? — Respondo de maneira gentil e com um leve sorriso, apesar de querer ignorá-la. Ela me entrega um panfleto, nossas mãos se encostam por um milésimo de segundo, mas consigo sentir que sua mão está quente e provavelmente confortável.
     — O que seria isso?
     — É sobre o nosso grupo, fazemos companhia a velhinhos que foram praticamente abandonados em asilos. É só ler para saber mais sobre nós, o panfleto é bem autoexplicativo.
      — Ah sim — respondo acompanhado de uma risada espontânea, fazia tempo que eu não ria assim, pouco, mas de verdade.
     O panfleto era bem agradável, com flores desenhadas, fotos de integrantes abraçando idosos e os fazendo sorrir, de certa forma, tocante, mas não acho que seria algo que eu faria parte.
     — Caso esteja interessado, é só ligar para o número abaixo que nós faremos seu cadastro para trazer um pouco de alegria a essas pessoas. Ao propósito, qual é o seu nome?
     — Thomas, Thomas Taylor. — Respondo meio sem graça, não queria desapontá-la, ela parecia muito feliz com aquilo.
     — Eu sou Ada, muito prazer — Ela diz com um grande sorriso e vai em direção a outra pessoa na rua apresentar seu grupo.
     Continuo meu caminho em direção ao restaurante onde trabalho, o Big food sempre foi um sucesso no bairro onde moro, mas de alguns anos pra cá, ele tem ficado vazio com uma certa frequência. Meu trabalho é fazer com que o local seja extremamente limpo, meu chefe não é tão rígido quanto a isso, mas eu faço sempre o meu melhor, odeio ver as coisas sujas ou desorganizadas.

Ada.

O dia hoje está calmo, bonito, apesar de nublado, eu acredito que o céu tem uma beleza diferente todos os dias, mesmo com a pior tempestade. Nós estávamos quase indo embora, estávamos esperando mais alguns minutos para ver se alguma pessoa que ainda não conheça o nosso grupo passasse. E finalmente, um rapaz, que nunca deve ter ouvido falar de nós entrou na rua, bem, pelo menos eu, nunca o vi, ele era branco, com um cabelo castanho claro e desarrumado e olhos cor de mel, ele era alto e parecia desanimado.
Eu expliquei o grupo a ele, mas ele não apresentou muito interesse, uma pena, ele parecia precisar disso. As pessoas acham que ir a um asilo animar idosos é algo que ajuda apenas eles, mas estão enganadas, quando saio de lá, meu pensamento muda, vejo como inevitavelmente vou terminar, e tudo bem, pois planejo viver uma vida que me forneça grandes histórias para contar, além de muitos filhos e netos para compartilhar tudo que eu aprendi e vou aprender. Além disso, fazer as pessoas sorrirem me faz muito feliz. Eu toco violino, não sou nenhuma profissional, mas sei algumas músicas agradáveis, pratico todos os dias para fazer aqueles velhinhos, que acham que foram abandonados pela sociedade, sorrirem um pouco.
Voltei para casa, fiquei pensando naquele homem, em sua mão gelada, mas, surpreendentemente confortável. Será que ele ligará para nós? Uma parte de mim quer isso, digo a mim mesma que é para aumentar o grupo, e porque Thomas precisa disso. Mas sei que no fundo me quero conhecê-lo e mostrar a ele que pode sorrir fazendo os outros sorrirem. Balanço a cabeça para apagar os pensamentos, "O que estou fazendo? Nem conheço o sujeito, ele que está perdendo o prazer imenso que é fazer qualquer velhinho feliz".
Chegando em casa, tiro minhas roupas e preparo um bom banho quente, não há nada melhor que isso para relaxar, mas um pouco antes de entrar na banheira, ouço o meu toque de celular, fico um pouco irritada no começo mas vou atender, no caminho do banheiro até a sala começo a pensar, "E se for Thomas? Será que ele mudou de ideia?" Balanço a cabeça como fiz mais cedo, para apagar esses pensamentos idiotas.
— Alô? — Digo um pouco irritada por ter sido interrompida e me arrependo logo em seguida por existir a possibilidade de ter falado nesse tom com Thomas, não queria que ele rejeitasse.
— Alô? Ada, querida liguei em uma hora ruim? Estou precisando de ajuda para mexer nessa tal de internet. Preciso falar com seu irmão...
— Oi vó, eu te ligo assim que puder ok? Vou tomar um banho agora.
— Ah sim, desculpe Ada.— Eu amo a minha avó Olivia, mas eu realmente queria relaxar na banheira quente, refletir sobre a vida, sobre mim, ouvir meus pensamentos.
Entro na banheira quente, extremamente acolhedora, relaxando quase que automaticamente o meu corpo inteiro, me lavo lentamente para aproveitar esse momento que estou dando para mim. Fico quase totalemente submersa e fico imaginando o que eu faria se do outro lado da ligação, ao invés de vovó, fosse outra pessoa, aceito que não estou pensando em alguém qualquer, mas sim em Thomas. Quero que ele ligue, mas ainda acho que é só coisa da minha cabeça.
Saio da banheira e me seco normalmente, quero passar o dia em casa vendo minhas séries favoritas, o frio está praticamente me implorando para fazer isso, e eu cedi, hoje vou tirar uma bela folga, eu trabalho em casa, edito vídeos e fotos para algumas empresas, não estou com nenhum trabalho complexo e tenho um tempo longo para entregar os que recebi. Visto um pijama de moletom muito confortável que meus pais me deram no ano passado e deito no sofá com minha gata, o nome dela é afrodite, ela é da raça siamês, com olhos tão azuis quanto os meus. Ela é minha amiga, é meio difícil de explicar, mas depois de quase 6 anos juntas, ela me entende melhor do que muitas pessoas.

Ainda não sei ne hihiOnde histórias criam vida. Descubra agora