O penetrante timbre da clássica canção “Please Forgive-me”, imortalizada na profunda voz de Bryan Adams parecia eco do que tenho sentido. A música me faz lembrar do quanto o silêncio em meu apartamento é insano até mesmo para mim que busquei consolo na solidão. — a mesma que acolhe em meus fracassos, desliza rapidamente e preenche cada insignificante espaço de meu castelo, estendendo-se, faminta por mais de mim.
A melodia segue açoitando-me, enquanto caminho desatento pelo vasto ambiente, um copo de conhaque na mão, minha disforme silhueta acompanhando-me através do piso espelhado.
Eu liguei para a minha ferida e doce vitima, consciente do estrago sem tamanho que causei a ela. Eu insisti. Porra, foi humilhante para mim, implorando por tão pouco, totalmente indefeso, mais quebrado do que nunca.
Anna odeia-me, é claro. Eu também me sentiria assim se estivesse em seu lugar. Não foi apenas a mentira, o rompimento da confiança entre nós dois. As imundícies do meu infeliz passado foram demais para alguém tão limpo como ela. Como amar a um monstro como eu?
Anos atrás, fui traído da pior maneira, enganando, fazendo o ridículo papel de homem apaixonado e feliz. Me deixei ser possuído pelos sentimentos mais obscuros e traiçoeiros. Era ciúme, raiva, frustrações, indignação, decepção e muito acima de tudo isso, um profundo e perturbador desejo de vingança. Queria destruir os responsáveis, acabar com tudo, fazê-los sofrer o peso do que me fizeram sofrer.
Naquela noite, eu passei de todos os limites e o resultado foi tão catastrófico que nem mesmo eu podia acreditar em mim mesmo.
E agora, Anna sabe do que fui capaz de fazer. O epítome de demônio que tinha ao seu lado.
Fui responsável pela morte de Helena Parker, minha esposa. Aquela a quem jurei amar, cuidar e proteger até meu último dia nesta terra. Infelizmente, eu não fui capaz de cumprir a promessa feita diante daquele altar. Não pude proteger Helena de mim.
Esvazio o copo de conhaque em minha boca e o arremesso longe, engolido pela culpa, atormentado por Anna. Ela foi ferida por mim, destruída, odiando-me.
O barulho dos estilhaços de vidro parece dilacerar meus tímpanos, espalhados pelo assoalho de mogno lustroso, soando como uma horrenda interrupção para os últimos dizeres da velha canção, entoada com minha dor através do aparelho de som.
Desfaço-me no sofá, a cabeça entre minhas mãos, um nó que não se desfaz, embrenhado em minha garganta.
O silêncio acentua-se mesmo ao som da melodia.
Eu não tinha percebido ainda o quão fodido eu era até ter sido responsável por aquele melindrado olhar em Anna.
“Você é um tremendo fodido” Bem, é isso mesmo, querida. Não há como eu me ofender com a mais pura das verdades.
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Amores Proibidos - Vol. 1
RomanceA tempestade costuma castigar a cidade de Dreamland e não é uma novidade a nenhum de seus habitantes. Mas, atrasada para a aula de literatura do senhor Raymond - a brilhante, encantadora e jovem Anna Hayes não esperava contar que justamente naquele...