Chapther One.

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  Ano de 1918, Comuna de Saint-Quentin após o bombardeio.

Casas de famílias felizes se reduzindo a pó, catedrais que antes eram um lugar frequentado por crentes, agora destruídas e corpos de pessoas soterrados pelos entulhos.

O som dos tiros e das explosões que causavam fortes vibrações ao redor do ambiente era algo de fato devastador. Estava sentado em um dos telhados das diversas casas destruídas, observando aquele caos e tentando entender a mente dos seres humanos, são seres tão confusos. De acordo com a crença das pessoas, após a morte você iria para o céu, lugar que muitos julgam como paraíso, e para o inferno, onde aqueles que são julgados como ruins vão e a maioria teme. Porém, se for olhar pela descrição deles...

Eles já estão no Inferno.

Um período de destruição e mortes. Eu vi isso acontecer tantas vezes ao longo da história do mundo, mas não nessa proporção devastadora. Enfim, levantei de onde estava e sai andando por cima dos diversos entulhos espalhados e analisei as casas e as pessoas que ainda restavam após o bombardeio na cidade de Saint-Quentin, na França. Se eu ao menos pudesse ter algum tipo de interação com essas pobres vidas, mas aparentemente eu sou apenas um telespectador da vida humana, eles não me veem e tanto eles quanto eu não podemos interagir. Estou aqui há tanto tempo, nem sei de onde vim, se tive familia ou alguma coisa do tipo, só sei que estou aqui, existindo...ou não?

Nunca houve muita explicação sobre como eu passei à existir, estou aqui desde o início dos tempos e venho acompanhando a evolução do ser humano e, consequentemente, seu decaimento. Pessoalmente, acho que o ser humano vem decaindo bem mais do que evoluindo já que quanto mais eles criam, mais eles se tornam uma ameaça uns para os outros. Me sinto solitário constantemente, mas parando para ver de um lado, se eu interagisse com eles, eu estaria envolvido no meio dessa chacina que eles chamam de guerra.

Andando pela destruição, observei melhor os sobreviventes, não eram muitos levando em conta a enorme quantidade de pessoas que viviam aqui. Mulheres chorando e gritando pelo nome de seus filhos e outros desesperados por verem tudo aquilo que construíram ao longo da vida foi dizimado em questão de segundos. Era desconfortável ver aquelas pessoas sofrendo e não poder fazer nada a respeito, virei o rosto e continuei à seguir meu rumo sem um destino específico. Sentindo o vento forte bater contra meu rosto, olho o horizonte que antes era algo muito belo de se ver, me pergunto como vai ser o desfecho dessa guerra.

Além de me sentir solitário, havia outro ponto negativo, eu não tinha absolutamente nada para fazer, só andava um pouco e me sentava em algum lugar, sei que pode soar um tanto estranho, mas as vezes eu entrava na casa das pessoas para assistir sua rotina, mas parei de fazer isso com tanta frequência já que em uma dessas vezes eu derrubei um dos jarros de flores da cômoda de uma senhora, que chegou à levar um padre em sua casa para tentar se livrar do que ela julgava ser um espirito maligno. Sei que eu fui o real causador da situação, mas não posso dizer que não fiquei um tanto ofendido com aquilo.

 Olhei para uma árvore envergada para o lado e subi na mesma, me deitando e encarando o céu acinzentado, como eu ainda não tinha me entregado à loucura estando em uma situação tão esquisita?

No mesmo momento em que pensei isso, repreendi-me, eu não tinha esse direito, haviam pessoas sofrendo muito mais que eu à minha volta enquanto eu não era afetado por nada aqui. Suspirei fundo e fechei os olhos à fim de esvaziar minha cabeça, pensar nessas coisas não era bom.

 Após um tempo, escuto um barulho vindo detrás de uma das construções e vou até lá afim de saber o que é, poderia ser apenas um animal que ainda sobreviveu ou alguma pessoa se esgueirando entre os blocos destruídos e deformados. Segui o som que se repetia e quando cheguei até a origem do som, me deparo com um jovem que aparentava ter seus 17 anos de idade, uma aparência jovem assim como a minha, se eu fosse, bom, completamente humano, poderia dizer que temos a mesma idade física, ele estava sentado com as costas apoiadas no que restou de uma parede e mantinha o rosto escondido entre os joelhos, abraçando as pernas. Conclui que estava chorando, pobre garoto, mas uma vítima dessa catástrofe. Me aproximei e me abaixei de frente para ele, queria poder dar um apoio ao garoto, já tive vontade de fazer isso várias vezes com outras pessoas desoladas que encontrava no caminho, mas a minha condição, como sempre, me impedia realizar tal ato.

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⏰ Última atualização: Aug 18, 2020 ⏰

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