Janet
Dália levou-me a força para tomar sol no jardim e pude ver o abandono de minha parte para o lugar, com arbustos sem poda ou controle de ervas daninhas que despontavam por cima das flores. As coisas mudavam por ali, longe do meu conhecimento. Andei pelas trilhas predilhadas próximo aos ramos florescentes no chão e com flores abertas para receber luz. Com uma tesoura, cortei um emaranhado da planta e os recolhi entre os dedos ao retornar para a mesa.
Dália bordava silenciosa minha capa de inverno e meus olhos não deixavam a porta de acesso para jardim, que levava ao corredor principal da casa, esperando que ele saísse do escritório para ver-me. Fechei os olhos imaginando até onde minha mente desalinhada estava levando com seus disparates. Coloquei o jarro pequeno e finalizado ao centro do mármore e tomei um lugar nos assentos.
─ Dália, julga que sou muito infantil? Aparento possuir algum amadurecimento?
A donzela franziu o cenho assustada e deixou as linhas junto ao tecido pesado de lado ao voltar seu rosto atento em minha direção.
─ Por quê me pergunta isso, senhora? O que aconteceu?
Tudo aconteceu, pensei. A sensação de escassez no peito relutava em laçar-me no breu do meu próprio medo. Uma camada densa de tormento escorria em minhas entranhas e fazia querer repugnar o que só existia em minha mente. Um forte desgosto de ser quem eu era. Como alguém conseguia odiar tanto a si? O amor próprio deveria ser vital para viver, mas por que tão difícil? Convicções são essenciais, mas ficam escassas quando se sentem repudiadas. O meu medo em ser ou agir seria resultado do ódio alheio no qual fui alvo por tantos anos?
─ Às vezes pensam que não tomei as decisões certas e que não tenho forças o bastante para enfrentar certas situações da vida. Não tenho liberdade para viver minha dor ou chorar minha amargura. Como posso ser feliz se não permitem que eu também seja triste? Jogaram tantas pedras em mim quando mamãe se foi. No luto, eles se importam apenas com a cor da roupa, mas o enlutado não pode sofrer sua perda. Por que tão hipócritas?
─ Nenhum de nós é forte o bastante para tudo. Às vezes caímos, mas só assim aprendemos a levantar. Sobre o julgamento, pessoas são assim, tem prazer em decidir pelo outro, não por si.
─ Quando aprenderei a lidar com a vida? Não tenho nem a liberdade de lamentar a morte dela. Sou a única filha de um marquês. Meu casamento é um fracasso. O Kim é imprevisível. Meu pai não sabe nada do que acontece comigo. Toda a nobreza me despreza. São fatos, eu sei, mas, porque não consigo lidar com elas? Sinto-me fraca. Não deveria já ter me acostumado?
─ Você conseguiu lidar com seus problemas e superou isso por anos, sofreu sua perda e refez sua vida. Se isso não for coragem o bastante, então não sei o que é. Poderia estar chorando agora naquele quarto, mas está aqui refletindo e tentando encontrar um caminho. Não se despreze tanto.
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MARQUESA • kth
Hayran KurguCONCLUÍDO Ele era o mais novo, um sorriso cativante e um olhar sedutor, sempre se mostrou inconsequente e despreocupado de seus deveres como terceiro filho de um duque. Mas as coisas mudaram quando seu pai e seu irmão decidiram contrair um matrimôni...