A música está tão alta que até o meu coração a ouve e palpita ao ritmo dela. A Margarida, a Francisca, o Alexandre, a Teresa e o António são os mais próximos de mim. Consigo ver nos seus olhares a alegria do momento e parece que todos fomos contagiados com esta sensação. Não interessa se está frio, calor, chuva ou neve. Só importamos nós, é o nosso momento. Como nós existem outros tantos grupinhos, cada um luta para ocupar mais terreno que devia ser de todos.
A verdade é que ali somos todos iguais, adolescentes que têm o coração a palpitar ao mesmo ritmo que o meu, ao mesmo ritmo que a música. Ali todos somos felizes, cada um expressa essa felicidade à sua maneira, mas todos estamos à procura do mesmo. Procuramos a sensação que referi à pouco, aquela que nos enfeitiçou. Sem problemas, sem pressões, sem dramas, só precisamos uns dos outros. Naquele sítio não há diferenças, há pessoas que não querem pensar no que existe para lá disto. Dá para descarregar todo o fardo e dançar em cima dele.
Esta fase é um jogo, mas até nele existe uma casa de "refúgio" e lá não há competição como no resto jogo. Este lugar é essa casa. Passamos os dias a competir uns contra os outros, mostrar que somos os melhores, mas à noite não. À noite somos todos movidos pela mesma onda, que nos leva a todos ao mesmo porto. Um porto que esperamos que seja seguro.
A noite tenta mostrar-nos que somos os "donos do mundo" e podemos tudo. A noite omite os detalhes mais importantes. Ainda somos ingénuos e não reconhecemos isso então acabamos sempre por ser enganados. Ao estarmos convencidos destes nossos poderes de posse, somos absorvidos para um remoinho. Depois de estar dentro dele é impossível sair e o que nos sobra são são as consequências das decisões erradas que tomámos durante a noite.
IC
