Capítulo 4 - Ajagunmale

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Capítulo IV
"Ajagunmale"

☆I
Tinha os olhos da cor de mel,le, lembrava as vezes de uma garota muito cafona na época de escola que insistia em chama-lo "Príncipe dos olhos ambar". As vezes ele ria sozinho lembrando como esta garota havia gasto
Seu latim atoa. Contudo gostava de seus olhos  era a unica parte de seu corpo que não tinha envelhecido, mesmo a pele das pálpebras e das lateterais não tinham dobras ou rugas ainda.
Sandara retirou a capa do búfalo, a enrolou com cuidado,  depois as calças de seda negra que usava, adentrou as águas fria do Rio * Ajiradé* sentindo a pele nua refrescar conforme mergulhava.
Fazia muito tempo que não pensava naquelas coisas, até mesmo grandes seres cheios de sabedoria o haviam aconselhado a não pensar no imutável passado. Mas seu peito já a algumas horas doía, ardia de saudade de um rapaz que não via a onze anos. As vezes do nada erguia a cabeça e olhava para o sul como se sentisse que o rapaz estava lá. Mas como poderia? Isso era impossível, completamente impossível que Edmundo estivesse ali.
Havia um conflito de sentimentos, parte de Sandara sentia uma enorme vontade de ver o jovem, queria abraça-lo, dar a ele os beijos que nunca pôde. Uma outra parte de si tinha medo deste encontro, sabia que Edmundo o admirava, mas isso anos atras quando ele era um homenzarrão forte, mas agora o que via ali no reflexo das águas era nada além de um velho. Sandara havia recentemente completado cinquenta e dois anos, seu cabelo já era cheio de mechas grisalhas bem como os pelos de seu peito. O que aquele rapaz, que pelos cálculos devia ter agora vinte e nove anos, iria querer com ele? Provavelmente ele já era um casado e feliz.
A criação de Sandara havia incutido nele a ideia de que o amor é somente para os jovens, que é na juventude que se vivem os romances pois apos uma pessoa virar a curva da metade de sua vida isso já não era possível.
Mas isso não o impedia de sonhar.
Soltou o corpo e então boiando na margem do Rio calmo ele olhou para cima e viu reluzir no céu aas oito luas brancas reluzentes e por um segundo se esqueceu de que não eram luas e sim os outros oito Orun's. A vocês meus caros eu pergunto, o que acham que Sandara sentiria no peito se soubesse que naquele exato momento a pessoa que mais amava no mundo estava ali naquela menor das luas que ele tão atentamente fitava? Eu não sei dizer, mas acho que seria um sentimento bom de sentir. Porém, cego para todos esses assuntos ainda não revelados, Sandara olhou para as luas apenas admirando suas cores e belezas, então
fechou os olhos e adormeceu.

A lembrança o atingiu em cheio, começou enevoada mas logo se tornou clara, um sonho vívido.
De madrugada acordou com aquela vontade de fumar, abriu a janela do quarto deixando a luz alaranjada do lampião da rua quebrar a escuridão, era noite fria mas mesmo assim e se encostou ali ao lado da janela, uma perna sustentando o peso do corpo, a outra dobrada com o pé na parede, o cinzeiro apoiado na coxa e enquanto tragava lentamente. Foi então que um pequeno pombo pousou na janela, não um pombo de rua comum, este era branco com graciosas manchas cor de pessego nas bochechas, fitava Sandara com grandes olhos cálidos de cor vermelha como o sangue.
— Pru pru... — Sandara gorjeou em zombaria.
— Búfalo Sandara — a voz sussurrada se fez ouvir, o pombo falava porém não com voz sonora, o que fazia era transmitir suas palavras diretamente ao espírito do homem diante de si — não me tome por qualquer coisa diferente da minha real natureza.
— Então revele quem é para que eu o trate com a deferência que merece.
— Sou *Bambó*, mensageiro de um dos quatrocentos Orixás.
— Eu só trabalho com nomes. — Sandara deu mais um trago no cigarro.
— Eu sou servo de alguém a quem valhe a pena respeitar. Não revelarei nada além deste convite. Tu, Búfalo Sandara, herdeiro do sangue divino, aceitas o convite para uma audiência com um altíssimo?
— Uma audiência? Porquê motivo um Orixá quer ter comigo?
— Sou só o mensageiro. Aceita ou recusa?
Sandara pensou por um momento, Enobária já havia contado que os Orixás, seres divinos mas que haviam criado laços fortes com a natureza, tinham como seus símbolos alguns animais, e estes animais dotados do *axé*da divindade a qual pertenciam era munidos de intelecto para assim servir com mais utilidade. O pombo ali parado de fato não parecia um pombo, tinha penas e bico como todos tem porém a soberba que emanava era o diferencial. De quem seria ele? Bom, é bem verdade que muitos orixás gostam de pombos brancos. Sandara arregalou os olhos, entendeu porque haviam mandando um pombo, ele era neutro, afinal se fosse um cisne, uma borboleta, um cágado, uma martim-pescador e outros bichos já demarcados seria fácil descobrir quem o mandara.
— Isso é algum tipo de segredo de estado? Missão secreta?
— Ohun ti o niyelori jẹ aṣiri nigbagbogbo —  pronunciou o pombo cheio de orgulho.
— "O que é precioso é sempre segredo" — Sandara traduziu automaticamente dentro da mente, então abriu os labios e falou — Aceito é claro, espero que seja algo bom.
— Tem alguém vindo. Lhe informo dos detalhes em outro momento. — o pombo bateu asas e alçou voo.

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