Enfim a paz.

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            Depois que levou Montsserrat em casa, Castiel voltou para seu flat. Apesar de ter tido uma noite agradável com a ruiva, estava cansado demais para prolongá-la por muito tempo. Afinal, os ensaios, a sessão de autógrafos e o show da noite passada, o tinham deixado acabado. Tudo o que precisava, era de um bom descanso, para aguentar o tranco do dia seguinte.

No entanto, ao chegar em casa, reparou em um carro estacionado na porta. Um veículo importado, preto, que ele já tinha visto em algum lugar, mas não lembrava onde. Aquilo já lhe ascendeu um sinal vermelho, deixando-o ressabiado. Quem estaria em sua casa, durante sua ausência? Debrah teria recebido amigos sem avisá-lo? Se este fosse o caso, teria uma conversa séria com ela. Afinal, odiava que visitas fossem ao flat quando ele não estava.

Estacionou seu carro, saindo dele em seguida e indo em direção as escadarias que levariam à entrada da residência. Era impressionante como seu bom-humor parecia desaparecer, apenas em pensar nas ações de Debrah. De todo o modo, não iria permitir que aquilo continuasse. A garota tinha que entender que aquela era sua casa! Era ele quem mandava ali. Nada deveria ser feito naquele lugar, sem sua permissão.

Levou a mão à maçaneta, estranhando que a porta estava trancada. Não entendia o que a levaria a trancar a porta de casa, quando era visitada por alguém. Afinal, Debrah jamais tinha feito isso antes. Por um momento, Castiel chegou a se preocupar com ela, visto que aquela era uma atitude incomum. Debrah estaria tentando se proteger de alguém? Quem estaria tentando entrar na casa? Não havia tempo para divagações! Precisava entrar e ver se estava tudo bem.

Castiel tateou pelos bolsos em busca da chave, até finalmente encontrá-la em um chaveiro com o logotipo de sua banda. Não demorou a enfiar a chave na fechadura, a girando ali. Mas, antes que pudesse abrir a porta, tentou ouvir alguma coisa ao lado de dentro. Tudo estava num silêncio absoluto! Nem mesmo Panqueca latia! Estranhou muito mais, já que o cão sempre vinha correndo animado ao seu encontro. Novamente aquele alerta pareceu soar em seus ouvidos, enquanto Castiel entrava na casa.

Preferiu fazer silêncio, receando que houvesse alguém estranho ali. Mas, tudo estava em ordem. Cada coisa parecia em seu devido lugar. Não havia nada revirado, ou qualquer sinal de destruição. Aquela situação estava ficando cada vez mais estranha.

Não havia nem sinal de Debrah, Panqueca, ou de qualquer outra pessoa na casa. Começava a se perguntar o que de fato, teria acontecido. Porém, ao caminhar pela casa, pôde ouvir gemidos abafados, um masculino e outro feminino, vindo de seu quarto. Ele franziu o cenho, começando a caminhar apressado em direção ao cômodo.

Seu coração acelerava, a garganta secava. Queria desesperadamente que estivesse enganado, a respeito do que imaginava estar acontecendo em sua casa. Queria ser capaz de confiar em Debrah! Queria ser capaz de acreditar que ela jamais trairia sua confiança outra vez. Porém, assim que chegou ao quarto, encontrou as roupas da namorada jogadas ao chão, assim como roupas masculinas, que sabia perfeitamente não serem suas.

Ele ainda ouvia os gemidos ecoarem cada vez mais altos, enquanto ia erguendo os olhos até encontrar sua cama. A palidez que havia em seu rosto outrora, havia dado lugar ao um rubor intenso, causado pela ira que o invadia. Ali, a sua frente, em sua cama, Debrah estava com outro homem.

Castiel ainda ficou atônito por alguns segundos, sentindo a raiva o queimar como o fogo do inferno, que consome as almas profanas. Seu corpo tremia, enquanto sentia a raiva crescer. Não acreditava no que estava vendo.

— DEBRAH! — Ele gritou, no ápice de sua raiva.

A garota ao ouvir a voz de Castiel, ficou pálida imediatamente, empurrando o homem que estava sobre si, tratando de se cobrir com os lençóis. — G-gatinho?! Achei que ia chegar mais tarde! — Ela dizia extremamente desestabilizada, tentando ocultar sua nudez, esboçando um olhar apavorado.

Ele se aproximava da cama, em passos rápidos e pesados, contorcendo suas feições em um semblante repleto do mais intenso ódio. Nojo! Era isso o que sentia, ao ver Debrah na cama com outro. Porém, o asco se tornou maior, quando ele viu quem era o cara que havia dormido com sua namorada. Era ninguém menos que o produtor de sua banda. O filho da puta, que cuidava de sua carreira! Aquilo o enfureceu mais ainda.

—NÃO ME CHAME DE GATINHO, SUA VADIA! ENTÃO É ISSO O QUE FAZ DURANTE MINHA AUSÊNCIA?! — Ele indagou, ainda aos berros, agarrando Debrah pelo braço e arrancando-a da cama.

— Castiel, por favor! Eu posso explicar! — Ela disse, irrompendo em lágrimas, enquanto ainda tentava cobrir o corpo com o lençol.

— POUPE SUAS LÁGRIMAS, DEBRAH! EU NÃO CAIO MAIS NESSA! — Ele berrou totalmente descontrolado, empurrando Debrah, fazendo-a cair no chão. — EU VOU SAIR E QUANDO VOLTAR, NÃO QUERO MAIS VER NENHUM SINAL SEU NESTA CASA! PEGUE SUAS COISAS E SUMA! — Ele agora se virava para o produtor, com o mesmo ódio. — E QUANTO A VOCÊ, ESTÁ DEMITIDO! NUNCA MAIS APAREÇA NA GRAVADORA, OU EU MESMO O EXPULSAREI DE LÁ A BASE DE SOCOS! — Castiel apontava para o produtor, que totalmente atônito apenas colocava rapidamente suas roupas, sem ao menos conseguir dizer uma só palavra. Debrah, no entanto, tinha muito mais a perder, do que o produtor da banda. Precisava dar um jeito de reverter a situação.

— Gatinho, ele me atacou! Por favor, acredite em mim! — Ela ainda tentou, chorando copiosamente, enquanto se agarrava a perna de Castiel.

— EU NÃO VOU CAIR NA MESMA CONVERSA DUAS VEZES, DEBRAH! SAIA DA MINHA CASA! EU NÃO QUERO VER TUA CARA NUNCA MAIS! — Ele não sentia nada, a não ser uma raiva intensa. Se pudesse, arrebentaria aqueles dois. Mas, se lembrava da última vez em que deixara a raiva extravasar. Acabara preso. Não, aquilo não era uma boa ideia. Apenas se limitou a olhar com desprezo para Debrah e para o produtor, antes de cruzar a porta do quarto. — Sumam da minha frente e nunca mais apareçam. Eu posso fazer uma besteira. — Ele disse, ainda enfurecido. Em seguida, saiu da casa, tentando ao máximo controlar a raiva. Precisava sair para espairecer e esperava não encontrar Debrah quando voltasse.

Enquanto Castiel saía de casa sem um rumo certo, Lysandre e Annelise celebravam seu noivado, no café. O lugar havia sido fechado mais cedo, apenas para receber os poucos convidados que teriam. Nada além de Rayan, Agatha, Nina, Leigh, Rosalya e Chani. Apenas pessoas selecionadas a dedo e que eram do agrado dos noivos. Annelise e Lysandre queriam que aquela noite fosse perfeita, mesmo com o frio cortante, que era trazido pela chegada do outono.

O casal parecia feliz, enquanto brindava com os amigos, se valendo de taças cheias de champanhe, que era beberricado aos poucos. Aquela, seria uma das noites mais felizes de suas vidas! Lysandre e Annelise sabiam que era apenas o início de sua longa caminhada juntos. Estavam felizes por tornar isso oficial, diante de pessoas queridas.

Castiel, por sua vez, após caminhar por tempo indeterminado, acabou chegando ao café. Não fazia ideia de como chegara ali, ou até mesmo a razão pela qual caminhara até aquele lugar. Afinal, a última vez que pisara ali, destruíra a cozinha de Annelise e quase a agredira. De fato, envergonhava-se desse ocorrido, desejando que jamais tivesse feito aquilo.

Ainda assim, ele caminhava em direção ao café, talvez sendo atraído pelas luzes que ainda estavam acesas em horário tão atípico. Ao aproximar-se mais, vislumbrou através da janela, a confraternização que acontecia. Não pôde deixar de sentir uma pontada no peito, enquanto vislumbrava Annelise e Lysandre abraçados, esbanjando sorrisos largos. Mas, era algo diferente das outras vezes em que os vira juntos. Dessa vez, não havia raiva, ciúme ou ressentimento. Apenas, tristeza. Arrependimento. Culpa.

Ela estava tão feliz! Tão sorridente! Jamais estivera assim, enquanto viveu ao seu lado. Era nítido que ela jamais seria feliz consigo, já que seu coração sempre pertenceria a Lysandre. Isso se tornava cada vez mais claro, enquanto Castiel através da vidraça, os observava, mantendo uma distância segura. Naquele momento, ele apenas se limitou a sorrir. Um sorriso triste, em um repuxar nos cantos dos lábios. Mais do que nunca, entendia seus erros e aceitava as punições trazidas por eles. Em seu íntimo, naquele momento, apenas desejou genuinamente que Annelise e Lysandre fossem felizes. Em seguida, virou as costas, começando a sair dali.

Todavia, alguém notara sua presença. Lysandre, ao lado de dentro da cafeteria, vislumbrara a silhueta de Castiel ao lado de fora. Se perguntava o que o ruivo fazia ali, principalmente após vislumbrar a tristeza em seu rosto, mesmo por pouco tempo.

Lysandre se afastou carinhosamente de Annelise, ainda olhando em direção a vidraça, por onde Castiel ia sumindo aos poucos. — Eu já volto, querida. Há algo que preciso fazer. — Lysandre disse, antes de começar a caminhar para fora do café. Annelise, por sua vez, o olhava sem compreender muito bem o que estava acontecendo. Tudo o que podia ver, era Lysandre correndo para fora do café, sumindo de suas vistas.

Castiel ainda se afastava dali, metendo as mãos no bolso do casaco de couro. Sentia-se um verdadeiro idiota! Alguém que novamente foi manipulado e que feriu pessoas que jamais lhe fizeram nada. Era difícil não se sentir assim, quando fora enganado por Debrah pela segunda vez, mesmo com todos os avisos que recebera. Ele ainda divagava sobre seus erros, quando uma voz masculina soou atrás de si, um tanto distante. — Castiel! Espere! — Gritou aquela voz, que vinha às suas costas. E, o ruivo se limitou apenas a virar-se para fitar quem estava vindo.

Surpreendeu-se ao ver que se tratava de Lysandre, que corria ao seu encontro, com o braço erguido, em sinal de que queria que esperasse. Castiel parou imediatamente, ainda o olhando um pouco confuso enquanto Lysandre finalmente estava diante de si. — Eu não quero confusão, já estou indo embora. — Castiel disse, já ficando na defensiva. Porém, via nos olhos de Lysandre, que ele não queria brigar também.

— Não se preocupe. Eu também não quero brigar. Apenas, acredito que devamos conversar. — Lysandre disse, no eterno tom calmo, que escapava com naturalidade de seus lábios. — Por quê saiu correndo? — Lysandre indagou, um tanto confuso.

— Bem, eu nem mesmo sei porquê estou aqui. — Castiel respondeu, dando de ombros. — Acho que não sabia mais para onde ir, depois da noite infernal que eu tive. — Ele comentou, um tanto encabulado.

— O que houve? — Lysandre indagou, ainda observando Castiel. Ele parecia desolado.

Castiel suspirou, ainda com as mãos metidas nos bolsos. Não sabia nem por onde começar. — É complicado, cara... — Começou. — Eu fui feito de idiota de novo, pela Debrah. Acabei de pegá-la na cama com outro. — Castiel disse, trincando os dentes. Aquela imagem grotesca não saía de sua cabeça.

Lysandre apenas moveu a cabeça positivamente, franzindo os lábios, enquanto o ouvia falar sobre a infidelidade de Debrah. Não fora por falta de aviso. — Não posso dizer que estou surpreso. Aquela senhorita jamais teve consideração por ninguém, além de si mesma. Eu sinto muito, Castiel. — O rapaz disse, de forma desconsertada. Não era fácil descobrir uma traição, imaginava como Castiel estaria se sentindo, após ser traído duas vezes pela mesma mulher.

— É, eu fui um otário. — Castiel esboçou um sorriso quase ácido, ao olhar para Lysandre. Era foda ver que continuava sendo tão manipulável por Debrah. — Enfim, isso me fez perceber como eu fui injusto com vocês. Você e a Annelise jamais me fizeram nada e eu agi como um cretino. Se eu pudesse voltar atrás, não teria feito o que fiz. Você não sabe como eu me arrependo, Lysandre. Eu sinto muito por tudo o que os fiz passar, espero que algum dia me perdoem. — Castiel disse de forma quase tristonha, tornando a se virar para sair dali. Todavia, Lysandre após ouvir tudo o que ele tinha dito, também se sentiu um pouco mal. Não podia deixá-lo ir daquele jeito.

— Castiel! — Lysandre o chamou. O ruivo virou-se novamente, o olhando. Agora, poderia ver Lysandre sorrindo.

— Você quer entrar? — Lysandre indagou.

Castiel o olhou meio sem jeito, não conseguindo compreender como ele poderia convidá-lo para uma festividade, depois de tudo o que tinha feito. — Está falando sério? — Castiel perguntou, ainda um tanto confuso.

Lysandre ainda lhe sorria, do modo mais amigável possível. Não havia mais sequer um mísero sinal de raiva em seu semblante. — Claro. Como eu poderia comemorar o meu noivado, sem a presença do meu melhor amigo? — Lysandre indagou.

Ao ouvir o que ele tinha dito, os olhos de Castiel marejaram, assim como os dele. Nem em seus melhores sonhos, imaginaria ouvir Lysandre chamá-lo assim, novamente, depois de tudo o que aconteceu. Em um impulso, Castiel o abraçou com força, sendo envolvido pelos braços de Lysandre que também o apertava contra si, em um abraço.

— Eu sinto muito, irmão! — Castiel disse, entre soluços constantes, ainda abraçando Lysandre com toda a sua força.

— Eu também sinto! — Lysandre respondeu, enquanto também chorava. Estava feliz por finalmente ter se acertado com Castiel. Sentia falta de sua amizade.

Annelise que se cansara de esperar pela volta do noivo, saíra para procurá-lo. Porém, congelou onde estava, ao se deparar com Lysandre e Castiel abraçados um pouco distantes de si. Um sorriso terno se formou aos lábios róseos da moça, ao ver que os dois finalmente tinham feito as pazes.  

A roseira e os espinhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora