As 11 cartas do meu pai

A décima primeira carta

Era suposto aquela (a décima carta) ser a última, só que me pediste para escrever outra, pois para ti aquela não parecia ser a última.

Então estou aqui mais uma vez a escrever para ti e espero que essa seja mesmo a última, prontamente quero passar para o próximo passo. Deve ser chato apenas tu leres as minhas ideias, e eu não leio, nem sequer ouço as tuas. Deve ser chato não achas? Por esta razão temos que passar para o próximo passo, onde teremos conversas
mútuas (trocaremos ideias e experiências) e eu vou saber de verdade o que tanto te aflige. Serão muito melhores, não achas?

Tem uma frase que ouço muita gente a dizer, é uma frase muito
popular e que provavelmente tu também já ouviste, a frase é mais ou menos assim: “Enquanto alguns dormem e outros se divertem, a gente trabalha. E quando eles acordam os outros vão descansar a gente também trabalha”.

Essa frase chega a ser meio engraçada. É como se fossem máquinas, ninguém pode trabalhar tanto, trabalhar tanto é prejudicial. Divirta-te, durma, descanse, isso é imprescindível, tens que equilibrar as situações.

Viva o agora (presente), pare de pensar sempre no amanhã, para todos os dias há seus males, aproveite as coisas que o presente oferece. Logo em breve já não terás tempo para diversão e várias outras coisas que atualmente podes fazer (vivenciar). Por esta razão
divirta-te, trabalhe (estude), equilibra as coisas e verás que até descansar é bastante útil e benéfico quando é usado da maneira certa (moderada).

E outra coisa que quero salientar é sobre comparar-se com os demais.

Ninguém é perfeito, todos têm seus defeitos, problemas, medos e angústias. Por isso não tem sentido estar sempre a comparar-se ao fulano ou ao sicrano, cada um tem suas qualidades. Todos têm suas
vitórias no devido tempo.
É como diz aquela metáfora: “Não compara sua vida com a de outras pessoas. Não há comparação entre o Sol e a Lua, cada uma brilha quando é sua hora e brilham de diferente modo”.

Não ligue muito as opiniões das pessoas. Elas vão te julgar e vão
testar sua grandeza com base nos teus bens materias. Não se
preocupe com esses julgamentos. É como eu disse numa das cartas anteriores “tu és único”, então não se compare, não existe ninguém igual a ti, tu és exclusivo.

Apesar de sermos todos seres humanos, sabes o porquê digo sempre “tu és único”? Porque sentimos, pensamos e agimos de um jeito muito singular. Por isso é incongruente fazer comparações.

Ao invés de comparar-se aos outros, compara-se com quem tu eras ontem e quem és hoje, analisa as suas ações, atitudes e até mesmo os pensamentos, valoriza o que já tens (tuas atuais conquistas) e multiplica o foco, força e fé. Não tenhas pressa, mas também não deixe tudo para depois, pois o tempo não pára.

Sendo esta a última carta, deixa aproveitar dizer algo que já devia ter dito há bastante tempo.

Sei que o pai parece perfeito e que provavelmente aos seus olhos sou visto como um herói. Porém isso não é algo propriamente verdade, o
pai também tem seus defeitos. Também penso em desistir dos sonhos (ainda não realizados), também choro e caio, mas apesar de tudo isso nunca desisto.
Há vezes em que fico desanimado, deprimido e até mesmo ansioso. E é nesses momentos que preciso de alguém, para exprimir minhas
angústias, dores e preocupações, ou apenas para abraçar e saber que aquele alguém estará sempre comigo nem que o mundo todo esteja contra mim. Alguém que me faça lembrar que desistir não é opção.

Uma vez que ninguém é tão alguém ao ponto de não precisar de ninguém. Não importa os defeitos, as qualidades, os bens materias, a experiência de vida (idade), todos precisam de alguém. Pois há dias
em que a minha chama (ânimo, vontade, denodo...) apaga e preciso de alguém para reacendê-la.

Espero que as cartas tenham sido muito úteis e que nunca te
esqueças “estarei sempre aqui para ti”.