Capítulo único

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Estava tomando um ar fresco na varanda quando ouvi um vidro quebrar na parede do apartamento acima do meu. Automaticamente olhei para cima, mas obviamente não conseguia ver nada. Tive que forçar o pensamento para lembrar quem morava lá, e acho que nunca o vi, na verdade, o apartamento acima é tão silencioso que acreditava estar vago.

Foi um barulho isolado, depois disso o silêncio perdurou e estava quase desconfiando dos meus próprios ouvidos quando escutei a voz de um garoto chorando. Eu deveria ir dormir, estava com sono e teria de acordar cedo por causa do trabalho, mas sabia que não iria conseguir dormir. Por algum motivo estranho, estava se sentindo preocupado com seja lá quem fosse que morasse naquele apartamento.

Então, eu peguei o elevador para o andar acima, não tinha algo exato em minha mente, não fazia ideia do porque se importava com o choro de um completo estranho, ou o que exatamente iria falar quando o encontrasse, mas sabia que não iria conseguir dormir enquanto pelo menos não visse o rosto dele. As luzes do corredor acendiam automaticamente conforme eu passava, meus passos nem sequer faziam barulho e foi quando notei que estava descalço. A minha pressa foi tanta que eu só peguei o casaco por ser a primeira coisa na minha vista, mas nem ao menos coloquei um sapato. Mesmo assim eu continuei andando, até parar na porta do vizinho, já não ouvia mais o choro, mas tinha certeza que era de onde veio o som.

Ao invés de tocar a campainha dei duas batidas fracas na porta, já que não queria alarmar ninguém. E não demorou para abrir, então eu vi o garoto mais bonito que já havia visto na minha vida. Mesmo com a luz quase inexistente eu conseguia ser os pontinhos em seu rosto, o belo par de olhos verdes que brilhavam - provavelmente por causa do recente choro -, seu rosto redondo e seus cabelos verdes bagunçados. Era a combinação do que a partir daquele momento considerei meu tipo ideal.

— olá? - ele me tirou de meus devaneios e me perguntei por quanto tempo fiquei o encarando.

— ah, certo. Eu sou o seu vizinho do apartamento debaixo e... acabei ouvindo uns barulhos e fiquei preocupado.

— eu não ouvi nada, acho que seus ouvidos estão lhe enganando.

Não pude me impedir de encarar novamente, dessa vez para ver os traços da mentira em seu rosto e estava bem claro. Acabei, mais uma vez, perdendo a noção do tempo e meus olhos percorreram seu corpo, os braços cruzados, um Sweater fechado até o queixo e o resto do corpo escondido na escuridão do apartamento.

— obrigado por se importar, senhor, é gentil da sua parte, mas eu tenho que entrar.

— você está certo, está meio tarde, mas eu fiquei curioso pelo barulho- o garoto sobrepôs.

— quem me dera poder lhe explicar sobre o barulho, mas eu não ouvi nada - ele ficou hesitou e engoliu seco antes de acrescentar — Deve ter sido só o vento.

— se o vento ficar muito forte e for difícil de suportar, você pode vir a minha casa.

Ele deu um pequeno sorriso forçando, apenas para agradecer a gentileza e fechou a porta murmurando um boa noite, eu voltei para meu apartamento devagar e pensativo.

...

Midoriya Izuko era seu nome.

Aprendi o nome por ouvir sem querer na entrada do prédio, o porteiro comentou com minha amiga falante, Momo, sobre o fato daquele morador ser o que ele menos vê. Ao que parece, ele passava vários dias dentro do apartamento e só saía para fazer compras.

Então eu estava deitado no chão do meu quarto, aproveitando o piso frio nas minhas costas. Tentava ignorar, mas era impossível não pensar no garoto. Eu não queria me intrometer porque eu sabia que não tinha todos os fatos, mas eu não conseguia suportar a ideia de deixá-lo.

Must've been the windOnde histórias criam vida. Descubra agora