O Garoto Que Eu Vejo

Apenas um espelho

"[...]tenho tendência a acreditar que tudo o que acontece aleatoriamente, está destinado a mim. "

Acordei cedo, como sempre, e se repetirá por mais e mais vezes. Não vi Peter durante a manhã, poderia ser pelo fato do único espelho disponível ser o do banheiro, ou por estar dormindo, se é que ele fazia isto.

Apenas fui trabalhar, e durante o caminho na mesma rota de sempre, percebi uma pequena loja de espelhos. E desci, antes da parada correta, não ficava muito longe da empresa então estava tudo bem. Uma loja bonita, organizada, e repleta de espelhos, pequenos e grandes, finos e redondos, retangular, quadrados... observei todos, um por um e fui ao caixa.

_ Bom dia, vocês poderiam entregar aquele espelho comprido no meu apartamento?_ perguntei ao gerente, que confirmou com a cabeça.

Escolhi um espelho da minha altura, para substituir o quebrado, possuía uma moldura dourada, e detalhes em prata, custou algumas dezenas, mas tudo bem, era como uma roupa de marca para um conhecido próximo.

Paguei com o cartão, dei meu endereço, e segui a pé para o trabalho. Ao chegar lá, Ana me chamou para a sala de reuniões e iniciamos o primeiro dia, apresentando o cliente e seu público alvo, discutimos os objetivos, foi um ótimo começo. Mark pouco falou, afinal a palavra era pela primeira vez toda minha, mesmo sem ter preparado nada, KickGeek era uma loja muito conhecida, falar sobre ela era fácil.

Durou três horas a reunião, e todos estávamos cansados, tínhamos o dia todo para bolar propostas, que seriam apresentadas no dia seguinte. Fiquei por último juntando alguns papeis, Mark também, me ajudava a junta-los, mas nem mesmo nos olhávamos.

_ Foi uma apresentação muito boa!_ disse, e eu balancei a cabeça concordando. _ Dotty, sobre ontem..._ iniciou ele.

_ Tudo bem, eu agradeço pela " carona", e como você disse não tinha como saber que era eu. _ completei.
Ele sentou na mesa de reuniões me olhando fixamente.

_ Se fosse outra pessoa você teria, bem, você sabe... _ disse ele, toda aquela situação não era algo que eu esperasse vir dele, mas ali estava, jogada no chão da sala.

_ Ido para casa juntos? Não sei, se ele fosse interessante, afinal eu estou sozinha._ respondi diretamente, de maneira séria. E ele apenas se levantou, passou a suas mãos grandes sobre seu cabelo, e saiu. Não dava para entender, em um ano tudo o que ele fez foi me deixar mal, mas em dois meses ele quer saber se eu dormiria com alguém que não fosse meu namorado? Não poderia entender nem se eu quisesse.

Após mais algumas horas, eu liguei para Lia para almoçarmos juntas, afinal não tinha noticia dela a uns dias, e precisava de um almoço em paz. Peguei minhas coisas e fui para o restaurante perto do trabalho que sempre íamos, fui caminhando, aos poucos curtindo as pessoas que passavam por ali distraídas com suas próprias vidas, passei por uma vitrine e observei meu reflexo, " O que ele está fazendo agora? ", pensei em voz alta. Parei por segundos e observei, imersa em ideias, fui despertada por uma chuva em meio ao sol. Um motoqueiro passou por cima de uma possa de agua, encharcando toda a minha roupa, um belo combo, almoço e banho, leve um e pague todos. Me virei para ele que já estava longe e gritei inutilmente:

_ OOOOO! Olha por onde anda, criatura!

Acordei dos sonhos com um balde d'agua literalmente. Cheguei ao restaurante irritada.

_ Ei, aqui! Amiga o que houve com você, está poupando tempo e tomando banho de roupa?_ perguntou Lia rindo.

O restaurante estava lotado, e nós ficamos nas mesas de fora, para ficar em contato com o ar livre.

_ Você queria saber da vidente não é? Ela volta daqui duas semanas, ela me ligou avisando. _ disse Lia enquanto saboreava seu espaguete.

_ Duas semanas, está perto, ainda bem! E a Diana?_ disse a ela, que se afogou levemente envergonhada com a pergunta.