O destino desfavorável de Oliver traz um grande homem a Londres para manchar sua reputação
O Sr. Bumble saiu logo de manhã e andou de forma imponente pela High Street até chegar à fazenda onde a Sra. Mann tomava conta das crianças.
– Sra. Mann – falou o bedel –, bom dia.
– Espero que esteja bem, senhor – respondeu a mulher com muitos sorrisos.
– Mais ou menos, Sra. Mann – replicou o bedel –, estou indo para Londres. Está correndo uma ação legal sobre um problema e o conselho indicou-me para cuidar do assunto no tribunal em Clerkinwell.
– O senhor vai de diligência? – ela falou.
– Sim, Sra. Mann – disse o bedel. – Mas estamos esquecendo os negócios, madame. Eis seu soldo paroquial para o mês.
O Sr. Bumble pegou em sua carteira algumas moedas de prata enroladas em um papel e pediu um recibo, prontamente feito pela Sra. Mann. Então, ele perguntou como estavam as crianças.
– Estão bem, obrigada – falou a Sra. Mann. – É claro, a exceção dos dois que morreram semana passada. E do pequeno Dick.
– O menino não melhorou? É uma criança viciosa, com uma rebeldia inata – falou com raiva. – Onde está?
– Vou trazê-lo em um minuto, senhor – respondeu a mulher. – Aqui, Dick!
Dick foi encontrado. Seu rosto foi lavado e enxugado com a barra da saia da Sra. Mann, e então levado até a presença do Sr. Bumble.
A criança estava pálida e magra. A roupa surrada estava solta em seu corpo febril, e os lábios enrugados como os de um velho.
– Qual o seu problema, Dick? – perguntou o homem.
– Nada, senhor – respondeu o garoto com voz fraca. – Eu só gostaria de mandar meu amor para o pobre Oliver Twist, para que ele saiba quantas vezes eu sento e choro pensando em como passa as noites escuras sem ninguém.
O Sr. Bumble olhou para o pequeno da cabeça aos pés com surpresa e, virando-se para a Sra. Mann, disse:
– Aquele vagabundo do Oliver influenciou todos eles!
Imediatamente Dick foi levado e trancado no quarto de carvão, e o Sr. Bumble saiu.
Às seis horas, na manhã seguinte, o bedel assumiu seu lugar na diligência. E, chegando a Londres, jantou, puxou uma cadeira para perto do fogo e pôs-se a ler o jornal.
A primeira coisa que chamou sua atenção foi o seguinte anúncio.
CINCO GUINÉUS DE RECOMPENSA
Um menino chamado Oliver Twist fugiu ou foi levado na última quinta-feira de sua residência em Pentonville e, desde então, não se soube mais notícias dele. O prêmio acima será pago a qualquer pessoa que forneça informações que levem à descoberta do paradeiro de Oliver Twist, ou que coloque alguma luz em sua história prévia, na qual o anunciante, por diversas razões, está interessado.
E então seguia uma descrição da roupa e da aparência de Oliver, com o nome e endereço do Sr. Brownlow.
Com os olhos arregalados, em pouco mais de cinco minutos, o homem pôs-se a caminho de Pentonville.
– O Sr. Brownlow está em casa? – perguntou o bedel à garota que abriu a porta.
A garota respondeu com um bem evasivo Eu não sei.
Mas assim que o Sr. Bumble citou o nome de Oliver, explicando o motivo de sua visita, a Sra. Bedwin, que estava escutando perto da porta, abriu passagem rapidamente.
– Entre – falou a senhora. – Eu sabia que teríamos notícias dele. Abençoado seja!
A garota correu nesse ínterim até o andar de cima e retornou com a ordem de encaminhá-lo a um pequeno escritório, onde estavam sentados o Sr. Brownlow e seu amigo, Sr. Grimwig.
– Então, senhor, veio por causa do anúncio?
– Sim, senhor – respondeu o bedel.
– E é um bedel, não é? – inquiriu o Sr. Grimwig.
– Sou um bedel paroquial, cavalheiros – falou com orgulho.
O Sr. Brownlow balançou a cabeça e retomou.
– Sabe onde está esse pobre garoto agora?
– Não – respondeu o Sr. Bumble.
O Sr. Brownlow pediu que contasse tudo o que sabia sobre Oliver em poucas palavras.
O Sr. Bumble começou a história, dizendo que Oliver era uma criança abandonada, nascida de pais baixos e imorais. Que tinha demonstrado, desde cedo, deslealdade, ingratidão e malícia. E, como prova de que era realmente quem dizia ser, colocou na mesa os papéis que trouxera para a cidade.
– Temo que seja tudo verdade – falou o cavalheiro tristemente, após examinar os papéis. – Ficaria feliz em dar-lhe o triplo do dinheiro se fosse favorável ao menino.
Não é improvável que, se o Sr. Bumble soubesse disso um pouco antes, teria transmitido um colorido diferente à história. Mas era tarde demais e, colocando os cinco guinéus no bolso, retirou-se.
O Sr. Brownlow andou pela sala por alguns minutos, tão perturbado com a história do bedel, que até mesmo Grimwig absteve-se de maltratá-lo mais.
– Sra. Bedwin – falou quando a empregada apareceu –, aquele garoto, Oliver, é um impostor.
– Não pode ser, senhor – falou a velha senhora energicamente. – Ele era uma criança doce, agradecida e gentil, senhor. Eu sei como são as crianças. Tenho cuidado delas há quarenta anos. E as pessoas que não conhecem não deveriam falar nada sobre elas. Essa é a minha opinião!
Foi um golpe duro no Sr. Grimwig, que era solteiro.
– Silêncio! – falou o Sr. Brownlow fingindo uma raiva que estava longe de sentir. – Não quero ouvir novamente o nome desse garoto. Nunca sob nenhum pretexto. Falo sério.
Havia corações pesados na casa do Sr. Brownlow naquela noite.
O coração de Oliver doía quando pensava em seus bons amigos. Foi melhor que não soubesse o que tinham ouvido, ou seu coração teria se partido na mesma hora.